Estado fomenta a produção científica nas universidades e a inovação no Paraná, diz Aldo Bona

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Da descoberta de uma nova forma de detectar a circulação do coronavírus à patente que permite o uso de pariparoba (uma planta nativa) no tratamento de tuberculose, o Paraná tem sido protagonista quando o assunto é pesquisa científica. São sete instituições estaduais de ensino superior gerando benefícios para a agricultura, saúde, educação, tecnologia e energia, entre inúmeras outras áreas.

As universidades estaduais de Londrina (UEL), Maringá (UEM), Ponta Grossa (UEPG), do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), do Norte do Paraná (Uenp), do Oeste do Paraná (Unioeste) e a Universidade Estadual do Paraná (Unespar) colocam o Estado entre os que mais contribuem com a produção científica do País, além de serem destaques na América Latina.

Duas delas — UEM e UEL — também foram classificadas entre as instituições de ensino superior que mais produzem pesquisa no mundo, segundo o ranking elaborado pelo Centro de Estudos em Ciência e Tecnologia, da Universidade de Leiden, na Holanda. Os prêmios individuais passam por indicações ao Jabuti e publicações nacionais e internacionais.

No Paraná, por exemplo, as contribuições passam por um escritório acadêmico para projetos envolvendo pequenos municípios; transferência de tecnologia direta para o agroneócio; ensaios sobre a sede em pacientes na UTI; comportamento das abelhasatendimentos a mulheres; e novos projetos no campo

Mesmo com todas as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, as universidades não pararam de produzir e pesquisar. Ao contrário, a doença trouxe novos desafios e soluções. Um deles foi a reestruturação dos hospitais universitários para atendimento especializado regional, o que aumentou as suas estruturas, além do lançamento da plataforma de telemedicina e apoio de bolsistas nos serviços de saúde.

No Paraná, o Governo do Estado valoriza e fomenta a inovação e a produção científica – há diversas ações, projetos e a destinação de recursos com esse propósito. Somente para as sete universidades estaduais, incluindo os hospitais universitários, a previsão orçamentária para o ano de 2021 para pesquisa científica passa de R$ 2 bilhões.

O Fundo Paraná, operacionalizado pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), destinou outros R$ 25,6 milhões para iniciativas em áreas prioritárias.

Há, ainda, recursos disponibilizados em outras frentes: R$ 1,6 milhão para os programas de Residência Técnica; R$ 9,8 milhões para ações de melhoria do Ensino Superior; além de verbas voltadas a polos e parques tecnológicos e ecossistemas de inovação.

Outros R$ 14,4 milhões estão sendo investidos para disponibilizar três mil bolsas de estudo por meio de três chamadas públicas de iniciação científica lançadas pelo Governo do Estado. Nessa entrevista, o superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Nelson Aldo Bona, detalha os desafios na área e as ações do Estado em prol da produção científica e da inovação no Paraná.

Qual a importância da realização de pesquisas científicas nas universidades?

No Brasil, mais de 92% de toda ciência produzida acontecem nas universidades públicas, e neste sentido nós não teríamos a posição que temos hoje no ranking internacional de produção do conhecimento, em que o País ocupa a 13ª posição, não fosse o trabalho desenvolvido nas universidades, e de modo bastante especial nas universidades públicas.

O Paraná tem sete universidades estaduais e todas desenvolvem pesquisas em diversas áreas. O que faz uma instituição se destacar pelos seus conhecimentos científicos?

Uma universidade se destaca na medida em que o conhecimento que ela produz tem repercussão no mundo acadêmico. Isso significa que na medida em que um determinado conhecimento é publicado, ele encontra leitores e inspira outros trabalhos no mundo inteiro. Há indicadores muitos precisos que medem a quantidade de artigos, a relevância da produção do conhecimento daquela universidade. Tudo isso faz com que ganhe esse destaque ou não como instituição de pesquisa. É importante destacar que o conhecimento produzido na universidade precisa ter conexão com a solução de problemas locais, e isso também passa a ser um indicador de avaliação do destaque de uma instituição em termos de produção do conhecimento.

Lá na ponta, esse conhecimento científico na academia gera benefícios para a comunidade como um todo?

O grande desafio que governador Ratinho Júnior nos passou foi cada vez mais as universidades estarem conectadas com as demandas da sua região de abrangência, ou seja, fazer com que o conhecimento produzido pelas por elas, a ação extensionista, pudesse estar perfeitamente conectada com aquilo que a sociedade necessita, com aquilo que os setores empresarial ou do comércio, da educação, da saúde, e outros necessitam. No caso específico das nossas sete universidades estaduais, podemos citar inúmeras situações em que a produção da universidade atendeu aos interesses da comunidade, particularmente neste momento de pandemia. Há muitas ações que beneficiaram diretamente o sistema estadual de saúde, por exemplo.

Fomentar a pesquisa que é desenvolvida dentro da universidade também colabora com o sistema de inovação almejado pelo Estado?

Sem dúvida, pesquisa é hoje a principal matéria-prima, o principal instrumento, a grande ferramenta capaz de gerar inovação. E uma inovação que de fato pode ser qualificada como tal, quando aquilo que foi produzido em termos de conhecimento se transforma em benefício concreto na vida das pessoas. Na medida em que vira produto, beneficia a toda sociedade. Neste sentido, o resultado de inovação é tanto maior quanto mais conectada estiver a pesquisa com as necessidades da sociedade.

