O mundo não vai parar…

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Mais um dia e mais uma briga começava. O filho, com dezoito anos, se sentia incompreendido pelo pai, pois acreditava que ele não sabia nada do mundo atual. Para ele, o pai não entendia a importância das redes sociais, não via a as amizades do mundo virtual com bons olhos e não aceitava que ele se divertisse com os jogos. Por outro lado, o pai se ressentia porque o filho não fazia as tarefas, não colaborava com a organização ou com a limpeza da casa e, além de tudo, não estudava e não trabalhava. Os dois viviam sozinhos desde que a mãe os deixara logo que o filho tinha seis meses. Em todos esses anos sempre viveram bem, entretanto, de uns tempos para cá, nada mais funcionava. A cumplicidade antes presente em todas as atividades que faziam juntos agora se chocava num antagonismo perceptível na presença um do outro. Depois de algumas acusações para lá e para cá o filho disse:

– Pai você não me entende. Sou um adolescente e preciso do meu espaço. Da minha privacidade. O mundo não me entende!!!

Uma cena que, provavelmente, se repete em muitos lares pelo mundo, geração após geração, na relação entre pais e filhos. Não há nada de novo no conflito. O pai admitia que não entendia o filho nessa fase, porém o que o assustava era a sua postura frente à vida.

Onde já se viu? Adolescente com quase vinte anos? Com essa idade eu já namorava sério e trabalhava. Meu avô já era responsável por manter uma família aos vinte... Retrucou irritado.

O mundo não te entende? E quem disse que o mundo precisa te entender? O mundo não vai parar por tua causa… Complementou.

O pai disse que a conversa terminou por ali. Assim, passaram os últimos cinco dias sem conversar. Escutei o desabafo do pai. Não disse nada, mas o meu diálogo interior foi ativado. Sem julgar um ou outro, certo ou errado, nem bom ou ruim, concordei com o pai quando ele disse que o mundo não vai parar para o filho, assim como não parou para ninguém. O mundo não parou para faraós, imperadores, bruxos ou feiticeiros, assim como não parou e nem vai parar para os ricos ou famosos da atualidade ou do futuro. O mundo simplesmente é e segue o seu caminho com você ou sem você. Portanto, acredito que cabe a cada pessoa entender o mundo para nele se posicionar. Qual é o meu papel no mundo? O que posso contribuir? O que espero receber? Creio que entender que o mundo não vai parar por minha causa é fundamental para saber ser e estar nele, fazendo dele um lugar melhor com a minha presença. No ambiente organizacional não é diferente. No olhar da organização para o indivíduo, saber avaliar quais as competências, características e perfis individuais podem contribuir para que a equipe seja melhor, mais competitiva e que entregue mais resultados é essencial. Na perspectiva do indivíduo para a organização, saber avaliar onde posso contribuir mais para estar bem com os meus objetivos é um passo dado rumo a realização pessoal. Trata-se de um processo de retroalimentação positiva. Em suma, entender que o mundo não vai parar por ninguém e que ele, igualmente, não é justo, permitirá que cada um possa se posicionar no mundo sendo justo.

Enfim, voltando para o diálogo entre pai e filho, estou seguro que os dois vão se entender outra vez, porque afinal o sentimento de amor existe entre eles. O exercício de entender o mundo pode tardar um pouco tanto para pai como para filho, porém os primeiros passos, talvez, passem pela importância de arrumar o próprio quarto e de ajudar na organização da casa. A saída é para dentro, porque o mundo não vai parar.

Moacir Rauber

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