Pesquisa inédita mostra que o Brasil perde 2,4 bi por ano com a falta de tratamento do seu lixo urbano

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Se houvesse investimento no tratamento de resíduos, o Brasil reduziria esses custos localizados principalmente com sua saúde pública, diz Presidente da ABREN. País gasta 3,8% do seu PIB também com esses gastos

Investimentos no tratamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) reduziriam significativamente o custo com a saúde pública, informa Yuri Schmitke Almeida Belchior Tisi, presidente da ABREN. Os 13 países com uma taxa de tratamento térmico de RSU, superior a 25% do total gerado, estão também entre os 16 primeiros países no índice de saúde e bem-estar do Fórum Econômico Mundial.

De acordo com dados do Banco Mundial, disponíveis no relatório Aspectos Fiscais da Saúde no Brasil, divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional, os gastos públicos com saúde no Brasil corresponderam a 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2015. O país está na 64ª posição em gastos com saúde, no ranking com 183 países.

Segundo estudos da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), o custo do atendimento médico à população afetada pela má gestão dos RSU é calculado entre 10 e 20 $/T (dólares por tonelada) de RSU, equivalente a uma média de 75 R$/t (reais por tonelada). Em 28 regiões metropolitanas do Brasil com mais de 1 milhão de habitantes seria possível economizar cerca de R$ 2,4 bilhões por ano, ou seja, um valor de R$ 72 bilhões em 30 anos na saúde pública.

Por isso, a instalação de usinas de recuperação energética de resíduos (URE) permite incomensuráveis benefícios à saúde da população. Porém, o Brasil encontra-se entre os piores países do mundo no quesito gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU).

Apesar de apresentar bons indicadores na coleta, o país carece de tratamento de destinação final ambientalmente adequada de RSU, sendo que apenas 2% é reciclado e 2% passa pela compostagem, e ainda aproximadamente 40% é enviado para lixões e aterros controlados.

As usinas de recuperação energética de resíduos (URE) são hoje a única forma de se atender os padrões da economia circular no Brasil, pois os aterros sanitários, por melhor que sejam, não são mais aceitos como parte da economia circular, que prevê a redução, reaproveitamento, reciclagem, compostagem da fração orgânica e recuperação de energia da fração não reciclável de resíduos.  

Com base nesses dados, chegou-se no valor total de investimentos no Brasil de R$ 75 bilhões, que reflete o custo do CAPEX total de 118 usinas de 20 MWe de potência instalada, para atendimento de 3% da demanda nacional de eletricidade, fazendo o tratamento de 60 milhões de toneladas/ano de resíduos urbanos, que representa o lixo de 48% da população brasileira.

Ressalte-se que ainda existe enorme potencial de investimento em biodigestão anaeróbia da fração orgânica do resíduo sólido urbano, que pode gerar eletricidade a partir da queima do biogás ou gerar biocombustível a partir do biometano, que constitui cerca de 55% da composição do biogás, e é um gás renovável que pode ser misturado em qualquer fração com o gás natural. 

Outro importante potencial reside no coprocessamento, que consiste na separação e blendagem do Combustível Derivado de Resíduos (CDR), fração não reciclável e inorgânica do RSU, que hoje já é utilizado em diversas cimenteiras em substituição ao coque (combustível fóssil), para produção de clínquer, utilizado na fabricação do cimento Portland.

O Brasil possui 38 fábricas com licença ambiental para o coprocessamento, mas substitui apenas 3% do combustível fóssil por CDR do lixo urbano, sendo que a Alemanha substitui 62%, Bélgica 58%, Suécia 49%, França 35%, Itália 36% e Portugal 19%.

Além disso, o número de lixões aumentou 10% de 2010 a 2020, mostrando assim a baixa efetividade da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305/2010, e somente em 2020 o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PLANARES) entrou em consulta pública.

Da Assessoria