Pós Covid-19: especialistas analisam as consequências da doença

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Em Toledo, 25.263 pessoas venceram a Covid-19 desde o começo da pandemia do novo coronavírus, de acordo com os dados do Boletim Epidemiológico divulgados ontem (10). No entanto, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 10% dos pacientes infectados pelo vírus podem apresentar algum tipo de sintomas, mesmo após a cura da doença. As consequências e os desafios para o Sistema de Saúde na atenção ao usuário no pós Covid-19 são objetos de estudos de profissionais que atuam na área.

Desde que surgiram os primeiros casos, a literatura médica registra sequelas que podem atingir diferentes partes do organismo. Até mesmo depois de meses do contágio e da alta médica, existe a chance de surgirem incidentes relacionados a doença.

Segundo o diretor da Secretaria de Saúde de Toledo o médico Fernando Pedrotti, os casos mais graves que apresentaram a necessidade de internação, de suporte em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e ventilação mecânica possuem mais chances de eventuais consequências com possibilidade de persistirem.

Entre as sequelas mais comuns estão tosse seca, cansaço, fraqueza muscular, dor de cabeça e perda de olfato e paladar. Os sintomas podem perdurar por algumas semanas. “Essa é a nossa realidade em Toledo. O que difere é a frequência e ela pode variar de acordo com o quadro clínico de cada paciente”, afirma Pedrotti.

Em abril deste ano, a revista Nature Medicina abordou o assunto e relatórios iniciais sugerem efeitos residuais da infecção do vírus, como fadiga, dispnéia, dor torácica, distúrbios cognitivos e declínio na qualidade de vida. Danos celulares e um estado pró-coagulante induzido pela infecção pelo vírus também podem contribuir para essas sequelas.

Além disso, um dos poucos estudos sobre o assunto foi publicado pelo Journal of the American Medical Association (Jama). De um total de 143 pacientes avaliados na Itália mais de dois meses depois de terem alta, apenas 18 estavam completamente livres de qualquer sintoma relacionado ao coronavírus, enquanto 87,4% relataram persistência de pelo menos um sintoma, entre eles fadiga (53,1%) e falta de ar (43,4%). Dor nas articulações foi observada em 27,3% e dor no peito, em 21,7%. Além disso, 44,1% dos pacientes apresentaram piora da qualidade de vida. O detalhe é que apenas 12,6% haviam tido a forma aguda da doença com passagem por uma UTI – nesses casos, é previsível que as sequelas permaneçam por um período mais longo enquanto dura a reabilitação.

COMPLICAÇÕES – Conforme o médico, os pacientes com maior risco para desenvolver Covid-19, em Toledo e região, são: quem teve necessidade de cuidados em uma UTI; idosos; presença de comorbidades orgânicas (doença respiratória preexistente, obesidade, diabetes, hipertensão arterial, doença cardiovascular crônica, doença renal crônica, pós-transplante de órgão ou câncer ativo).

Entre os principais sintomas ou sequelas por sistemas orgânicos, destacam-se: dispnéia; diminuição da capacidade de exercício (dispnéia aos esforços); hipóxia, são sintomas e sinais comumente persistentes capacidade de difusão reduzida, fisiologia pulmonar restritiva e opacidades em vidro fosco e alterações fibróticas em exames de imagem foram observadas no acompanhamento dos pacientes.

O médico comenta que a doença pode trazer sequelas para vários sistemas do organismo. Entre eles, o cardiovascular. O médico explica que o cidadão pode apresentar palpitações, dispnéia e dor no peito. “Os casos de sequelas de longo prazo podem incluir aumento da demanda cardiometabólica, fibrose miocárdica, arritmias, taquicardia e disfunção autonômica”.

No sistema gastrointestinal, as principais evidências são: dispepsia; síndrome do cólon irritável; eliminação fecal viral prolongada, a qual persiste mesmo após o RT-PCR se tornar negativo. Pedrotti salienta que a Covid-19 tem o potencial em alterar a microbioma intestinal, incluindo aumento de organismos oportunistas e redução de comensais benéficos.

Já no sistema endócrino, os sintomas mais observados são: aparecimento ou agravamento de diabetes mellitus pré-existente; tireoidite subaguda; hipertireoidismo; desmineralização óssea; suspeita de supressão do eixo e hipotálamo-hipófise-adrenal.

Outro sistema que pode sofrer as consequências dessa doença é o renal. Pedrotti revela que a Insuficiência Renal Aguda durante a Covid-19 ocorre na maioria dos pacientes. “Mas, redução da TFG foi relatada após seis meses de acompanhamento”.

Conforme o médico Pedrotti, cerca de 30% a 40% das pessoas que tiveram Covid-19 relataram sentir fadiga, mialgia, dor de cabeça, dificuldades de memória e de concentração, comprometimento cognitivo, ansiedade, depressão, distúrbios do sono e transtorno do estresse pós traumático.

“Humor deprimido, perda de interesse ou prazer em fazer as coisas, problemas com o sono, cansaço ou falta de energia, mudanças no apetite ou peso, sentimento de culpa ou inutilidade, problemas de concentração ou sentir-se lento ou inquieto”, são outros sintomas citados por Pedrotti.

ORIENTAÇÕES – Diante destas sequelas e sintomas no organismo, o médico recomenda que caso elas sejam persistentes após quatro semanas é preciso avaliar a existência ou não de complicações pulmonares; cardíacas e distúrbios neurocognitivos e psiquiátricos. “Os sintomas podem persistir por até seis meses. Com isso, o foco do tratamento será o manejo das comorbidades e a avaliação, acompanhamento, manejo e atuação multiprofissional”.

O diretor da 20ª Regional de Saúde Alberi Locatelli destaca que as equipes dos Municípios da abrangência da Regional já passaram por uma capacitação para compreenderam esse cenário. “Foi um momento de troca de experiência com cada Município. No geral, o pós Covid vai trazer diversos desafios, entre eles: retomar o atendimento da Atenção Básica, as atividades relacionadas ao atendimento dos grupos populacionais trabalhados na Saúde, como diabéticos, hipertensos, além de retomar as cirurgias eletivas”, finaliza Locatelli.

FREQUÊNCIA

A investigação da frequência de cada sintoma, nas últimas duas semanas, é realizada por meio da escola de Likert de zero a três, onde zero é nenhuma vez, um vários dias, dois mais da metade dos dois, três quase todos os dias.

Da Redação

TOLEDO