Confeitaria caseira: com a retomadas dos eventos, serviços tendem a crescer

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Empreendedores do setor já registraram aumento de 80% nas encomendas, no período de julho a outubro deste ano

O retorno gradativo das festividades tem reaquecido o mercado da confeitaria artesanal. Os pequenos empreendedores do ramo – aqueles que não possuem loja física – não deixaram de ‘colocar a mão na massa’, contudo, sentiram o impacto da pandemia. Com a volta das atividades presenciais, eventos, casamentos, formaturas e outros comemorações, o mercado recebe um novo fôlego.

“De julho até o outubro deste ano, já tive aumento de 80% nas encomendas. Com agenda até março de 2022, posso afirmar que igualei o ritmo de trabalho anterior a pandemia”, conta a confeiteira/cake designer, Mônica Tiemi. “Os casamentos que foram cancelados, agora voltam a ‘todo o vapor’, os aniversários e outras festividades com público – que vai além dos familiares da mesma casa – fomentam o mercado”.

Mônica cita que essa retomada acontece de maneira gradativa e de acordo com a realidade da clientela vivida no momento. “Por exemplo, é normal receber uma encomenda na quarta-feira para um aniversário que vai ocorrer no sábado. Isso tem acontecido porque as pessoas aguardam confirmação dos convidados, se alguém estava com suspeita de Covid-19, enfim, não está sendo como antes e foi preciso de adaptar”.

REFLEXOS DA RETOMADA – Essa retomada dos trabalhos com mais intensidade, exige que os empreendedores tenham um novo ritmo de trabalho. Mônica relata que diante das encomendas semanais, ela não consegue trabalhar com o estoque planejado, como fazia antes da pandemia e isso interfere nos custos da matéria-prima, além de gerar impacto na logística de entrega, combustível e gás de cozinha.

“Antes eu trabalhava com encomendas mínimas, por exemplo, o cento. Com a pandemia não deixei de atender quem encomendava até 25 doces, contudo, o custo da produção – sem comparar a quantia de matéria-prima utilizada – não mudou muito, ou seja, a higienização da cozinha é a mesma, o custo para deixar o ambiente climatizado, pois é necessidade, também é a mesma, sem contar os aumento no gás de cozinha e na gasolina”, enumera ao afirmar que manteve os trabalhos sem obter grande retorno financeiro.

Para a confeiteira, continuar ativa foi um desafio diante de todas as adversidade do período. Ela destaca que manter a clientela e fazer novos clientes exigiu adaptação no método de trabalho, especialmente em relação ao estoque, mas também na logística de atendimento, sem uma agenda previamente definida. “Tive encomendas canceladas por causa da Covid-19. Foram vidas perdidas que deixaram o vazio. Por diversas vezes chorei com os clientes. A pandemia atingiu a todos de uma maneira ou de outra”, afirma Mônica.

A ENCOMENDA DE CADA DIA – “Aos poucos notamos que estamos iniciando uma fase de retomada dos trabalhos”, conta a confeiteira, Maria de Fátima. “No ano passado, tivemos queda superior a 65% nas encomendas. As datas comemorativas não deixaram de acontecer, mas foram realizadas de maneira diferente, com um consumo menor. Nessa nova fase do mercado, já tivemos aumento em torno de 75% nas encomendas. Estamos próximo do ritmo de antes”.

Maria recorda que com o surgimento dos primeiros casos de Covid-19, os decretos de fechamento e suspensão das atividades consideradas não essências e o cancelamento das festas, impactaram drasticamente em sua produção artesanal e, consequentemente, no orçamento. Ela pontua que as encomendas nunca pararam, mas reduziram significativamente.

“A matéria-prima não tem como substituir. O chocolate, por exemplo, que integra a base para diversas receitas não tem como ser trocado. Se usei determinada marca em um bolo e na encomenda seguinte, devido ao custos eu optar por um produtor de menor qualidade, o cliente vai sim sentir a diferença. O que estamos enfrentando é um aumento dos alimentos, sem termos muitas opções de substituições, que não venham a interferir na qualidade final do produto, e também não podemos repassar esse reajuste ao consumidor final”, explica ao salientar que a matéria-prima de qualidade é fundamental no preparo dos doces.

NOVAS ESTRATÉGIAS – Uma estratégia utilizada por Maria, desde a chegada da pandemia, foi reduzir o mix de produtos. Ela comenta que até julho deste ano ofertava as opções que pudessem garantir uma margem de lucratividade, ou seja, doces que não exigiam ingredientes mais caros, ou a compra de diversos produtos para sua produção. Além disso, a confeiteira recalculou os custos de produção de cada doce, mudou a logística de compras do estoque – não ficou mais com produtos estocados, especialmente os perecíveis – passou a controlar com mais rigidez o fluxo de caixa e negociou formas de pagamento com fornecedores.

AS MUDANÇAS DO MERCADO – Para continuar atendendo a clientela em tempos de isolamento social, Maria conta que foi preciso ampliar os atendimentos na modalidade delivery. “Como trabalho com produtos perecíveis, sempre fiz os bolos e doces somente por encomenda, ou seja, precisa existir a projeção de venda, além disso, nesse ramo alimentício contamos com as particularidade dos sabores. Para continuar trabalhando passamos a incluir a entrega nos serviços, porém, diante dos últimos aumentos de combustíveis, é algo que precisamos rever em relação ao repasse ao consumidor final”.

MÃOS NA MASSA – A aposentada, Maria Cândido, tinha planejado a festa de bodas de ouro de seu matrimônio. Contudo, com a pandemia a celebração foi cancelada. “Estava tudo organizado e reservado. Estávamos todos ansiosos para unirmos os familiares e amigos, mas não foi possível realizar nossa festa”, relata.

Maria Cândido recorda que foi preciso entrar em contato com as prestadoras de serviços contratadas para desmarcar. Diante dos fatos, a principal preocupação era cuidar da saúde e aguardar a situação tomar outro rumo para que a festividade acontecesse.

“Neste período de tempo passamos a economizar mais. Foram surgindo outras ideias, outras ações para beneficiar o próximo, outros sonhos. Agora, estamos novamente nesse processo de fazermos a festa. Ela ainda não vai acontecer neste ano. Queremos ter mais segurança em relação a saúde de todos. Contudo, já contratamos novamente alguns serviços, como os doces, o bolo, o bife. Temos toda a expectativa de que será algo bom, agradável, alegre e no momento certo”, conclui.

Da Redação

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