Qual é o propósito do seu ritual?

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A conversa com o diretor não estava muito amistosa, porque ele não concordava com a perda de tempo dos rituais defendidos e praticados por tantas pessoas. Para ele, rituais, celebrações ou exercícios de meditação, oração ou cerimônias não faziam sentido. Dizia:

– Precisamos de ação. É muito tempo perdido com essa mania de meditação ou sei lá o que mais…

Logicamente que não se pode viver sem ação, porém, os rituais foram criados por alguma razão e estão presentes no trabalho, esportes, homenagens, mudanças, nascimentos, partidas ou em momentos importantes da vida. E qual momento da vida não é importante? Os rituais são parte essencial da vida humana definidos como “um conjunto de gestos, palavras e formalidades, geralmente imbuídos de um valor simbólico, cuja performance é, usualmente, prescrita e codificada por uma religião ou pelas tradições da comunidade” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ritual). O ritual, muitas vezes, está ligado a questões religiosas, entretanto, é muito mais do que isso. Acredito que o ritual está presente sempre que uma pessoa decide parar, reconhecer-se, contextualizar, refletir e agir. Ao parar e olhar para si na sua relação com o momento, a pessoa se permite conectar com o propósito daquilo que acontece. Nos rituais de nascimento, de passagem ou de mudanças mais representativas na vida há um reconhecimento de si e do outro por meio de gestos e simbolismos. Os rituais podem estar presentes em momentos mais simples como ao sair de casa, ao iniciar um procedimento no trabalho, antes ou durante uma competição esportiva. Entender essa conexão transforma aquilo que fazemos em sagrado. A parada reflexiva nos conecta com o contexto e nos permite agir com a consciência da relevância daquilo que se faz ou acontece. Fala-se de conectividade e conexão com o outro que nos leva a um movimento de transformação e reinvenção. Um ritual traz em si método e exige movimento, por isso facilita a expansão da pessoa com o foco naquilo que se vive. A presença da mentalidade de crescimento é uma tendência nos rituais e o líder que aprender com eles pode transformá-los em elementos de produtividade, competitividade, segurança, engajamento e humanidade. No surgimento da gestão mecanicista se perdeu parte da nossa humanidade ao não darmos o devido valor aos rituais. Tudo deve ser feito para ontem. Desse modo, no momento que se deixa a era industrial e se avança para a sociedade do sentido se pode (re) criar a humanização ao revalorizar os rituais que indagam sobre o “por quê” e o “para quê” daquilo que se faz.

Enfim, entender os rituais para que as pessoas encontrem o sentido daquilo que fazem e do que acontece fará com que as organizações tenham colaboradores conscientes de seu papel. É o reconhecimento da importância de um ritual como método que gera movimento, porque nele você (1) para; (2) conecta-se; (3) contextualiza; (4) reflete; e (5) age para expandir. No trabalho, nos esportes, nas homenagens, nas mudanças, nos nascimentos, nas partidas, nas celebrações ou em outro momento da vida o ritual tem o poder de nos fazer entender a nossa diminuta dimensão frente ao todo, ao mesmo tempo que nos coloca em contato com a importância dada pela nossa unicidade múltipla. O ritual representa a humildade sem a submissão e a altivez sem a arrogância. Por isso, cada ritual traz em si perguntas como: qual o sentido daquilo que faço ou daquilo que acontece? Entender o sentido é encontrar o propósito. O que faço é importante para mim e qual é o impacto no outro? Responder a essas perguntas encoraja a proteção, estimula a segurança e incentiva a competividade por meio da conectividade. Desse modo, diferentemente do entendimento do chefe do início do texto, creio que reconhecer a importância dos rituais não é perda de tempo, mas uma oportunidade de reinvenção.

Quais são os seus rituais? Eles o conectam com o seu propósito e permitem que você se expanda e se reinvente?

Moacir Rauber

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