Em 10 anos, CBF teve 6 presidentes, 4 técnicos e 2 títulos com seleção principal

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“Gestão eficiente”, “moderna”, “ele está fazendo mudanças que vão melhorar muito o futebol brasileiro” e “vocês não têm ideia de como esse homem trabalha” são alguns dos discursos vindos desde sempre de cartolas que orbitam o comando do futebol nacional. Na última década, contudo, difícil foi associar o dito com a prática. Com seus principais dirigentes acusados de crimes de todo tipo, nos últimos dez anos a CBF viu passar por seu comando nada menos do que seis presidentes diferentes. No período, a resposta apresentada pela seleção principal fez esses mesmos cartolas apostarem em quatro técnicos. Títulos, por sua vez, foram apenas dois.

Oficialmente, o mandato de um presidente na principal confederação esportiva do País é de quatro anos, podendo ser prorrogável por igual período. A eleição ocorre tradicionalmente em ano de Copa do Mundo. De 2011 para cá, foram duas (2014 e 2018). Assim, se os eleitos concorressem a apenas um mandato – o que raramente acontece -, a CBF teria tido no máximo três presidentes. Por ora, a contagem está no dobro.

Manter-se no cargo tem sido difícil porque, salvo os interinos, todos os presidentes eleitos viram-se às voltas com punições da Fifa, da Justiça ou, mais recentemente, de órgão vinculado à própria CBF. Há um pouco de tudo: suspeitas de suborno e de contratos superfaturados, condenação por lavagem de dinheiro e conspiração e, nos últimos dias, acusação de assédio moral e sexual. Todos os envolvidos negam qualquer irregularidade.

O primeiro a cair foi Ricardo Teixeira. O dirigente renunciou em março de 2012 após mais de duas décadas à frente da CBF. À época, vinha com investigações de duas CPIs nas costas, desgaste na preparação do Brasil para a Copa de 2014 e acusações de todo tipo no Brasil e no exterior. Posteriormente, seria acusado de vender seu voto para o Catar sediar o Mundial do ano que vem e de desvios em contratos da seleção brasileira. Foi banido do futebol pela Fifa em 2019.

Quando renunciou, Teixeira cedeu lugar a José Maria Marin. Ele ficou no cargo até abril de 2015, quando foi sucedido por Marco Polo del Nero, eleito no ano anterior.

Ex-governador de São Paulo, Marin virara notícia no meio esportivo no início de 2012 quando câmeras de TV o flagraram colocando no bolso uma medalha que deveria ter dado a um jogador durante a premiação da Copa São Paulo.

Como presidente da CBF, demitiu o então técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, e colocou Luiz Felipe Scolari, o Felipão, em seu lugar. A mudança, ainda em 2012, veio após desempenho apenas regular de uma seleção que se preparava para a Copa do Mundo do Brasil.

Felipão conduziu o Brasil ao título da Copa das Confederações de 2013, após vitória épica sobre a então campeã do mundo Espanha no Maracanã. Tudo indicava que a seleção entrara finalmente nos eixos e que faria campanha inesquecível na Copa do Mundo. E fez mesmo, ainda que por vias tortas: ninguém jamais esquecerá o 7 a 1 sofridos diante da Alemanha na semifinal.

O fracasso retumbante daquela Copa fez José Maria Marin – ainda presidente, mas já dividindo o poder com Marco Polo del Nero – a demitir Felipão em 2014 e contratar Dunga.

Dunga foi o treinador que iniciou a gestão de Del Nero, que logo nos primeiros meses passaria a sangrar após o “Fifagate”. Marin foi preso na Suíça quando se preparava para o Congresso da Fifa. Del Nero, que estava no mesmo hotel, optou por voltar no mesmo dia para o Brasil para nunca mais cruzar as fronteiras do País.

Enquanto José Maria Marin passaria a viver seu ocaso no mundo do futebol – extraditado para os Estados Unidos, acabaria condenado à prisão por crimes de fraude financeira, lavagem de dinheiro e conspiração -, Del Nero tentava se manter no cargo na CBF mesmo sendo alvo de investigação da Justiça americana e da Fifa.

As acusações coincidiram com mais um desempenho pífio da seleção em campo, com o time de Dunga sendo eliminado na primeira fase da Copa América Centenário, em 2016, e com o Brasil fora da zona de classificação para a Copa do Mundo da Rússia.

À época, Tite comandava o Corinthians e era apontado quase como unanimidade como melhor técnico para assumir a seleção. Pragmático, Del Nero aceitou as condições impostas pelo treinador e fez de conta que esquecera as críticas que sofrera do técnico meses antes. Como prova, chegou a beijar o rosto do treinador na apresentação.

Acossado por investigações semelhantes às que levaram à derrocada de Marin, Del Nero na sequência se licenciaria do cargo. Para seu lugar, primeiro colocou o deputado capixaba Marcus Vicente, um dos cinco vices da CBF. Depois, promoveu o coronel Antônio Carlos Nunes para o cargo, a quem transformara em vice após articulação com presidentes de federações estaduais.

Del Nero foi banido do futebol pela Fifa em abril de 2018. Assim, o coronel Nunes já era o presidente da CBF por direito em 2018, quando Tite levou o Brasil às quartas de final da Copa da Rússia. A queda diante da Bélgica não causou abalo na confiança do treinador, mas quem negociou sua renovação foi o cartola que assumiria a entidade apenas no quadriênio seguinte: Rogério Caboclo.

De perfil técnico, Caboclo também havia sido levado por Del Nero à CBF. Diretor financeiro, em circunstâncias normais o apadrinhado não seria candidato à presidência. Mas era o homem de confiança do cartola.

Caboclo assumiu como quinto presidente em oito anos – sexto, considerando a interinidade de Marcus Vicente – em abril de 2019. Três meses depois, o Brasil conquistou a Copa América no Maracanã, naquele que foi apenas o segundo título mais ou menos relevante em dez anos. No domingo passado, o dirigente foi afastado após ser acusado de assédio moral e sexual. E a principal confederação esportiva do Brasil, mais uma vez, precisou mudar de presidente por causa de um escândalo.