Covid-19: Sistema de Saúde entra em colapso e não há vagas na 20ª RS

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A ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) exclusivos para pacientes com Covid-19, na 20ª Regional de Saúde de Toledo alcançou, novamente, a lotação máxima na última quinta-feira (10). Além dos 62 leitos ocupados, outros 40 pacientes aguardavam por uma vaga na Regional e 171 na abrangência da Macrorregição Oeste, de acordo com o Boletim da 20ª RS, divulgado no início da tarde de ontem.

A situação reflete um cenário de alerta máxima em relação ao aumento de casos da doença, a rapidez no agravamento do quadro clínico do paciente, a mudança de perfil dos internados na UTI, a disponibilidade de equipamentos e profissionais capacitados para o atendimento, o estoque de medicamentos para o tratamento e os cuidados para evitar a proliferação do vírus.

Na última terça-feira (8), o Município de Toledo estabeleceu uma nova classificação na matriz de risco, a bandeira preta, indicando o extremo risco para a Covid-19. Já na noite de quarta-feira (9), a Secretaria de Saúde do Município comunicou, no site da Prefeitura, que não havia mais capacidade de atender novos pacientes graves no Pronto Atendimento Municipal Doutor Jorge Nunes (PAM/Mini Hospital).

COLAPSO – A realidade é a mesma na 20ª Regional de Saúde de Toledo, de acordo com o diretor do órgão Alberi Locatelli. Ele comenta que a Regional vive uma ascensão de casos ‘assustadora’ desde o final de maio e as estruturas hospitalares no âmbito da 20ª RS não haviam se recuperado da grande demanda que houve em março. “Por mais que buscássemos novos leitos, toda a estrutura é finita. Por mais que conseguíssemos todos os equipamentos, não temos estrutura de profissionais. Hoje nós agradecemos o trabalho deles. São profissionais que vivem no limite físico e emocional”.

Locatelli salienta que a pandemia mudou um pouco o perfil do paciente: o vírus da Covid-19 está mais agressivo, os pacientes hospitalizados são mais jovens e com mais tempo de internamento, com isso a rotatividade dos leitos de UTI está mais lenta. Quem ocupa leitos de enfermaria também apresenta quadro clínico preocupante. O diretor cita que, geralmente, o paciente não se recupera antes da transferência para um leito de UTI.

No âmbito da 20ª Regional de Saúde de Toledo são quatro hospitais de atendimento para a Covid-19: Associação Hospitalar Beneficente Moacir Micheletto, em Assis Chateaubriand, Hospital Municipal Prefeito Quinto Abrão Delazeri, em Palotina, Associação Beneficente de Saúde do Oeste do Paraná (Hoesp), em Toledo, e Hospital Beneficente, em Guaíra, com leitos somente de enfermaria. “Todos eles recebem pacientes de outros municípios e está tudo sobrecarregado”, pontua Locatelli.

LIMITE – Além da lotação de leitos de UTI, outro problema preocupa as autoridades: a grande demanda de insumos e medicamentos para a assistência aos pacientes internados. O diretor da 20ª RS esclarece que, semanalmente, chegam remessas de vacinas e de medicamentos que são distribuídos, prioritariamente, às unidades hospitalares referência da Covid-19. “Vivemos no limite. Não tem como atender mensalmente. O estoque é limitado. Ninguém fica desabastecido, porém ninguém tem estoque sobrando”.

Outra manobra que tem sido realizada é o empréstimo de equipamentos entre os municípios para auxiliar localidades com grande fluxo de pacientes, como por exemplo Tupãssi e Dois Vizinhos que cederam equipamentos para a assistência de pacientes de leitos de enfermaria. Porém, em alguns lugares, todos esses esforços não são suficientes.

“Toledo chegou ao limite. Não tem mais ponto de oxigênio para instalar respirador. Liguei para outros hospitais de referência e a Regulação para verificar a possibilidade de transferência e aliviar a demanda do Mini-hospital (PAM); liguei para Curitiba e a resposta que tive é que dentro do Estado a situação é a mesma: não tem vaga”, afirma Locatelli.

Já foram adotadas várias estratégias para desafogar o Sistema de Saúde. Novas medidas estão em estudo em alguns municípios da Regional para ampliar o atendimento, porém todas as propostas esbarram em uma dificuldade: a falta de profissionais especializados para atuar em uma UTI. Em Toledo, por exemplo, foram deslocados profissionais da Atenção Básica para atender no Mini-hospital (PAM). “A situação é dramática. Tira um paciente para atender outro. A medida que abre vaga a Central de Leitos consegue tirar uma daqui, mas todo dia tem novo paciente”, pontua o diretor.

CONSCIENTIZAÇÃO – Alberi Locatelli conta que na noite de terça-feira (9), ele se reuniu on-line com representantes dos diversas entidades e órgão públicos da região como a Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop), prefeitos e secretários da região, Ministério Público, Consamu e unidades hospitalares para adotarem medidas regionais mais restritivas para tentar conter o avanço da Covid-19 e reforçar o trabalho em conjunto.

“Mas, o reflexo de uma decisão ou medida adotada neste momento será daqui duas semanas. Então, infelizmente, vamos vivenciar esse ‘caos’ nos próximos dias. A população precisa compreender a gravidade da situação. Não tem possibilidade de criação imediata de leitos. Vivemos o drama de famílias e é triste não poder ajudar. Não é uma realidade exclusiva do Sistema Único de Saúde (SUS), na rede privada e suplementar a situação é semelhante, não há vagas”.

O diretor da 20ª RS salienta que é preciso medidas mais rígidas para conter o avanço da doença e desafogar um pouco o Sistema de Saúde. “Quando o governo lança um decreto o motivo principal é que o sistema não tem mais condições de atender a população. É preciso parar para conter o vírus e evitar levar para um leito hospitalar um paciente que não esteja com Covid-19. É preciso fazer algo para dar um corte (no avanço de casos)”.

Ele reforça que os cuidados para evitar a contaminação pelo novo coronavírus devem ser redobrados. “Se a pessoa está com vírus, por favor, se isole. Não saia pela cidade disseminando o vírus”, finaliza Alberi.

Da Redação

TOLEDO