Óleo de pimenta-de-macaco tem potencial para tratar doenças de peixes

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O óleo essencial da pimenta-de-macaco (Piper aduncum), planta nativa da Amazônia, apresentou mais de 76% de eficácia no controle de parasitas monogenéticos do peixe pirarucu (Arapaima gigas). O resultado foi observado em uma pesquisa que avaliou esse óleo a fim de substituir medicamentos veterinários. Os pesquisadores também determinaram parâmetros seguros para que o seu uso não comprometa organismos aquáticos não-alvo. Essa avaliação é importante caso os efluentes da aquicultura atinjam os corpos d’água nas áreas vizinhas e contenham traços do produto. O trabalho foi desenvolvido por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Embrapa Meio Ambiente (SP), da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) no âmbito do projeto BRS Aqua.

O óleo essencial de Piper aduncum mostrou ser eficiente e seguro para o controle de Hysterothylacium sp., um endoparasita responsável por significativas perdas econômicas em criações de várias espécies de peixes, incluindo o pirarucu, conforme estudos conduzidos por pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental.

TRATAMENTO NATURAL – Os óleos essenciais têm sido considerados como um método viável de prevenção e tratamento de doenças na aquicultura, causando menos efeitos ambientais adversos do que medicamentos veterinários. Eles têm mostrado interessantes propriedades para a aquicultura quando administrado corretamente, tais como sedativo, anestésico, antimicrobiano, imunomodulação e atividade redutora de estresse.

No entanto, é importante considerar que substâncias ativas derivadas podem ser estressores ou mesmo tóxicos se as condições (forma de administração, concentração usada, ações específicas da espécie, quimiotipo e composição química) não são adequadas

APLICAÇÕES – “Dependendo do objetivo, as aplicações são feitas por meio de banhos – para avaliação da atividade anestésica e no controle de alguns parasitos ou via oral – na dieta dos peixes para avaliação imunoestimulante e em desafios com bactérias, explica a pesquisadora da Embrapa Edsandra Chagas.

“Nossa equipe tem tido boas respostas quanto à atividade anestésica, atividade antibacteriana in vitro e como antiparasitário no controle de endo e ectoparasitos, como monogenea e acantocéfalos”, conta a pesquisadora ao revelar que a equipe realiza trabalhos também com outros óleos essenciais. Um estudo publicado pela equipe no Journal of Essencial Oil Research traz resultados de experimentos com esses óleos em tambaquis.

A cientista relata que os resultados dos estudos foram promissores, embora sejam relacionados apenas à escala laboratorial. Para que seja adotado na piscicultura, ela informa que serão necessários estudos de validação no campo que ainda não estão previstos.

A pesquisadora da Unicamp, Patrícia Miura, conta que a motivação do estudo surgiu por causa da carência de informações sobre o comportamento desse óleo essencial contra organismos aquáticos não-alvo ou seja, os não visados. Por isso, o grupo de pesquisadores decidiu realizar avaliações ecotoxicológicas para determinar parâmetros para o seu uso seguro em diferentes espécies de organismos aquáticos. “Portanto, esse estudo foi importante para assegurar que o seu uso não comprometa organismos aquáticos não-alvo”, explica o pesquisador Félix Reyes, da Unicamp.

Para Miura, o trabalho abre caminho para o uso de produtos naturais para controlar bactérias e larvas de nematoides em pisciculturas. “Esses organismos causam significativas perdas na aquicultura, e seu controle poderá ser feito também com outros óleos essenciais que também apresentaram eficácia comprovada nos testes”, acredita a cientista.

MANAUS (AM)