Ex-jogador da seleção, SB usa experiência para ensinar handebol a jovens carentes

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Experiência é o que não falta a José Ronaldo Nascimento, mais conhecido como SB. Seu portfólio no handebol nacional fala por si só. Seu apelido, inclusive, se deve às convocações frequentes para a seleção brasileira da modalidade. Com a equipe nacional, alcançou alto patamar e conquistou medalhas importantes. O esporte deu a ele a vida que tem. E hoje o atleta retribui.

SB é técnico de um projeto social em Diadema (SP) que ensina jovens de comunidades carentes da região os fundamentos do handebol, uma modalidade olímpica. Seu projeto, no entanto, é muito mais que isso. A grande finalidade é tirar crianças das ruas e mostrar a elas um novo mundo de oportunidades que a prática esportiva pode dar.

A ideia é fazer com que crianças aprendam como arremessar uma bola em direção ao gol e as diversas regras e conceitos que envolvem o handebol, mas também, e principalmente, que consigam conciliar escola e esporte. Este é um dos pilares da iniciativa.

“Eu estive divulgando o projeto em algumas escolas da região. Conversei com alguns professores e diretores, eles vão sempre estar passando algum tipo de relatório dos alunos. Tanto que na ficha de inscrição, quando eles vão fazer a matrícula, nós perguntamos o nome do colégio em que estuda e o período. Isso porque a gente vai fazer um relatório para mandar ao colégio onde essas crianças estão matriculadas. Vai ter uma pequena parceria entre o projeto, as atividades e a nível escolar das crianças”, explicou SB.

As atividades ocorrem sempre em contraturno escolar. Ou seja, se a criança estuda de manhã, ela poderá fazer parte do programa à tarde. Ficaria parte do período na escola e a outra parte no projeto. O contrário também acontece e há vagas nos dois turnos: se a criança estuda à tarde, pode fazer as aulas de handebol pela manhã. A promessa é que ninguém que queira treinar fique fora. Os encontros são realizados duas vezes por semana, às terças e quintas.

Natural de Aracaju, em Sergipe, SB deixa claro o quanto o esporte, especialmente o handebol, mudou sua vida. “O handebol me ensinou muita coisa. Eu agradeço por ter praticado esta modalidade. A maioria das coisas que tenho hoje é graças ao handebol. Eu me dediquei muito, corri atrás dos meus objetivos. Eu consegui alcançar vários objetivos, principalmente esportivo, como participação de Olimpíadas”, contou.

EXPERIÊNCIA EM OLIMPÍADAS – Ele participou de três Jogos Olímpicos: Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Atenas-2004, nesta última tendo feito cinco gols. No seu quadro de medalhas, encontram-se, entre tantas outras, uma de ouro no Pan de 2003, duas de prata no Pan de 1991 e 1995, e uma de bronze no Pan de 1987. Conquistas e repertórios são coisas que não faltam a ele. O foco agora é usar o esporte como ferramenta de transformação social, assim como aconteceu com ele.

“Me formei na área da Educação Física também através do handebol. Eu usei a ferramenta, a modalidade, para conseguir estudar nos melhores colégios, fazer faculdade sem precisar pagar”, lembrou SB. “Através da modalidade, pretendo fazer com que as crianças tenham conhecimento do handebol, ensinando os fundamentos principalmente numa boa prática, através de brincadeiras lúdicas, como também a socialização e integração entre os participantes”, esclareceu.

“É um momento em que a gente tira as crianças do ócio, da rua, e através das práticas esportivas a gente consegue educar um pouco também essas crianças, através do respeito mútuo, respeito com seu companheiro, saber ganhar, saber perder… Tudo isso, através desse projeto, a gente consegue transmitir para essa garotada”, acrescentou. SB também não deixa fora, claro, a diversão de jogar e praticar com os amigos uma modalidade esportiva.

O treinador está em São Paulo há 21 anos. Já teve passagens por muitos cantos do Brasil, conheceu muita gente e adquiriu muita experiência. Hoje, esse novo desafio serve como motivação. “Eu sempre trabalhei com equipes de competição, mas neste momento, não estou trabalhando com isso. É um objetivo novo e gosto de correr atrás de novos objetivos. Estou no momento de transmitir o que consegui através de conhecimento, tanto na prática como na teoria, passar para essa garotada tudo isso”, disse ao Estadão. “O handebol me deu o que tenho hoje profissionalmente, financeiramente… eu tenho de agradecer. Acho que aceitei porque preciso contribuir com a modalidade também. Tanto para o esporte quanto para algumas comunidades.”

