Um discurso para se pensar

2

Diante do acirramento de opiniões ideológicas no Brasil nos últimos anos, onde as paixões partidárias ultrapassaram os limites do bom senso, da lógica e até mesmo da administração pública, as declarações homofóbicas dadas esta semana pelo vereador Donaldo Seling (Cidadania), durante sessão da Câmara de Maripá, não chegam a ser uma surpresa, até porque manifestações profanas e insanas também são realizadas sem o menor constrangimento. Seling disse o que pensa. Na hora errada e no local errado. Donaldo Seling frisou ser do tempo “que homem é homem e mulher é mulher. O partido avisou que abriu processo disciplinar, embora isso lá não signifique muita coisa.

Numa democracia, o vereador tem todo direito de falar o que pensa, desde que respeite o contraditório e não ultrapasse os limites legais. Há quem defenda ter Donaldo Seling cometido o crime de homofobia. Há quem concorde com ele. Há quem tenha visto a fala apenas como exagero, sem ser necessária maior polêmica.

O discurso do vereador precisa levar as pessoas da nossa região a, pelo menos, refletirem sobre, pois não deixa de ser sim um discurso homofóbico, proferido num ambiente no qual a defesa dos direitos de todos deveria ser a tônica e não o tom excludente utilizado pelo vereador que, sim, tem todo direito de pensar da forma que melhor lhe convém e seguir os valores nos quais acredita, todavia, sem ofender a quem pensa de forma diferente.

Dito de outra forma, em outro momento, quem sabe as palavras do vereador passariam em branco. O que também não deixa de ser algo a se pensar, afinal, o Brasil está se tornando um país perigoso. E não apenas sob a ótica da (in)segurança pública!

A inclusão de políticas públicas visivelmente com cunho ideológico – tanto de um lado, quanto de outro – é nociva ao desenvolvimento de uma sociedade plena e consciente de seus direitos e deveres, sendo este um dos motivos geradores de comentários como esse.

Homofobia, racismo, machismo, entre tantos outros ‘ismos’ comuns em qualquer sociedade sempre existiram e sempre existirão. A diferença está em como a sociedade lida com esses e outros problemas. Aí está a diferença entre um país avançado e um que patina a vida inteira sonhando ser grande, mas que de vez em quando tem em seus líderes discursos são minúsculos.