Asma e a prática de atividade física: quais são os cuidados necessários?

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Existem muitos mitos que rodeiam a prática de atividade física, e um deles é sobre o agravamento de determinadas doenças. Algumas pessoas acreditam que praticar a atividade pode provocar ataques cardíacos em quem tem essa comorbidade. Outras se restringem quando possuem alguma limitação física, como patologias na coluna ou no joelho. Mas também tem quem jure de pé junto que a asma pode ser um fator impeditivo para uma vida fisicamente ativa. Vamos esclarecer essa história! 

Segundo Marta Cristina Rodrigues da Silva, Doutora em Ciências do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) com graduação e mestrado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), além de docente e pesquisadora na área, as pessoas com asma podem e devem se exercitar. Ao contrário do que se pensa, a prática beneficia não só o corpo como um todo, mas em especial a oxigenação do pulmão, que torna a capacidade respiratória cada vez mais desenvolvida.

Acontece que, apesar dos avanços no conhecimento sobre a doença e de novas formas de tratamento, asmáticos e seus familiares, assim como professores, não sabem muitas vezes como a pessoa com asma pode ter uma vida com mais qualidade e controle das crises, aponta a especialista. Essa é a origem da desconfiança. 

“Muitas vezes, nas pessoas acometidas pela asma, é gerado um medo de se exercitar. Algo que é muito alarmado pelos próprios pais ainda na infância, quando a criança está em desenvolvimento e, por receio, acaba não sendo motivada para isso. Por consequência, a pessoa passa a viver uma condição sedentária, o que compromete ainda mais a asma. Além de proporcionar condições ainda menos favoráveis para controle das crises asmáticas”, explica a especialista.

Resguardados os devidos cuidados, uma vida fisicamente ativa tem muitos benefícios para oferecer. Além de proporcionar todas as vantagens físicas, motoras e emocionais para o indivíduo, a atividade física auxilia o controle das crises de asma, podendo deixá-las até mais espaçadas. Segundo Marta, em qualquer atividade física a ser desenvolvida é essencial corrigir e aprender a respirar corretamente. Consequentemente, esse aprendizado tem um grande ganho na mecânica respiratória. 

A especialista explica que um pulmão treinado e melhor oxigenado faz bem para qualquer pessoa, seja ela asmática ou não. Mas para quem possui essa condição, obter o condicionamento favorece até mesmo no controle dos sintomas ansiosos, visto que a pessoa com asma muitas vezes desenvolve crises de ansiedade pelo medo das consequências da falta de ar nesses momentos.

A atividade física proporciona o fortalecimento corporal, melhora da condição cardiopulmonar, diminuição das crises, melhor controle nos momentos de crise, melhora da ansiedade e melhora da qualidade de vida. “Atividade física, quando bem orientada e com acompanhamento médico, é ideal para a população asmática, podendo trazer ganhos nos aspectos de saúde e qualidade de vida, tornando os sujeitos mais conscientes de sua respiração e aptos a ter uma vida mais ativa e com qualidade”, explica. 

Mantendo a atividade física em dia, mas sem abrir mão da segurança

E já que colocar-se em movimento é algo muito bem-vindo, é importante estar atento a alguns cuidados para que a prática de atividade física seja plena, prazerosa e benéfica. Principalmente para que seja evitada a chamada Asma induzida por Exercício (AIE), ou o broncoespasmo induzido por exercício, que é uma obstrução das vias aéreas que surge após alguma prática vigorosa.

Segundo Janaína Scalco, fisioterapeuta respiratória e doutoranda em Ciências do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a reação se caracteriza por sintomas como tosse, “chiados” e aperto no peito, ardência ao respirar, durante ou alguns minutos após a realização de uma atividade ou exercício. Sendo motivos de insegurança e desestímulo para a prática de atividade física por crianças, adolescentes e adultos com asma.

Mas esses episódios de AIE podem ser prevenidos ou minimizados com uso de estratégias farmacológicas e não farmacológicas, como reforça a profissional.  Isso quer dizer que dá para lançar mão de alguns medicamentos, conforme prescrição médica, ou até mesmo de pequenas atitudes que previnem o problema. Vale lembrar ainda que a AIE não vai acontecer com todo mundo que tem asma, apesar de ser uma condição comum para esse grupo. Mais do que isso, Janaína ressalta que até mesmo pessoas que não têm diagnóstico de asma também podem apresentar o problema.

Já em relação aos cuidados, antes de qualquer coisa a pessoa asmática precisa estabelecer com seu médico, no momento da consulta, um plano de ação para manter a atividade física segura. Nesse plano serão definidas a medicação e a dose a serem utilizadas antes da prática para prevenir ou minimizar a ocorrência de AIE, caso seja necessário. 

Já partindo para as estratégias não farmacológicas, Janaína orienta que podem ser adotados alguns cuidados como: utilização de máscaras ou lenços de tecido para pré-aquecer e umidificar o ar inalado durante o exercício, já que um dos fatores desencadeadores da AIE é o ressecamento das vias aéreas durante a prática. Assim, esse é um cuidado ainda mais útil em dias com umidade reduzida, baixa temperatura ou em locais com níveis elevados de poluição, condições que favorecem episódios de AIE, orienta a profissional. 

Um período de aquecimento antes e depois da prática também faz toda a diferença, sendo uma orientação para todos os indivíduos com asma. Segundo a educadora, a duração pode ser de 8 a 10 minutos antes de iniciar atividades ou exercícios físicos vigorosos. Ao final, também é importante fazer um desaquecimento gradativo, que consiste na redução da intensidade, exercícios de alongamento e relaxamento. 

Essa estratégia, baseada em exercícios contínuos de baixa intensidade, reduzem em aproximadamente 50% os episódios de AIE, conforme lembra Janaína. Isso acontece porque a preparação aumenta o fluxo sanguíneo das vias aéreas de forma gradativa, garantindo o adequado aquecimento e umidificação do volume de ar ventilado durante a prática. Da mesma maneira, o período de desaquecimento favorece a adequação no controle das vias aéreas. 

E quando acontecer uma crise, o que fazer? 

Para Janaína, é importante ressaltar que em momentos de crise de asma aguda, caracterizados por aumento abrupto dos sintomas mesmo em uso das medicações de rotina, a prática de atividade física não deve ser estimulada. Mas se o problema for o surgimento de sintomas de AIE, é possível controlar! Para isso, o indivíduo deve diminuir a intensidade do exercício, buscar fazer inspirações pelo nariz e soltar todo o ar pela boca de forma calma e controlada, diminuindo o ritmo. Se mesmo assim os sintomas persistirem, a profissional lembra que a medicação de alívio rápido pode ser utilizada novamente. Isso porque ela já é administrada normalmente 20 minutos antes do início da atividade física como estratégia preventiva.

“Pessoas que apresentam cansaço e falta de ar durante atividades físicas leves e moderadas, que comprometem a realização das atividades de vida diária, podem se beneficiar de um programa de reabilitação pulmonar prescrito por fisioterapeuta respiratório. Já está estabelecido que programas de reabilitação baseados em treinamento físico e educação para o auto manejo da asma conseguem melhorar a capacidade funcional e o condicionamento aeróbio, diminuir os episódios de AIE e melhorar o controle da asma, tanto para crianças e adolescentes como para adultos e idosos com asma”, finaliza.

Do Ministério da Saúde