“Eu estou muito feliz, porque é um desafio novo. Graças a Deus, tenho conhecimento de estar colocando em prática toda essa vontade de ensinar, essa vontade de estar com as crianças, essa vontade de estar ajudando no desenvolvimento da modalidade no País”, disse.

O PROJETO – Tirar as crianças da rua e ensinar importantes valores através do esporte. Este é objetivo fundamental e o principal alicerce que sustenta o “Projeto Educando Pelo Esporte”. Vlademir Pereira é o idealizador da iniciativa e, em sua voz, já é possível perceber o quão importante é para ele desenvolver este trabalho. A entidade responsável é a Assedec (Associação Educacional Esportiva e Cultural).

O projeto teve início em 2008 e hoje é bem grande, tendo sempre o handebol e o basquete como modalidades. Inclusive, chegou a ser vice-campeão em um torneio internacional que aconteceu em Caraguatatuba, em 2018. A cidade de Mauá e o distrito de São Mateus já foram contemplados com a ação. Hoje é a vez de Diadema. Mas o foco é sempre o mesmo: ajudar os mais necessitados. “O handebol é um projeto que tem uma relevância bem grande com as nossas ações, com crianças que estão à mercê da vulnerabilidade e condições adversas da pobreza de algumas regiões nas periferias de São Paulo”, explicou Pereira.

O orgulho em ver os frutos sendo colhidos é nítido. “Nós temos vários atletas que começaram crianças em nossos projetos e hoje já se formaram em faculdades, conseguiram bolsas em universidades por serem atletas. Alguns até exercem a profissão de educação física. Isso pra gente é muito gratificante mesmo”, contou o idealizador.

Pereira conta ainda que é uma honra contar com a participação de SB na linha de frente. O técnico, que criou raízes em outra cidade do ABC paulista (São Bernardo do Campo, onde tem a Universidade Metodista), aceitou o convite na hora. O projeto é recheado com atividades lúdicas e atividades de fundamentos do handebol. É uma escolinha. No futuro, Pereira sonha alto. Ele vê potencial até para um time de competição. “Mas isso é uma consequência, não é o nosso principal objetivo. Com certeza o SB, com todo o potencial técnico que tem, vai tirar leite de pedra e vai lapidar muito diamante.”

“Eu sempre digo que no esporte, você ser um atleta profissional ou não, é um acaso de muito trabalho, muito esforço, de estar no lugar certo e na hora certa. O esporte traz outras oportunidades, como fazer uma faculdade ou estudar em escolas particulares, se formar, ter uma profissão. Este é o grande objetivo do esporte, ou deveria ser.”

Ao todo, serão 80 crianças contempladas, de 8 a 16 anos, mas as vagas não foram totalmente preenchidas e caso se matriculem mais jovens, não haverá exclusão ou negação por parte do projeto. SB explica que tudo é resolvido na base da organização e da conversa. “Com material esportivo, com uniforme… com certeza isso vai aumentar, pois existe um polo industrial grande na cidade de Diadema. E principalmente a vinda do SB vai dar muita visibilidade ao projeto”, relatou Pereira.

SERVIÇO – A criança tem de comparecer com um adulto ou responsável no ginásio Cláudio Kano, em Diadema. Deve levar consigo documento de identidade e comprovação de matrícula escolar, seja de ensino municipal, estadual ou privado.

“A criança tem de estar estudando. Isso não abrimos mão de maneira alguma. Esporte e escola acho que é a melhor combinação que existe”, disse o organizador. “Geralmente nós frequentamos as escolas onde essas crianças estudam e temos vários relatos de coordenadores, de diretores que dizem que o desempenho escolar melhora muito. O comportamento, não só na escola como em casa, melhora muito, pela questão de a gente trabalhar a cooperatividade, regras… A gente tem muitos relatos que só deixam a gente cada vez mais felizes e certos de que esporte e escola é a melhor combinação que existe.”

São duas turmas. Na parte da manhã: de 8 a 12 anos, começando das 8h30 às 10h. Outra turma de 13 a 16 anos, das 10h às 11h30. À tarde, a primeira turma das 14h às 15h30 e a segunda turma das 15h30 às 17h.