A triste fuga da verdade

Eduardo Klaue

Depois de minha aposentadoria como professor universitário e empregado do setor público, comecei uma nova fase, agora na área empresarial. Nestes últimos anos, tenho percorrido muitas cidades em todo o Brasil, algumas de passagem, outras um dia, algumas uma noite… Um almoço, um jantar entre um compromisso e outro.  

Procuro sempre no meio de uma conversa e outra, perguntar para as pessoas quais as coisas que mais lhes agradam e lhes desagradam em sua cidade, em seu bairro, em sua rua… Em seu trabalho.

Procuro também saber que novidades existem por ali. O que vem dando certo que ninguém acreditava funcionar e o que deu errado apesar de todos acreditarem no seu sucesso.

Realmente daria até para escrever um livro, pois costumo conversar com todos os tipos de pessoas, independente de cor, credo, cultura ou situação econômica e social.

Observo também, que muitas pessoas ficam entusiasmadas quando o assunto lhes é de agrado ou largos elogios lhes são apresentados, mas fogem da conversa quando o assunto contraria seus interesses ou busca acrescentar subsídios em sua forma de agir ou de tratar os outros à sua volta.

Percebo que muitas vezes isto se dá por uma atitude de fuga, na qual preferem ser enganadas a ter que enfrentar a realidade. É, não olhe agora, mas muitas pessoas pertinho de você, neste exato momento, estão tentando fugir dela.

Isto é muito ruim, pois geralmente nesta fuga, acabam se cercando de aproveitadores que lhes sugam como vampiros tudo o que tem, até o dia em que nada mais possam levar de vantagem, e as trocam por outras, mais vantajosas, deixando-as no abandono a navegar solitárias em um mar de mentiras e enganações que criaram a sua volta.

Cegas por si mesmas, sofrem agora então, o impacto cumulativo de anos de enganação, e o tão temido encontro da verdade.  É como se o mundo caísse em suas cabeças da noite para o dia.

E por falar em fuga da verdade… “Era uma vez uma conhecida história árabe, que retrata uma passagem na vida de um sultão muito orgulhoso que uma bela noite sonhou que havia perdido todos os dentes.

Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho. – Que desgraça, senhor!  Exclamou o adivinho. – Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade. – Mas que insolente! Gritou o sultão, enfurecido. – Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui! Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem açoites.

Mandou que trouxessem outro adivinho, o mais poderoso e incontestável, e lhe contou sobre o sonho. Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe: – Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes. A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho.

E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado: – Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo por que ao primeiro ele pagou com cem açoites e a você com cem moedas de ouro.

– Lembra-te meu amigo, que tudo depende da maneira de dizer as coisas. Ele não queria saber a verdade, apenas queria que alguém lhe dissesse o que ele queria ouvir sobre a verdade, e foi isto que fiz.  Respondeu o adivinho…”.

É meu amigo leitor, mesmo que custem açoites no começo, a verdade sempre prevalecerá sem suas máscaras no final. A diferença entre enfrentá-la e fugir dela, irá determinar o sucesso ou o fracasso na trajetória de vida de cada um.  

Um fraterno abraço do Klaue

E-mail:  eduardo.klaue@klaueconsulting.com.br   

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