Cidade de SP que espera vacinação em massa já vê procura por imóveis
A expectativa é de que 30 mil sejam vacinados, voluntariamente, a partir do dia 17. Serrana funciona como dormitório para aproximadamente 20 mil pessoas que trabalham em Ribeirão Preto e teve alto índice de infecções – 2.401 casos confirmados e 57 mortes. A professora aposentada Maria Elisa Valeriano, de 76 anos, diz que pretende tomar a vacina na primeira oportunidade. “Deus do céu, não tenho nem dúvida”, diz ela, cuja filha e genro estão isolados agora após serem contaminados.
A auxiliar de produção Maria José Torteli, de 41 anos, também comemora. Como a cidade foi dividida em quatro setores, ela já sabe que seu bairro está no último, em que a vacinação começa em 10 de março. A filha Valentina, de 2 anos, não será imunizada, mas é a principal preocupação dela e do marido. Ao se vacinar, o casal – que evita sair de casa desde o início da pandemia da covid-19- espera proteger mais a filha, que tem asma.
Já outros dizem não ter decidido se vão participar, como o soldador Claudinei Aparecido, de 41 anos. “Vou pela minha cabeça, não pela dos outros.” A Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac, passou por testes de eficácia e segurança, com 12,5 mil voluntários, e tem autorização de uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Mesmo com medinho, pretendo tomar”, diz a estudante Elaine de Souza, de 18 anos. Ela recebe mensagens por WhatsApp que colocam em xeque as vacinas, mas acredita que esse discurso vem perdendo força.
Alta demanda
Nas imobiliárias, o telefone não parou de tocar. Moradores de cidades vizinhas, da capital e de outros Estados tentam alugar casa em Serrana na esperança de também serem vacinados primeiro. As assistentes administrativas Marcela Amaral, de 27 anos, e Priscila Silva, de 37, contaram ontem mais de 50 ligações. “Há pessoas que propõem pagar um ano para manter o imóvel alugado por um mês”, diz Marcela. Ambas pretendem se vacinar. Segundo ela, alguns abrem o jogo durante a conversa. “A procura é principalmente por imóveis baratos e simples. Em alguns casos, (os imóveis) não comportam o tanto de moradores que a pessoa diz que compõe a família”, relata.
Ela já até elaborou um informativo padrão em que orienta ser necessário fiador, permanecer no imóvel por 12 meses e que a prefeitura vai fazer cruzamento de dados antes de aplicar a vacina. Segundo a prefeitura, a estratégia de mudar às pressas não vai adiantar – o Instituto Butantan já iniciou no semestre passado o cadastro de moradores e um mapeamento de Serrana.
O Butantan já desenvolvia o estudo na cidade desde meados de 2020. Até o início da semana, o projeto era denominado “Projeto S, de Secreto”; agora passar a ser “Projeto S, de Serrana”. A vice-prefeita e secretária de Saúde, Leila Gusmão, diz que as vacinas usadas nesse trabalho não interferem no número de doses distribuídas pelo instituto ao ministério. Para a gestão municipal, a imunização acelerada também encurta o caminho para a retomada econômica.
Segundo o Butantan, Serrana foi escolhida por ter alta prevalência do vírus. Para isso a cidade, foi dividida em 25 subáreas, que formarão quatro grandes grupos populacionais – denominados clusters -, cada qual identificado com uma cor distinta – verde, amarelo, azul e branco. Também não poderá tomar a vacina quem teve febre nas 72 horas anteriores. O estudo fará as comparações entre os clusters, antes e depois da vacinação.
Ciúmes
Na cidade vizinha, Altinópolis, algumas pessoas demonstram certo ciúme pela escolha. Outros têm a expectativa de que Altinópolis seja a próxima contemplada. “Seja lá ou aqui, o importante é que as pessoas tomem a vacina e a gente se livre logo desse vírus”, afirma o estudante Ramon Stopa, de 18 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.