Despedida: óbitos pela Covid-19 alteram rotina e preocupam autoridades

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O silêncio do luto ou da despedida é interrompido pelo barulho de máquinas escavando a terra. Em meio a flores e as homenagens há também placas de concreto. A demanda de trabalho teve que ser intensificada para atender a triste e real situação do município. O crescimento de óbitos em decorrência da Covid-19 acelerou os trabalhos de ampliações das vagas no Cemitério Jardim da Saudade, localizado na região dos bairros Jardim América/Europa.

O coordenador do local Giovanni Franco Zibetti explica que os trabalhos de aberturas de novas covas são constantes, mas com o agravamento da pandemia e o aumento de óbitos no município as equipes aceleram os serviços para atender a triste demanda.

No Cemitério Jardim da Saudade, à medida em que as máquinas abrem novas vagas, logo elas são ocupadas. Na tampa das novas sepulturas as flores ainda intactas refletem a dor e a tristeza de uma partida rápida e injusta. “Já tivemos até cinco sepultamentos em único dia”, conta Zibetti.

O coordenador cita que a demanda tem sido fora do comum, algo que ele não viu em 22 anos de atuação nos Cemitérios da Saudade e Cristo Rei, localizado no Jardim La Salle. Segundo Zibetti, a média mensal era de 52 sepultamentos em 2019 nos dois locais.

“Em março de 2021, um dos períodos mais críticos das pandemia, foram registrados 113 sepultamentos em Toledo, a maioria deles de munícipes. Houve uma queda em abril com o registro de 73 e logo depois subiu para 88 sepultamentos em maio”, comenta ao explicar que 30% dos sepultamentos são realizados no Cemitério Cristo Rei.

ÓBITOS E CASOS – São 23.211 casos e 348 óbitos contabilizados pela Secretaria de Saúde, em Toledo, desde o começo da pandemia, de acordo com o Boletim Epidemiológico fechado às 17 horas de ontem (16). Até o dia 14 de junho, conforme dados do Sivep-Gripe e Notifica-Covid, Toledo contabilizou 1.598 casos da doença e 30 óbitos. Enquanto que em maio foram 2.182 casos e 50 óbitos. Em 2021, março foi o mês considerado mais preocupante pelas autoridades, chegando a 3.250 novos casos e 79 óbitos.

Foram dias intensos e quando acreditava-se que poderia haver uma melhora, pois os novos casos diminuíram para 1.110 e 41 óbitos em abril, a situação ficou complexa.

Conforme o diretor da Secretaria de Saúde de Toledo o médico Fernando Pedrotti, no atual cenário, o ‘x’ da questão é que o Município não havia se recuperado das demandas referentes a março. Ele explica que a taxa de média de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid-19 não havia retornado para um patamar razoável. “Ela estava em uma taxa de ocupação inferior a 70%. No começo do novo aumento de casos, as taxas estavam em torno de 90%. A situação fez com que Toledo voltasse a apresentar, rapidamente, uma situação de colapso no sistema”.

O médico enfatiza que a situação de colapso amplia a demanda nas UTI’s e pacientes permanecem entubados em unidades, que deveriam prestar atendimentos somente de urgência e de emergência para a população. Essa é uma realidade de Toledo como de outros municípios.

“O tempo de espera por leito hospitalar e de UTI Covid-19 está relacionado a um pior prognóstico, ou seja, a um maior índice de registro óbito. Quanto maior o tempo de espera, maior a possibilidade do paciente evoluir para óbito. Essa é uma angústia das autoridades, assim como de todos os profissionais em Saúde”.

Até a última segunda-feira (14), a taxa de letalidade em Toledo estava em 1.5%, um índice – tecnicamente – considerado menor em relação ao Estado (2.49%) e ao Brasil (2.8%). “Mas ao perguntar para uma das famílias que perderam um ente querido nesta pandemia, com certeza, a letalidade é alta”, comenta Pedrotti.

Além disso, existe uma tendência de queda para o registro de novos casos, porém, essa diminuição não representa que Toledo vive uma situação confortável, já que as taxas de ocupações em leitos permanecem altas. “Nós saímos de um momento muito crítico e passamos para uma situação crítica. Diminuir o registro de novo caso é importante, pois significa que vai diminuir o número de paciente que poderá evoluir com complicação ou ser internado, entubado, enfim, evoluir óbito. Ainda precisamos de um longo caminho para conseguir níveis razoáveis”, destaca o médico Fernando Pedrotti.

PROTOCOLOS – As cerimônias fúnebres de vítimas acometidas pela Covid-19 foram alteradas seguindo os protocolos estabelecidos pelas autoridades em Saúde para evitar a contaminação. Os servidores dos Cemitérios passaram a utilizar os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para realizar o sepultamento. A despedida também ficou mais curta e mais solitária. “Tivemos que reduzir o tempo de velório e sepultamento e restringir a cerimônia somente para os familiares próximos para evitar aglomeração”, pontua coordenador dos cemitérios de Toledo Giovanni Franco Zibetti.

Apesar da demanda por conta dos óbitos da Covid-19, os trabalhos de ampliação do Cemitério Jardim da Saudade terá um acréscimo de 50%, com capacidade para mais 4.500 sepultamentos aproximadamente. A área para a ampliação, localizada a direita do local, foi incorporada ao patrimônio público em agosto de 2012. Zibetti cita que os trabalhos iniciam em julho.

“No local será feito um trabalho de drenagem, terraplanagem, construção de banheiro, ruas, ampliação das quadras, iluminação, galerias, bicas de água, palco e o paisagismo”, explica o coordenador ao complementar que no Cemitério Cristo Rei não é possível fazer ampliação do local, somente reaproveitamento de espaço e adaptações em novas áreas que o Município disponibiliza.

Da Redação

TOLEDO