Eleição presidencial no Equador tem acordo com FMI no centro dos debates
Para vencer em primeiro turno no país, o candidato precisa obter mais de 50% dos votos, ou 40% e uma vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado. Caso isso não ocorra, o segundo turno está marcado para 11 de abril.
O Equador, como era de se esperar, também sofre com a pandemia da covid-19, tendo inclusive protagonizado em parte do ano passado cenas dramáticas com o colapso do sistema de saúde em Guayaquil, “pérola do Pacífico” que é sua capital econômica. Em uma população de pouco mais de 17 milhões de habitantes, houve cerca de 15 mil mortes pela doença confirmadas.
Em 2020, o FMI projeta que o país tenha sofrido contração de 11%. Para 2021, a expectativa do Fundo é de crescimento de 4,8%. A economia equatoriana é dolarizada desde 2000, quando as autoridades tentaram com isso interromper um processo de forte desvalorização do sucre equatoriano. Mesmo antes da pandemia o país já apresentava problemas e havia fechado um acordo com o FMI em 2019. Em setembro de 2020, firmou um segundo pacto com o Fundo, com um montante de US$ 6,5 bilhões. No ano passado, o país obteve ainda uma reestruturação de mais de US$ 17 bilhões com credores privados.
Na política, o presidente Lenín Moreno tem índices muito baixos de aprovação. Aliado do ex-presidente Rafael Correa num primeiro momento, Moreno rompeu com o antecessor, que hoje vive na Bélgica – Correa tem dupla cidadania e foi condenado no ano passado a oito anos de prisão por corrupção no Equador, num processo que ele afirma ser perseguição política.
Nesse contexto de crise de saúde, econômica e política, o país realiza seu primeiro turno presidencial. Ex-ministro de Correa, o economista Andrés Arauz aparece à frente das pesquisas. Ele já disse em entrevistas que não pretende cumprir as condições combinadas no acordo com o FMI. Argumenta que as medidas impostas são “absolutamente draconianas” e defende um programa de retomada econômica.
A Eurasia destaca em relatório que Arauz baixou o tom recentemente sobre o FMI, dizendo-se agora disposto a negociar com o organismo. Para a consultoria, é improvável que ele abandone totalmente o acordo, “diante das necessidades significativas de financiamento e das alternativas limitadas”. Já Lasso é visto pela Eurasia como um candidato que, na reta final da campanha, mostra-se “cada vez mais populista”, na tentativa de ganhar votos, com anúncios como uma promessa de elevar o salário mínimo em seu primeiro mês no poder e de cortar impostos. “Essas posturas sugerem que o atual programa com o FMI será renegociado seja quem vença”, acredita ela.
Para a Capital Economics, os dois candidatos favoritos mostram “pouco apetite” para cumprir a agenda acertada por Moreno com o FMI. Essa consultoria acredita que as finanças do Equador devem continuar em situação ruim, “e os riscos de default soberano permanecerão elevados, seja quem ganhar”. A Capital Economics vê como maior a chance de um default desordenado sob Arauz. Segundo ela, a relação entre dívida e PIB do país deve seguir elevada, com os custos de empréstimo para o país “proibitivamente altos, acima de 1 mil pontos-base ou mais”, nos próximos anos. O momento de uma eventual crise futura é difícil de prever, diz a Capital Economics, apontando que isso dependerá as políticas do próximo presidente, “mas achamos que outra reestruturação da dívida em algum momento dos próximos cinco anos é uma possibilidade clara”.