Seis a cada dez casos de cegueira poderiam ter sido evitados no País

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“As estatísticas, indicam que a cegueira já atinge 1,2 milhão de pessoas no Brasil e o mais triste é que ao menos 700 mil, ou 60% destes brasileiros poderiam estar enxergando normalmente, se tivessem tido acesso ao diagnóstico e tratamento apropriado”.

O alerta é da oftalmologista e diretora técnica do Hospital de Olhos de Cascavel, Selma Miyazaki, ao destacar a importância do “Abril marrom”, iniciativa de governos e entidades médicas que busca conscientizar a população para a importância dos cuidados preventivos. “A realização do check-up anual é a melhor forma de prevenir surpresas, porque através dele podemos detectar doenças que são silenciosas e só acabam sendo percebidas quando o mal já está feito”, diz a médica oftalmologista.

As que têm cura

Segundo a oftalmologista Selma Miyazaki, a cegueira pode ser reversível ou irreversível e na maioria dos casos pode ser prevenida ou tratada. Entre as causas de cegueira reversível destacam-se a catarata, ceratocone e descolamento de retina, desde que tratados em tempo. 

Mais comum entre elas, a catarata é uma doença caracterizada pela perda de transparência do cristalino, lente que fica atrás da íris, cuja transparência permite que os raios de luz atravessem, alcançando a retina e formando as imagens para enxergarmos. A catarata (opacidade no cristalino) dificulta a visão, fazendo com que a pessoa tenha a sensação de estar utilizando uma lente embaçada.

A doença pode ser congênita ou adquirida. Sua principal causa é o envelhecimento. Embora o problema apareça geralmente em indivíduos com mais de 50 anos, há casos de crianças que já nascem com a doença (normalmente filhos de mães que tiveram rubéola ou toxoplasmose no primeiro trimestre de gestação). 

Para catarata não existe tratamento, a não ser a cirurgia, com a inserção de uma lente intraocular, que recupera a visão, podendo inclusive vir a corrigir defeitos de visão para longe e perto, além da presbiopia, ou “vista cansada”. 

Já o cerotocone, segundo a médica, é uma doença não inflamatória degenerativa do olho, na qual ocorrem mudanças estruturais na córnea que a tornam mais fina e a modificam para um formato mais cônico (ectasia) que a sua curvatura normal. A doença pode causar distorção substancial da visão, com múltiplas imagens, raios e sensibilidade à luz. O tratamento inclui alternativas como óculos, lentes de contato, lentes de contato especiais ou cirurgias, como o transplante de córnea.

As doenças que pedem atenção em dobro

Entre as doenças que podem causar cegueira irreversível, a médica destaca a retinopatia diabética, o glaucoma e a DMRI. 

O Glaucoma, segundo ela, é uma doença ocular que acontece, na maioria dos casos, quando a pressão dos olhos está elevada. Esta pressão pode afetar o nervo óptico e causar cegueira. Normalmente, a pessoa com Glaucoma não sente nada nos olhos e sua visão é normal. Em grande parte dos casos, a doença progride lentamente sem que a pessoa se dê conta da perda gradual da visão periférica. 

A doença ocorre com mais frequência em pessoas acima de 45 anos, com histórico familiar de casos, pessoas com pressão intraocular anormalmente elevada, descendentes de africanos ou asiáticos, diabéticos, míopes, pessoas que usam prolongadamente colírios à base de corticoides e com lesão ocular anterior.

O tratamento varia de acordo com a manifestação do glaucoma. Em geral,  é feito à base de colírios, medicamentos orais, cirurgia a laser, cirurgias convencionais, implante de sistemas de drenagem e uma combinação de alguns desses métodos. A meta é controlar e impedir a progressão da perda visual,  mantendo a pressão intraocular em níveis satisfatórios.

Já as pessoas que têm diabetes apresentam um risco de perder a visão 25 vezes maior do que as que não possuem a doença. A Retinopatia Diabética atinge mais de 75% das pessoas que têm diabetes há mais de 20 anos. Trata-se de uma doença complexa e progressiva que afeta os vasos sanguíneos da retina. Um material anormal é depositado nas paredes dos vasos sanguíneos da retina, que é a região conhecida como “fundo de olho”, causa estreitamento e, às vezes, obstrução do vaso sanguíneo.  Além de enfraquecer a  parede dos vasos, provocando deformidades conhecidas como microaneurismas.

Estes microaneurismas frequentemente rompem-se ou extravasam sangue causando hemorragia e infiltração de gordura na retina. Existem duas formas de Retinopatia Diabética: exsudativa e proliferativa. Ambos os casos podem levar a uma perda parcial ou total da visão. O controle cuidadoso do diabetes com uma dieta adequada, o uso de hipoglicemiantes, insulina ou uma combinação desses tratamentos são a principal forma de evitar a Retinopatia Diabética.

A Degeneração Macular Relativa à Idade (DMRI) é outra doença silenciosa e muitas vezes irreversível, que acomete pessoas acima de 55 anos. Em pacientes obesos e fumantes, o risco é ainda mais elevado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, cerca de 3 milhões de brasileiros convivem com a doença – em seus mais diferentes níveis. Existem, segundo a médica, dois tipos de DMRI. 

Nos casos de DMRI seca, os oftalmologistas têm optado pela indicação dos compostos vitamínicos A e E, selênio, luteína e ômega 3. A medida requer o consumo ininterrupto durante quatro anos para conter o avanço da doença, que tem nível de sucesso aproximado de 25%. Já os danos na visão podem ser minimizados pelo uso de lentes ou óculos específicos para cada nível de perda da visão. A forma úmida da doença é controlada com antiangiogênicos. Os medicamentos são aplicados nos olhos, agindo diretamente na regressão dos vasos.

“Estes são exemplos das diferentes doenças que ameaçam diariamente  nossa capacidade de poder ver e apreciar o mundo. E a melhor maneira de preservar a saúde dos olhos é fazer uma avaliação com o oftalmologista, ao menos uma vez por ano”, reforça a médica Selma Miyazaki. 

Da Assessoria