Com restrições, GP de São Paulo tem filas, distância dos pilotos e burocracia
As mudanças causadas pelas restrições puderam ser constatadas nos três dias do evento, a começar pelos arredores do autódromo. Tornaram-se comuns filas extensas, e não somente por causa do aumento do público pra o GP deste ano. Como cada torcedor precisava apresentar comprovante de vacinação ou resultado negativo do teste de covid-19, a entrada se tornou mais lenta em cada portão. Neste domingo, as filas já apareciam as 8h, seis horas antes da largada.
Aos jornalistas, as limitações começaram dias antes do evento. A F-1 exigiu informações sobre vacinação e testes de cada profissional em dois aplicativos de celular. Foi necessário fazer o exame PCR no próprio autódromo. Ao mesmo tempo, diversos documentos precisavam ser assinados para confirmar comprometimento com as medidas sanitárias vigentes no campeonato.
Na sala de imprensa, é possível constatar o esvaziamento da cobertura nacional e internacional in loco. O GP deste ano contou com um terço dos profissionais que costuma receber. A redução do número de jornalistas no autódromo se justifica pelo maior distanciamento entre pilotos e profissionais da imprensa. Praticamente só os canais de TV têm acesso aos atletas e equipes. Aos demais, é preciso se contentar com entrevistas online intermediadas pela assessoria da FIA. E uma chance rápida no cercadinho reservado aos pilotos ao fim das sessões.
O paddock de Interlagos também conta com menos convidados. Com as restrições, o ambiente ficou menos badalado. Em anos anteriores, era comum ver famosos e VIPs aproveitando os serviços de alimentação e bebida das equipes em cada um dos “hospitality center”, os locais onde se reúnem os membros dos times e eventuais visitantes. Os tradicionais almoços servidos para a imprensa e convidados também foram vetados.
Em alguns momentos do evento, o paddock fica vazio, algo raro na história do GP brasileiro. Pilotos encontraram a situação ideal para ficarem mais à vontade sem tanto assédio ou demanda da imprensa. Engenheiros, mecânicos e demais funcionários das equipes podem trabalhar com mais tranquilidade também, agora sob a nova cobertura do paddock – a etapa brasileira é a única a contar com essa proteção. A presença de torcedores passeando pelo pit lane, logo à frente dos boxes, também foi vetada neste ano.
O uso de máscaras, contudo, é flexível nos setores VIPs e nas arquibancadas. Mesmo entre os pilotos, a reportagem do Estadão flagrou diversos momentos em que eles deixaram os protocolos de lado para abraçar fãs, dar autógrafos e bater fotos no aeroporto, em restaurantes e até no Allianz Parque, o estádio do Palmeiras. Já no paddock seguem as regras são rígidas da F-1.
TORCEDORES – Apesar das restrições, os fãs de automobilismo não desanimaram. Ricardo Junior, de 35 anos, veio de Boston, nos Estados Unidos, para acompanhar o GP. Ele investiu cerca de R$ 10 mil entre passagens aéreas, hospedagem, ingressos e comida. Havia vindo em 2018 pela primeira vez.
“E a segunda vez em São Paulo. Eu sou fanático por Fórmula 1. Não perco mais nenhuma aqui”, diz o dono de uma transportadora, que vai assistir à corrida do setor G. Fora do Brasil há 21 anos, ele considera que o evento “superou as expectativas em relação a público” e aprovou as mudanças, sobretudo as relacionadas ao entretenimento, como a presença de DJs e o telão maior. Mas reclamou da falta de acessibilidade nas arquibancadas e do preço dos itens.
“Eu e meus primos passamos muito mal com a comida. Também escutei de amigos de arquibancada que não gostaram do que comeram”, reclama. Nas arquibancadas, a cerveja era vendida a R$ 13,50 e o refrigerante a R$ 9. A batata custava R$ 21, o cachorro quente, 18. Pelo hambúrguer, o torcedor tinha de desembolsar R$ 35.
Rodrigo Ortega, de 46 anos, não veio de tão longe quanto Ricardo, mas teve de viajar alguns quilômetros para ver a prova brasileira, de volta ao calendário da F-1. Ele saiu de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, para assistir ao evento pela 15ª vez. “Eu venho todos os anos desde 2006, conta o gerente de infraestrutura de TI e fã do líder do Mundial de Pilotos. “Neste ano estou torcendo para o Max Verstappen e gosto muito do Daniel Ricardo também”.
Rodrigo ficou satisfeito com a estrutura montada e gostou da ampliação das arquibancadas. “Para mim a principal mudança foi que a arquibancada da geral está ampliada, indo mais para além da curva 4”, opina o torcedor, que se acomodou no setor G. Ele gastou R$ 3 mil entre passagens e ingressos, fora os gastos com alimentação e transporte.