“Conquistamos uma espécie de passaporte para a produção paranaense”, diz Ortigara sobre o selo OIE

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A sala espaçosa repleta de lembranças do universo agro é o habitat seguro de Norberto Ortigara. É o local em que despacha diariamente desde 2011, orientando os rumos da agricultura, pecuária e abastecimento, vocações que fazem do Paraná referência para o mundo. Foi ali, entre um e outro gole do inseparável chimarrão, que ele orientou as políticas estaduais que culminaram no reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) do Estado como área livre de febre aftosa sem vacinação. A prosa será, a partir de agora, com um mercado que antes dava de ombros para as carnes regionais.

Mérito que, indiscutivelmente, passa pelas mãos de Ortigara. Ele estima em 43 anos a duração da novela dentro da sua trajetória profissional. Mas, inquieto por natureza, já virou o foco para a manutenção do título. Vida pessoal e profissional se confundem nesse bate-papo com a Agência Estadual de Notícias (AEN). “É o reconhecimento de um esforço”, diz, esfregando as mãos, marca registrada do gaúcho de Seberi que faz do Paraná sua casa desde 1974.

Qual o impacto da conquista para o Paraná?

A febre aftosa é uma doença comercial, não replica problema para o ser humano. Causa estrago no processo produtivo, faz perder eficiência porque os animais ficaram estressados por causa das feridas. Ou seja, é uma doença que nenhum produtor quer ter em seu rebanho. Quando você elimina essa enfermidade do seu meio, sinaliza que a estrutura local é boa. Quem não tem o certificado não consegue transacionar com boa parte do mundo. Ou seja, ao obter o selo conquistamos uma espécie de passaporte para a produção paranaense.

E em relação à produção das proteínas animais?

O Paraná já é o maior produtor de proteína, da soma da carne, do País. São 6 milhões de toneladas por ano de um total de 28 milhões de toneladas do Brasil. Participação grandiosa, mas o fato de não ter o certificado nos impedia de disputar mercado. Colocar um quadro com as cores da OIE na sala do governador satisfaz, mas o nosso esforço é vender. Temos sanidade, escala de produção, preço competitivo, mas faltava a capacidade comercial. Mercados superexigentes que pagam mais não conversavam conosco. Agora sim. Ganhamos a carta do “pode comprar daquele pedaço do Brasil”. Isso nos fará continuar crescendo na produção de proteína animal.

É possível mensurar o tamanho deste crescimento?

O Paraná exporta 30% das suas proteínas para o mundo. Mesmo em um ano de pandemia como esse, vamos crescer de 4% a 5%. Novas indústrias estão maturando, plantas se instalando no Estado, então não dá para dimensionar o limite. O limite é a nossa competência. Podemos crescer, por exemplo, ao deslocar concorrentes que são menos competentes. Vamos entrar em nichos importantes do mercado.

Quais seriam esses mercados mais exigentes?

Qualquer um. Japão, Coreia do Sul, México, por exemplo, são bem exigentes; Eles não conversavam com a gente por causa da vacinação.

Há uma estratégia definida para conquistar esses novos países?

Temos 27 adidos nas principais embaixadas do mundo, como Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia. São peritos, fazem a prospecção, aproximação e contato. Ou seja, aproximam as empresas compradoras das empresas fornecedoras.

Quando foi o último caso confirmado de febre aftosa no Paraná?

O último foi em 2006 e, desde então, o Governo do Estado trabalha para aumentar o controle sanitário. A vacinação nos rebanhos de bovinos e bubalinos contra a febre aftosa foi interrompida em 31 de outubro de 2019 e deu lugar a um amplo trabalho de cadastramento do rebanho.

Desde quando está envolvido com o planejamento para a conquista deste certificado?

Objetivamente, desde sempre. Sou oriundo da economia rural. Estou há 43 anos e dois meses nesse jogo. Mas diretamente, com algum poder de decisão, desde 1989. Lembro que a articulação mais firme, de pegar causa à unha, foi de 1997 para 1998, com participação direta minha, mas sempre com movimentos em consenso.

Passada a euforia, o foco passa a ser a manutenção do selo. Qual a estratégia do Governo do Estado?

O desafio é mesmo sustentar. É normal que haja reintrodução, como ocorreu no Japão, na Inglaterra, não é impossível de acontecer. Então a estratégia tem de ser a eterna vigilância. Começar por ter um amplo conhecimento do plantel que nós temos no Paraná, sem impor um custo adicional aos criadores. Saber como os rebanhos se movimentam para poder agir no caso de necessidade, seguindo os protocolos da OIE.

Para isso será necessária a contribuição de toda a cadeia produtivo.

Sim, declarar bem é muito importante. Saber como os animais entram e saem do Estado, os caminhos que fazem. São 33 pontos de fiscalização, além do georreferenciamento das propriedades. O modelo de informação tem de ser periódico, a favor dos negócios. Os produtores entenderam que falar a verdade é necessário. Não é feio achar problema, se deixar passar é pior.

O Paraná prevê novos investimentos para ampliar o monitoramento do rebanho?

Vamos qualificar ainda mais o time contratando mais gente. Há um concurso aberto que só não ocorreu por causa da pandemia, mas queremos realizar até julho. Além disso, queremos implementar vigilância e monitoramento através de vídeo. É um recado para quem não quer colaborar que mais cedo ou mais tarde nós vamos pegar. Vamos manter o ambiente sadio.

A tendência é de a carne paranaense ser ainda mais valorizada no mundo?

O produto vai valorizar um pouquinho lá fora, aumentaremos a exportação, mas ao mesmo tempo a produção local vai crescer. Garanto que não vai faltar carne para o paranaense e para o brasileiro. Mostraremos uma cara desenvolvida, sadia e limpa para o mundo.

E, como consequência, haverá geração de emprego e renda no Estado.

Trabalhamos para isso. Vamos gerar novas oportunidades, com a implantação de novas plantas fabris e novos turnos de trabalho. É mais gente trabalhando. Na suinocultura, por exemplo, podemos sonhar em liderar a produção brasileira (o Paraná é atualmente o segundo colocado, atrás de Santa Catarina). Para a produção aumentar os produtores vão comprar máquinas, gastar, acessar linhas de financiamento, fazer girar a economia. E tudo isso vai gerar emprego no Paraná.

Da AEN