Com lotação de leitos, Goiás aposta em mapeamento semanal com municípios
A medida evita o desgaste de editar um novo decreto limitando serviços e condutas sociais. Segundo o secretário de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, decretos anteriores não tiveram impacto em decorrência da autonomia dos municípios. A estratégia, afirma, será criar marcos, controlar a ocupação e reavaliar os dados semanalmente com os gestores municipais. A orientação estabelecerá três categorias de sinalização, atenção, crítica e de calamidade, com respostas adequadas para cada uma.
Nesta quarta-feira, 17, o governador vai alinhar as recomendações com prefeitos dos municípios que são os maiores focos de contaminação. Alexandrino assume que a recomendação que será expedida não tem a dimensão de um decreto, mas avisa que ela deve orientar cada gestor em cadência com a realidade local, e que ela tem capacidade de subsidiar futuros decretos municipais e estadual, se necessários.
“Em cada situação dessas haverá um conjunto de recomendações correspondentes ao cenário divulgado toda sexta-feira aos gestores municipais”, informou. A categoria de atenção será indicada quando a rede atingir 75% de ocupação dos leitos de UTI de um município. Já a categoria crítica vai ser declarada quando a ocupação for até 85%. Acima disto é declarada a categoria de calamidade do município.
Além das internações em UTI, também vão alimentar esse mapeamento a ocupação de leitos de enfermaria com pacientes de covid, a velocidade de disseminação do vírus, a capacidade e a velocidade de transmissão frente, por exemplo, às novas cepas do vírus que podem circular. Goiás já registrou três pessoas contaminadas com as cepas de Manaus e da Inglaterra.
Sofrimento
À parte das medidas sanitárias, padecem pessoas como a professora Luíza de Oliveira Martins, 64, que já teve a família toda abalada pela epidemia. Com a voz ainda embargada pela tosse e pelo impacto do sofrimento físico e emocional, ela relata que enterrou o pai de 93 anos em janeiro, vítima de covid-19, e que a doença já tinha atingido quase todos os familiares, “independentemente de isolamento”.
Hoje, uma das irmãs está internada em uma UTI de Goiânia. Além de Luíza, dessa irmã internada, o marido, a mãe, outra irmã e as duas filhas dela tiveram covid com diferentes níveis de sintomas e de gravidade. “Minha irmã e minhas sobrinhas pegaram duas vezes, isso é devastador”, conta. Segundo ela, os parentes vivem atormentados pelo medo de uma nova cepa, mais grave, alcançar a família já tão castigada. “Hoje não temos nem como vacinar minha mãe, que tem a idade, mas não está liberada ainda porque teve covid recentemente”.
A Câmara Municipal de Goiânia anunciou que fechará galerias e corredores a partir desta quarta-feira, 17, devido à grande quantidade de casos de covid entre parentes de servidores e vereadores. Foi justamente na cidade que o prefeito eleito em 2020, Maguito Vilela do MDB, morreu de covid-19 no dia 13 de janeiro, sem nem exercer a função. A doença também quase levou o prefeito de Catalão, no sudeste. Adib Elias ficou internado numa UTI de São Paulo por 24 dias, em estado grave, e há seis voltou para a cidade em recuperação.
Em Alto Horizonte, na região norte de Goiás, na semana passada, a prefeitura fechou por tempo indeterminado o gabinete do prefeito Luís Borges, e várias unidades depois que ele, a primeira dama Rosania Machado, e quatro secretários municipais, testaram positivo para covid-19. Nesta semana, um deles, o secretário de Administração, Wanderson Pereira, de 37 anos, morreu vítima da doença.
Leitos
Como em outros Estados, a situação ficou mais crítica após as festas de fim de ano. Mas o alerta acendeu na segunda-feira, levando o governo estadual a abrir emergencialmente 35 leitos de UTI, sendo 20 no sudoeste goiano (15 em Rio Verde e 5 em Mineiros), 5 em Senador Canedo na região metropolitana de Goiânia, e 10 novas UTIs para covid em Luziânia, no entorno do Distrito Federal.
O governo fala em abrir mais leitos de UTI nos municípios de Quirinópolis, São Luís dos Montes Belos e Santa Helena. Com a expectativa de progressão depois do carnaval, já que as cidades turísticas de Goiás estão movimentadas, a secretaria recomenda atenção à manutenção da rede de saúde por tempo indeterminado. Goiás já registrou 8 mil mortos por covid-19 desde 26 de março. Até agosto, eram 3 mil. Em cinco meses e meio, o número mais que dobrou.