Projeto iguaçuense lança e-book educativo sobre a avifauna da Mata Atlântica

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Com o tema “Formação cidadã para a proteção da avifauna da Mata Atlântica”, na manhã do último sábado (7), o projeto Birdwatching Foz realizou uma mesa redonda virtual para lançar o livreto digital ‘Cantos da Nossa Mata’, resultado da trilha educativa Aves do Meu Quintal. Ofertada no ano letivo de 2020, a formação contou com a participação de sete alunos das turmas de 1º ano “A” e “B” do Curso Técnico em Agropecuária do Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP) Manoel Moreira Pena (Colégio Agrícola), localizado em Foz do Iguaçu.

Mediado pela educadora ambiental Karini Scarpari, doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), o breve bate-papo, disponível em https://youtu.be/G6VnQmRpa30, reuniu os idealizadores do curso, Derliz Moreno e Fabrício Vilela. A iniciativa foi concebida enquanto Pesquisa-Ação, na confluência inter e transdisciplinar entre a Educação Ambiental (EA) e a Educomunicação, tendo como foco a proteção da avifauna da Mata Atlântica – o segundo bioma mais biodiverso do planeta e que, hoje, possui somente 7% de área original. Na região Sul do Brasil, o maior remanescente contínuo deste bioma é o Parque Nacional do Iguaçu (PNI), que abrange 14 municípios, incluindo Foz do Iguaçu.

Baseado no método de Jornal Escolar do pedagogo Célestin Freinet, o modelo formativo desenvolvido pelo Birdwatching Foz teve seis encontros, os quais buscaram difundir e construir conhecimentos sobre as espécies de aves que integram a Unidade de Conservação (UC) regional. Promoveu-se o primeiro encontro presencialmente, em 9 de março de 2020, e os demais foram adaptados para a modalidade remota, devido à pandemia de COVID-19. Todavia, a retomada da trilha educomunicativa socioambiental aconteceu após quase cinco meses de intervalo, em 5 de agosto, e o percurso foi finalizado em 2 de setembro daquele ano. Encerrou-se a formação com uma aula teórico-prática de ilustração científica, ministrada por Cristiane Gardim, que ensinou aos jovens técnicas de desenho com materiais de fácil acesso.

Sete relatos envolvendo aves e sete textos livres de sensibilização foram produzidos ao longo do curso, cujos aprendizados se refletem na publicação “Cantos da Nossa Mata”, que pode ser conferida no link: https://issuu.com/birdwatchingfoz_/docs/cantos_da_nossa_mata. Durante o evento de lançamento, Fabrício Vilela, que é Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, relatou que a iniciativa surgiu em razão da “necessidade de os moradores de Foz do Iguaçu conhecerem a própria biodiversidade”. Para suscitar diálogos na sociedade, Vilela contou que a Pesquisa-Ação  também propôs atividades com amigos e familiares, a fim de coletar “memórias afetivas envolvendo as aves, para chamar a atenção […] para essa temática”.

DESTAQUE E-BOOK – Quando perguntado sobre qual o destaque do e-book, Derliz Moreno, mestrando em Políticas Públicas e Desenvolvimento pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), enfatizou o protagonismo dos alunos ao longo dos encontros formativos. Frente à crise democrática e ao mal uso dos meios de comunicação, o educador observou que a apropriação de ferramentas midiáticas, como o livreto digital, “é uma necessidade pujante na nossa sociedade […] mostrar que isso é parte do exercício da cidadania, que não é apenas o voto, mas, também, esse engajamento e esse protagonismo para a transformação, a partir das capacidades que cada cidadão tem”.

Guiado pela dialogicidade, o modelo formativo – estruturado entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020 – se propôs a contribuir para a formação de cidadãos livres, capazes de ler criticamente seus entornos, de construir conhecimentos e de intervir para a melhoria da qualidade de vida. Fomentar a difusão e a produção de conhecimentos acerca da biodiversidade do território, de acordo com os idealizadores da formação, gera sentimento de pertencimento ao meio ambiente e, consequentemente, propiciam ações práticas que contribuem na transição para sociedades sustentáveis. Vislumbra-se, então, a reconexão humana ao restante da natureza e o incentivo à mudança no padrão predominante de consumo, à proteção de corpos hídricos, à redução da poluição atmosférica, ao combate ao tráfico de animais e ao plantio de vegetação nativa.

BIRDWATCHING FOZ – Da paixão pelo Ecoturismo e pela observação de aves em ambientes naturais, nasceu o Birdwatching Foz, em maio de 2019. Com a proposta de realizar levantamento da avifauna da região de Foz do Iguaçu e apresentar os dados à sociedade local, inicialmente, o projeto contou com o educador ambiental Fabrício Vilela de Araújo e com o  jornalista Oscar Munhoz Neto, um interessado em fotografia de natureza. Tão logo, a iniciativa chamou a atenção de turistas e amigos que compartilham o mesmo propósito.

Em 23 de outubro de 2019, o que era para ser uma singela reunião, com a finalidade de constituir um grupo de estudos, selou o destino do recém-concebido projeto, com a chegada dos educadores Caio Cezar Santos Nobre e Derliz Hong Hung Moreno. Realizado na Sede Administrativa da UNILA, o encontro despretensioso foi responsável por gerar a trilha educativa Aves do Meu Quintal e outros projetos que propõem reconectar o ser humano ao meio ambiente, tais como passeios pedagógicos, contribuições em plataformas de ciência cidadã, como o WikiAves, e divulgação científica em mídias sociais, via Facebook e Instagram.

BIODIVERSIDADE – Foram feitas pesquisas em áreas de rica biodiversidade no município de Foz do Iguaçu, como às margens do PNI, na mata ciliar do Rio Iguaçu e nos arredores do Horto Municipal e da reserva ambiental do Bourbon Cataratas do Iguaçu Resort. As observações de campo são registradas em plataformas para ornitólogos e nas mídias sociais. Muito mais do que promover a diversidade biológica local, são analisados os impactos positivos e negativos de ações antrópicas e as relações ecológicas relacionadas às aves.

Hoje, o Birdwatching Foz estabelece parcerias com grupos, iniciativas e instituições, além de contar com a colaboração de diversos profissionais que acreditam na sensibilização pelo encantamento como ferramenta de EA. O projeto mostra ainda mais seu valor por ter esta responsabilidade frente à sociedade brasileira, em uma conjuntura de crise da democracia liberal e de enfraquecimento de políticas públicas para o meio ambiente. Buscou-se, ainda, somar esforços para reverter a crise civilizatória, em que o planeta Terra sofre com a destruição de habitats naturais, mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição do ar e da água.

FOZ DO IGUAÇU