Diagnóstico precoce do câncer de mama garante cura em 95% dos casos

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“Este é um mês muito importante para nós, que trabalhamos nessa área”, disse o médico mastologista Cícero Urban, do centro de Doenças da Mama e do hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, durante a audiência pública que marcou o início das ações do Outubro Rosa na Assembleia Legislativa do Paraná.

Mês importante para se lembrar da prevenção e que causa muita preocupação, apresentada em números. O câncer de mama é o de maior incidência entre as mulheres, com 66 mil novos casos esperados para 2021 no Brasil e que a cada dia, provoca a morte de 48 mulheres entre 30 e 69 anos. Mas a chance de cura, segundo o médico, é de 95% quando há o diagnóstico precoce. Cícero Urban ainda pontuou que, além dos fatores de risco –  genéticos, hormonais, reprodutivos – existem outros relacionados ao estilo de vida. “Estes últimos, a gente sabe que pode mudar com atividade física regular, boa alimentação e levar uma vida mais saudável, evitando principalmente o tabagismo, além, é claro, da mamografia regular”.

Estima-se que por meio de uma boa alimentação, nutrição e atividade física é possível reduzir em até 28% o risco de a mulher desenvolver câncer de mama. A amamentação também é considerada um fator de proteção.

Ele encerrou a fala mostrando casos reais da importância da evolução no sucesso dos tratamentos e como uma mensagem: “Você já cuidou de você hoje?”.

Para contribuir a fim de que esses números diminuam e que os cuidados sejam frequentes, o Outubro Rosa foi criado como um mês dedicado às ações preventivas à integridade da saúde da mulher, como o câncer de mama e de colo do útero, conforme a lei 16.935/2011. A audiência, foi a primeira de uma série de ações que serão desenvolvidas na Assembleia ao longo do mês.

 A iniciativa desta segunda-feira recebeu o nome de “Mulher Por Inteiro”, e foi proposta pela presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Casa de Leis, a deputada Cantora Mara Lima (PSC). “São ações que, de alguma maneira, podem chegar a todas as mulheres, muitas com acesso limitado à informação, ainda hoje”, destacou.

Para Claudia Gaby, paciente recuperada de um câncer de mama, não faltou orientação, nem prevenção. Mesmo assim, em 2016, num autoexame, descobriu um nódulo na mama, que dias depois, se confirmou: era um câncer em estágio avançado. “Cada notícia negativa, cada etapa do tratamento, foi tudo muito difícil.  Mas enfrentei. Com fé inabalável e com médicos fantásticos, venci. Nunca precisei ficar internada. Hoje me sinto saudável. Passei. Em dezembro faz cinco anos que fiz a primeira quimioterapia. Estou curada”, relatou.

RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA EVOLUIU –  Marcelus Nigro, cirurgião plástico, especialista em reconstrução mamária, falou sobre a evolução da ciência e da tecnologia nesse tipo de intervenção. “Antigamente, há cerca de 20, 30 anos, a reconstrução mamária era uma verdadeira mutilação. Atualmente, isso mudou muito”.

Demonstrando alguns dos resultados, afirmou que a reconstrução pode ser imediata, após a remoção da mama, ou tardia e que diferentes opções terapêuticas estão disponíveis, mas que elas dependem da cirurgia de remoção.

Nigro falou ainda sobre as opções de material para a reconstrução mamária, como a colocação de próteses de silicone;  a técnica que utiliza os expansores mamários, utilização do próprio tecido da paciente, (autólogos); enxertos para melhorar a estética da mama; ressaltou a importância da micropigmentação da aréola; complicações; rejeições;  das vantagens e desvantagens da reconstrução imediata ou tardia; do efeito psicológico que ela provoca;  da importância de um bom planejamento e do diálogo com o cirurgião e com o mastologista, que vai propor qual será o tratamento.  “Para o caso dos implantes, a recuperação é mais rápida, tempo cirúrgico menor e menos tempo de internação, mas cada caso é um caso. Precisamos avaliar toda a condição da mama, como por exemplo, a necessidade da paciente passar pela radioterapia. Por isso, a importância de todo um planejamento e de um bom diálogo entre o médico e a paciente”, pontuou. “Eu me sinto honrado em participar desse tratamento junto com a paciente. Sabemos o quanto ele significa para ela em termos de autoestima, porque a reconstrução mamária representa uma esperança a mais no tratamento, que, na maioria dos casos, é tão sofrido para essa paciente”, acrescentou.

DIREITOS DAS PACIENTES –  Sabrina Matos, psicanalista, sexóloga preventiva e pedagoga, explicou, ao longo da audiência, que busca falar com as mulheres sobre o entendimento que devem ter do seu corpo, que vai muito além do ato sexual. Como voluntária do Instituto Humanista de Desenvolvimento Social (Humsol), contou que ouve histórias de todo tipo sobre como algumas mulheres são rejeitadas pelos maridos ou companheiros depois do câncer, ou até mesmo proibidas por eles de buscar os exames junto às unidades de saúde. “O nosso trabalho com as mulheres é mais que uma orientação: é o que chamo de um afago. De mostrar que elas não precisam ter medo do preconceito, e trabalhamos com as famílias, que devem respeitá-las nessa fase”, disse.  A profissional também atua na busca por apoio jurídico. “Muitas mulheres não têm ideia dos direitos que têm enquanto pacientes de câncer”, reforça. 

Sobre tais direitos, representando a Associação Amigas da Mama, falou a advogada Daniele Banzzatto, que lembrou: por lei federal, desde 2013, toda mulher que teve a mama retirada em função de um tumor, tem direito de fazer a reconstrução no mesmo centro cirúrgico que fez a mastectomia, que é a retirada total da mama. Também tem direito ao auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e transporte coletivo gratuito, entre outras garantias.

Daiane orientou ainda sobre a documentação básica para as pacientes: laudos, biópsias, exames médicos, guias de requisições, formulários médicos. “Essa espécie de kit precisa estar separada para um eventual benefício, isenção, tratamento, direito”, ressaltou.

Com relação ao trabalho da Associação, disse que é oferecido suporte, apoio psicológico, doações de próteses externas até que a paciente faça a reconstrução, meditação, doação de lenços, empréstimos de perucas, mobilização, campanhas, mostras, produtos, complementados com as ações do Outubro Rosa. Porém, houve baixa de mais de 80% tanto na procura por mamografias em 2020 e 2021 e redução de atendimentos na Associação nesse mesmo período. Foram atendidas 964 mulheres ano passado e até agosto passado, foram 659 atendimentos. “Nosso alerta é para que voltem. Vamos ter uma atitude feliz para com nós mesmas. Nos alimentar bem, praticar exercícios, meditação e, se porventura, venhamos a ter o câncer, que saibamos lidar com ele. Mas reforço que  prevenir é agir e agir é viver”, finalizou.

Ainda sobre os direitos, Simone Beck Ribeiro, 2ª vice-presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA) e presidente do Humsol, disse que o trabalho é contínuo. Ela lembrou que as entidades lutam para que o Sistema Único de Saúde (SUS) forneça o tratamento em, no máximo, 30 dias após o diagnóstico. “Sabemos o quanto é importante que ele comece o mais cedo possível. Estamos correndo atrás de uma melhoria na legislação para que isso se concretize”, afirmou. A lei prevê atualmente que o início do tratamento seja, em até dois meses. 

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