Famílias improvisam UTI caseira no Amazonas
“Minha avó, infelizmente, piorou e foi entubada no hospital, mas vovô a gente se cotizou para comprar oxigênio, bipap e todo o equipamento necessário para montar quase uma UTI para ele”, contou ela.
Cuidado também em casa da covid-19, o empresário Ruberval Santana comprou um cilindro de oxigênio para seu tratamento. “Infelizmente a ineficiência dos hospitais públicos e privados nos leva a tomar atitudes assim”, conta o bancário Jhones Santana, filho de Ruberval. Para utilizar o equipamento a família precisou de ajuda profissional. “Contratamos um enfermeiro, que adicionou a válvula de instalação. Nos primeiros dias a fisioterapeuta manuseava; depois nós passamos a fazer isso “. Desde o dia 12, a família já gastou mais de 8 mil reais com o home care. Além do cilindro, o empresário faz todo dia exames e fisioterapia.
A realização de exames é vital. “Com o quadro agravando, não é só a questão de ofertar pressão e oxigênio”, explica a enfermeira intensivista Maria Cristina. “Esse paciente tem que ser monitorado também com exames de sangue – entre eles gasometria, hemograma, PCR e dímero-d”, acrescenta. “A falta de exames com resultados em tempo hábil, a visão de que o paciente precisa de tratamento intensivo hospitalar, pode ser o momento ‘ouro’ para alguns”, finaliza
A corrida para a compra de oxigênio, para quem está sendo tratado em casa é uma batalha diária. Nos grupos de WhatsApp é avisado quando chegam novos carregamentos em empresas particulares e longas filas se formam.
Preço triplicado
Ninguém reclama do preço, embora em alguns casos seja cobrado mais que o dobro do preço normal. “Um cilindro de 3 litros que custava R$ 1.000, está sendo vendido a R$ 4.000 aqui”, diz o vendedor de uma empresa de oxigênio. “Tem gente que chega com vários familiares, vários cartões diferentes e dinheiro trocado, é de cortar o coração.”
Na cidade de Itacoatiara (a 269 quilômetros de Manaus), segundo um médico do hospital José Mendes, há 87 pacientes internados e três entubados. “Revezamos os únicos cilindros durante a noite, mas perdemos seis pacientes. O oxigênio disponível só vai até o fim da tarde de hoje”, afirmou.
Em Manaus, quem conseguiu ser transferido para outros Estados comemora. “Meu pai esperava na antessala do 28 de Agosto, foi abordado com a proposta de ser transferido para o Piauí e aceitou. De lá ele fala comigo rapidinho pelo WhatsApp, está toda hora no oxigênio, mas lúcido. Todo dia uma psicóloga ou assistente social me liga”, conta a veterinária Sabrina Souza, também diagnosticada com covid, mas se tratando em casa.
Pazuello
Em Brasília, o ministro Eduardo Pazuello, da Saúde, voltou a dizer ontem que o governo federal não tem qualquer responsabilidade pelo que ocorre em Manaus. “Fizemos tudo o que tinha de fazer. Estamos fazendo e vamos continuar fazendo”, disse ele a jornalistas no Palácio do Planalto.
De novo, aproveitou para criticar a imprensa, voltando a mencionar o “tratamento precoce”. Irritado, afirmou que jamais elaborou protocolo ou estimulou o uso de qualquer medicamento. Segundo Pazuello, a defesa do governo federal é pelo “atendimento precoce”. E destacou: “Essa é a nossa guerra. A guerra contra as pessoas que estão manipulando nosso país há muitos anos”. Disse também que não adianta “colocar uma redoma em Manaus”, pois a variante já circula no resto do País. (Colaboraram Mateus Vargas e Emily Behnke).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.