Desempregados e não andarilhos: Albergue aponta novo perfil de público acolhido

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Em fevereiro, o Albergue Noturno Allan Kardec, agora como Casa de Passagem, retomou os atendimentos. A estrutura passou por diversas reformas que permitem melhor atender o público acolhido. Neste mês de ‘portas abertas’, a equipe do Albergue notou que as pessoas que solicitam o acolhimento apresentam outro perfil: não são exclusivamente andarilhos, mas sim trabalhadores que perderam o emprego e acabaram sem teto.

“A procura pelo Albergue tem está sendo bem maior do que antes da pandemia e com um perfil diferente. Muitas pessoas de outras cidades têm vindo a Toledo em busca de emprego e para alguns, a única alternativa de abrigo é o Albergue”, declara o diretor o Albergue, Ademir Francisco Bebber. “O perfil das pessoas que hoje estão sendo atendidas no Albergue, em sua maioria não são andarilhos, são trabalhadores afetados pelo fechamento de empresas no Brasil. Acreditamos que haverá um aumento significativo de pessoas em estado de necessidade. Felizmente em Toledo está tendo bastante emprego”.

Bebber enfatiza que, desde que o Albergue voltou a atender, já foi possível dar suporte para dezenas de pessoas se inserirem no mercado de trabalho. Ele destaca que o público frequentador do Albergue, nestes 27 anos de funcionamento, foi predominantemente masculino (90%); nessa nova fase, em sua maioria, são pessoas acima de 40 anos, trabalhadores em busca de uma oportunidade de se reinserirem no mercado.

“Há pessoas com problemas de todos os tipos imagináveis e atendemos a todos. Porém nossa meta é solucionar os problemas das pessoas em definitivo. Não queremos atender as mesmas pessoas por dezenas de anos, mantendo-as na miséria. Nossa meta é atendê-las o tempo que for preciso hoje para que elas ‘se levantem’ e nunca mais venha a necessitar de dormir em um albergue”, esclarece.

O SOCORRO – As normas do Albergue não diferem das de outro ambiente social. A única regra é que a pessoa não esteja embriagada ou sob o efeito de entorpecentes. “Não há a menor resistência para acatar as regras internas quando a pessoa tem fome e está sem teto, bendiremos mil vezes quem nos socorre, jamais haverá resistência a um ato de amor. É claro que a pessoa que não respeita o ambiente em que está não é digna de usufruir, tratamos as pessoas da mesma forma que somos tratados em um restaurante ou hotel. A única diferença é que há hora pré-fixada para as refeições”, pontua o diretor.

Medidas de segurança e todos os protocolos de combate a Covid-19 são devidamente aplicados pela equipe. A capacidade total do Albergue, atualmente, é de 28 pessoas. Devido a pandemia, o acolhimento acontece apenas em 50%, ou seja, 14 atendidos por dia.

ACOLHIMENTO NOTURNO – O acolhimento acontece por ordem de chegada. A pessoa tem um local adequado para tomar banho, recebe jantar, espaço para dormir, café da manhã e almoço. No momento, a estrutura não conta com toda a equipe necessária para o preparo das refeições, por isso, o almoço ofertado é uma marmita para cada acolhido.

“Hoje, não temos espaço físico para convivência, afim de que as pessoas permaneçam no Albergue durante o dia, isto é, ao amanhecer, todos precisam sair do Albergue e retornar somente às 18 horas, mesmo aos domingos. Temos um projeto de ampliação e pretendemos, ainda neste ano, iniciar a obra. A ampliação é extremamente importante, para não comprometer o resultado de nosso trabalho”, comenta o diretor.

A ideia é ampliar o local para que a pessoa acolhida tenha a oportunidade de recomeçar a vida. O projeto prevê a construção de um auditório, área para televisão, biblioteca, laboratório e setor administrativo, para a realização de palestras, oficinas, meios de capacitação.

DOAÇÕES – O diretor comenta que comparado com outros tempos, o Albergue tem recebido poucas doações, tanto de alimento quanto de agasalhos. “Sabemos que as pessoas carentes, hoje, estão muito mais carentes, mas nós não podemos ficar indiferentes, as dificuldades neste ano serão maiores, o frio pode aumentar, o que não pode é esfriar nosso coração. Somos otimistas racionais, acreditamos honestamente em Deus, Ele jamais poria em nossos ombros, fardos maiores que nossas forças”, conclui o diretor ao enfatizar que apesar das dificuldades os trabalhos continuam.

PERÍODO FECHADO

Em maio de 2018, o Albergue Noturno Allan Kardec suspendeu as atividades para os trabalhos de reforma. Em 2019, a diretoria encaminhou um ofício ao Conselho Municipal de Assistência Social de Toledo e solicitou a emissão do registro, porém a resposta apresentada em outubro do mesmo ano não foi favorável. O documento emitido pelo Conselho, na época, considerou que o Grupo Espírita Fraternidade – entidade mantenedora do Albergue Noturno Allan Kardec – não estava prestando serviços para a população fator que inviabilizava a emissão do registro solicitado até a efetivação dos atendimentos fosse realizados de maneira continuada. Devido alguns atrasos nas obras e o Albergue ficou seis meses sem atender a população. Na época, segundo o diretor, o Conselho não emitiu o registro e alegou que seria preciso voltar a atender a população e isso sem contar com o apoio financeiro do município.

Da Redação

TOLEDO