Vai ficar na linha de chegada?

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Ele me dizia que gostava muito de estar na linha de chegada das maratonas para poder aplaudir os maratonistas que percorriam os 42km. Era um gesto para valorizar o esforço, a dedicação e o empenho de cada um dos corredores que cumpriam uma jornada tão árdua. Ele permanecia na linha de chegada até que o último cruzasse. Ele dizia:

– Eles merecem. Eles cruzaram!

Ficava impressionado ao ouvir o meu amigo comentar sobre as maratonas, a sua história, os fatos inusitados e o quanto ele conhecia sobre as exigências da preparação mental e física para se concluir a prova. Quando ele falava da história, resgatava a importância do passado na construção do presente e para dar a direção de futuro. Comentava que se estamos onde estamos é porque alguém nos trouxe até aqui e cabe a nós escolher as boas experiências que devem ser repetidas. Ao lembrar de momentos marcantes da maratona trouxe o exemplo de superação da maratonista suíça que em 1984 concluiu a prova cambaleando de exaustão. Era a primeira maratona feminina da era moderna do jogos olímpicos e ele se emocionava com a lembrança. Entretanto, ao descrever o nível de exigência física e mental a que um atleta se sujeitava para iniciar, percorrer e concluir uma maratona ele se transformava. Argumentava que o primeiro ponto é a decisão de participar que exige o movimento de planejar e treinar. Porém, o que ele mais gostava era de entrar na mente dos atletas enquanto acontecia a prova. Ele dizia que o jogo mental era impressionantemente duro, porque a mente, muitas vezes, nos mente, levando-nos a fazer coisas que não queremos ou que, depois de feitas, nos arrependemos. Assim, quando o atleta começa a prova a empolgação toma conta da sua mente, dando a impressão de que o desafio não será tão difícil quanto se imaginava. Passada a empolgação, vem a constatação de que a realidade é diferente do planejado e ela pode ser mais dura do que pensada. Essa percepção leva a que um atleta tenha que se adaptar mental e fisicamente sem perder o foco no objetivo de concluir a maratona. Nesse ponto da prova surgem os conflitos internos em que o atleta se questiona o que o levou a fazer a que está fazendo. São momentos determinantes para que ele termine ou não a prova. A todo momento ele precisa de gatilhos mentais que o levem a se reforçar mentalmente. O que o levou a estar ali? Quanto isso é importante? O que significa para ele e para as pessoas que ele ama? São algumas perguntas que o atleta vai se fazer que permite que continue sua movimentação física rumo a um objetivo escolhido por ele. Na última parte da prova, ao avistar o objetivo a luta é para não perecer pela arrogância. A mente pode enganar o físico ao dizer que nada mais pode nos deter. “Não é verdade”, segundo o meu amigo, porque enquanto o atleta não cruzar a linha de chegada a prova não está concluída e o objetivo não foi alcançado.

– Qualquer projeto tem um jogo mental e físico que quase nunca se vê, dizia ele. E concluir qualquer objetivo merece ser celebrado. Definitivamente sou um fã de maratonas!!!

Admirava toda a empolgação do meu amigo com as maratonas, porém não entendia muito bem o motivo de ele ser somente um fã e não um maratonista. Estar na linha de chegada e aplaudir é importante como incentivo para aqueles que fazem. Entretanto, se o outro pode fazer eu também posso. Por isso, perguntei para o meu amigo:

– Por que você não cruza a linha de chegada como maratonista?

A ideia é que muito mais do que um fã de maratona ele possa ser um maratonista, transformando-o no protagonista das suas escolhas. Na vida não basta estar na linha de chegada, também é fundamental cruzar as nossas linhas.

Moacir Rauber

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