Um – belíssimo – jogo de palavras

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A política brasileira é uma terra fértil da verborragia. Aliás, não apenas lá é possível perceber a plenitude e a dualidade da língua portuguesa. O país é profícuo quando se trata de enrolar. E, na votação do Projeto de Lei 57 na sessão da Câmara Municipal segunda-feira (12), mais uma vez foi possível observar o – belíssimo – jogo de palavras usado pela atual gestão municipal para aprovar por maioria um projeto que, na prática, servirá mais para acomodações políticas e uma distribuição de funções gratificadas que necessariamente mudanças na forma de fazer o serviço público funcionar.

Houvesse realmente um desejo de melhoria, certamente a proposta encaminhada pelo prefeito de Toledo ao Legislativo permitiria, por exemplo, votos em destaque ou a possibilidade de emendas menos exaustivas. Ao contrário, o projeto foi encaminhado de uma forma quase impossível de ser alterado dentro da Câmara, numa demonstração muito clara na forma de administrar de quem hoje está no poder. As boas ideias são apenas aquelas advindas das nobres cabeças pensantes, como Toledo brotasse apenas de 1º de janeiro de 2021 para cá e tudo feito até hoje não tivesse existido ou fosse desprezível.

Na visão da administração e de seu séquito de seguidores dentro da Câmara, não haverá extinção de secretarias, mas sim junção…não haverá cortes, mas sim ajustes…não haverá aumento de gastos, mas sim investimento na estruturação administrativa…não será uma reforma, mas sim uma reestruturação. Palavras, palavras, palavras e mais palavras ditas ao vento sem o menor constrangimento de ferir a inteligência alheia de quem ainda analisa com critérios as mudanças propostas.

Percebam como as palavras podem ser usadas de maneira tão distinta. Fome, no dicionário, significa escassez extrema, portanto, para uns fome é simplesmente não ter o que comer, enquanto para outros é simplesmente o fato de não ter algo, não necessariamente comida. Por exemplo, há pessoas com fome de poder e quando este ainda não é suficiente, criam-se formas de aumentá-lo até ao ponto em que não exista mais nada para ser conquistado ou então até quando a sociedade enxergue a realidade, algo que pode demorar demais e já ser muito tarde.