Para o aluno de graduação, a pesquisa científica é uma forma de não apenas buscar, mas de reter o conhecimento e também de aprender aplicá-lo?

Para um aluno de graduação, a iniciação científica é a forma de fazer com que ele aproveite muito mais a sua formação em nível superior, com que ele tenha benefícios muito maiores do que aquele estudante que simplesmente cumpre as obrigações do currículo acadêmico. Quando um estudante entra na universidade, ele vem muito focado ainda na ideia do conhecimento como algo absoluto, produzido por semideuses, e que os simples mortais devem apenas estudar e aprender. Na universidade, o estudante se depara com uma realidade diferente, ou seja, o saber não é absoluto, ele está sempre em construção e pode ser alcançado por todos que se dedicam ao estudo do tema. Abre para o estudante a possibilidade de ser o produtor, de construir o conhecimento junto com os colegas e o corpo docente, e também com a comunidade científica mundial.

Como a pandemia da Covid-19 interferiu nas pesquisas nas universidades estaduais?

De diversas formas. A pandemia fez com que se considerasse relevantes, prioritários e urgentes temas ligados à prevenção da saúde humana. A primeira interferência foi colocar em evidência a demanda de estudos sobre um conjunto de temas ligados ao contágio do vírus. Há, também, uma segunda que é justamente a dificuldade de dar continuidade a projetos e processos de pesquisa que demandam bastante interação social. Foi necessário reinventar a forma de trabalhar com uma produção de conhecimento nestes casos.

Acredito, porém, que a maior interferência que a Covid-19 trouxe para pesquisa no Brasil e no mundo como um todo foi colocar em evidência o papel relevante da ciência para o enfrentamento dos grandes desafios da humanidade.

Apoio de universitários a projetos do campo no Paraná. Foto: Unioeste

Os investimentos do Estado também contemplam essa nova realidade?

Nós ampliamos os recursos disponibilizados para o movimento da pesquisa, colocamos as nossas universidades estaduais e federais no centro do enfrentamento da pandemia durante todo o ano de 2020. Estamos dotando nossas universidades em infraestrutura para um conjunto de ações de serviços à sociedade, e também para uma robustez nos laboratórios para fins de pesquisa. Sairemos da pandemia com a nossa capacidade de produção do conhecimento aumentada e com condições de estrutura de recursos físicos e recursos humanos mais solidificada. Em linhas gerais, eu diria que a pandemia interferiu estruturalmente na possibilidade e na definição dos temas relevantes para o processo de produção de ciência.

Falando especificamente do cenário do Paraná, quais são os desafios da produção de pesquisa científica no Estado?

São inúmeros e é difícil elencá-los, ainda mais se formos pensar em ordem de prioridade. Não é só no Paraná, no Brasil como um todo, o maior desafio da produção de pesquisa científica é a falta de recursos. É a falta de financiamento para essa finalidade. Nós vivemos hoje um aumento bastante grande da comunidade científica e uma diminuição dos recursos destinados à produção de ciência. E não há como produzir conhecimento sem investimento, sem recursos materiais, sem formação de pessoas, sem laboratórios adequados e equipados. Eu diria que, considerada a capacidade da comunidade científica do País, não só do Paraná, se as condições materiais de realização da pesquisa fossem melhores, nossos resultados seriam ainda mais relevantes.

Prova disso é que no mundo inteiro o pesquisador brasileiro é extremamente valorizado e buscado por grandes centros internacionais de pesquisa, justamente porque nós temos no DNA do brasileiro essa capacidade de invenção, de inovação, de fazer ciência.

E qual é o papel do Governo do Estado no apoio ao fomento da pesquisa científica?

O Governo do Estado exerce um papel fundamental no financiamento da pesquisa científica realizada pelas nossas universidades, não só pelas universidades estaduais, mas também pelas instituições federais e aquelas privadas que desenvolvem pesquisas. E o papel do Estado tem se mostrado ainda mais relevante. Aqui no Paraná, estamos mantendo os investimentos em pesquisa científica. Este ano, inclusive, ampliamos a quantidade de recursos destinados às nossas instituições através de editais da Fundação Araucária, através de projetos estratégicos contratados diretamente no âmbito da unidade gestora do Fundo do Paraná, e tudo isso com um intuito de apoiar os esforços de produção do conhecimento de nossos pesquisadores.

Existem investimentos do Estado em diversas frentes. Há ferramentas pensadas para otimizar esses recursos?

Estamos estruturando grandes redes de colaboração, a partir de uma ideia que a Fundação Araucária vem liderando, de criação dos novos arranjos de pesquisas de inovação. Estes novos arranjos têm reunido pesquisadores em temáticas absolutamente relevantes dentro das cinco áreas prioritárias do conhecimento fixadas pelo Conselho de Ciência e Tecnologia do Estado. Essa conexão das áreas prioritárias como os novos arranjos de pesquisa à inovação faz com que o investimento do Estado seja mais efetivo. Uma vez que os recursos são escassos, é preciso investir com assertividade, procurar minimizar ao máximo a locação de recursos que geram resultado relevantes para a sociedade como um todo.

Da AEN