Falta de chuva pode comprometer a produção do milho safrinha

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O clima seco e a falta de chuva refletem uma realidade preocupante no campo e na cidade. A estiagem das últimas semanas prejudica as lavouras do milho safrinha, que neste momento precisam de umidade, e reduz os níveis dos reservatório, fazendo um apelo para o uso consciente da água para evitar um desabastecimento.

Historicamente, a estação do outono é considerada a mais seca do ano na região Oeste. Mesmo assim, é esperado um volume de, aproximadamente, 400 milímetros nos três meses. No entanto, as chuvas estão longe desse ideal. A região de Toledo está há quase dois meses sem chuva.

Segundo dados da estação meteorológica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), campus Toledo, o dia 17 de março foi o último registro de chuva na cidade. Na ocasião foram 27 milímetros registrados na estação. “Esse foi o último volume expressivo na região. Depois desta data tivemos registro de chuvas rápidas com dois a três milímetros, nada significativo”, explica o professor de Agrometeorologia da instituição Alexandre Luis Müller.

O mês de abril, segundo registro, contabiliza entre seis a oito milímetros de chuva. Apesar das condições preocupantes, Müller conta que o cenário ainda pode mudar.

“Pode ser que daqui 30 dias, antes de fechar a estação, tenhamos uma semana com muitas chuvas como aconteceu em janeiro. Com isso, a estação poderá fechar os dados dentro da média histórica, mas mal distribuídas. Por enquanto, a falta de chuva preocupa bastante”.

REFLEXOS – Quem tem escritório a céu aberto sente os primeiros reflexos da falta de chuva. As lavouras de milho safrinha estão no estágio que necessitam de umidade para o desenvolvimento da planta. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab) 80% das lavouras da Regional de Toledo estão em fase de desenvolvimento e 20% em fase de floração.

O professor de Agrometeorologia Alexandre Luis Müller cita que em algumas localidades da região Oeste, as plantas já iniciaram o processo de enchimento de grão. Mas a falta de água também prejudica essa etapa. “Foram poucas áreas plantadas em janeiro e elas precisam de muita chuva para a fase de enchimento de grão. Por conta da seca, as plantas estão mais feias”.

Já as lavouras mais atrasadas, que foram semeadas mais tarde, não apresentam essa condição. Ele conta que elas estão em estado vegetativo, mas também necessitam de umidade. “Aqui em Toledo, o plantio do milho foi tardio e ele ainda está no estágio vegetativo, por isso que as lavouras não apresentam tantos danos, mas aquelas que estão no estádio reprodutivo começam a ter mais problemas”, complementa.

ESTIMATIVAS – Segundo a Seab, a área do milho safrinha na Regional de Toledo foi atualizada para 432 mil hectares e uma projeção de 2.200.000 de toneladas. A produtividade desta safra foi estimada, inicialmente, em seis mil quilos por hectare. Segundo a engenheira agrônoma e técnica do Deral no Núcleo da Seab de Toledo, Jean Marie Ferrarini, a falta de chuva na região altera esses dados.

“Iniciamos a plantação da safra já com uma projeção de poucas chuvas, mas cada dia que passa a seca está mais grave. Voltou a esquentar durante o dia e a noite a umidade do ar baixou também. De seis mil quilos, agora estamos trabalhando com cinco mil quilos por hectare. Mas temos uma safra inteira pela frente e com uma condição de chuva a situação no campo poderá estabilizar”.

TRIGO – A falta de chuva também prejudica o produtor que precisa semear o trigo. Tradicionalmente, a cultura do cereal inicia em meados de maio e nesta época já deveria ter, ao menos, metade da área plantada. No entanto, Jean Marie salienta que somente 3% do total foi semeado.

Com uma área de 38 mil hectares para o plantio do trigo na Regional de Toledo, a projeção da Seab é colher 116 mil toneladas. “Sem chuva o produtor não vai plantar o trigo porque o grão precisa de umidade no início do seu desenvolvimento. Se ele semear mais tarde poderá atrasar a próxima safra da soja”.

ESTADO – O último boletim semanal agropecuário da Seab, divulgado no dia 30 aponta que o cultivo do milho de segunda safra no Paraná foi prejudicado de forma intensa pelo clima. Segundo informações, a produção paranaense será de 12,23 milhões de toneladas, uma redução de 16% quando comparada com a estimativa inicial que era de 14,56 milhões de toneladas. O plantio fora da época ideal e o clima extremamente seco para o período são os principais fatores que contribuíram para a redução de produção. Segundo os técnicos do Deral, as maiores reduções ocorreram no Nordeste (25%), Oeste (23%), Centro-Oeste (17%), Sudoeste (17%) e Norte (6%). O plantio da safra encontra-se praticamente finalizado, e as lavouras a campo 40% encontram-se em condições boas, 42% em condições médias e aproximadamente 18% estão em condições ruins.

Já a área do trigo no Paraná foi reavaliada para 1,16 milhão de hactares, 3% superior à do ano anterior, quando se plantou 1,12 milhão. Além de superior à de 2020, o número é levemente superior ao do levantamento de março (era de 1,14mi), especialmente em função de revisões em áreas no Sudoeste e Centro-Oeste.

Os municípios já aptos ao plantio têm, pelo menos, mais 20 dias para realização da semeadura dentro do zoneamento. Porém, quanto mais tardio o plantio, maior a possibilidade de sobreposição do ciclo do trigo com o início do plantio de soja, o que faz com que os agricultores estejam ansiosos para semear. Apesar das preocupações geradas pelo tempo seco, a perspectiva continua sendo de safra cheia, totalizando 3,8 milhões de toneladas, pois o atraso não deve impactar na produtividade média.

Da Redação

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