Barítono Paulo Szot se apresenta em Porto Rico

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Depois de 15 meses, o barítono Paulo Szot finalmente voltará ao palco para um show presencial – neste sábado, 8, ele se apresenta em San Juan, capital de Porto Rico, onde tanto vai interpretar canções clássicas da Broadway como zarzuelas, gênero parecido com a ópera. “Fui convidado por uma organização local, a CulturArte, e fiquei mais animado por estar acompanhado pela orquestra American Pops”, conta ele, que transita com segurança e talento entre dois gêneros que, para os puristas, não deveriam se cruzar: a ópera e o musical.

Aos 51 anos, Szot (pronuncia-se “chót”) há muito ignora essa fronteira: um dos melhores barítonos da música clássica atual, ele vem consolidando também uma carreira no teatro musical. Assim, coleciona papéis marcantes em óperas, como Fígaro, de Barbeiro de Sevilha (Rossini), e Escamillo, de Carmen (Bizet), e também em espetáculos ao estilo Broadway, como South Pacific (pelo qual se tornou o primeiro brasileiro a ganhar um Tony, o Oscar do teatro americano) e Chicago, no qual estava em cartaz, em Nova York, no ano passado, quando os teatros foram fechados.

“Além de várias apresentações operísticas em diversas cidades do mundo, eu estava planejando participar da montagem brasileira de Chicago, que estava prevista para 2020”, conta Szot, que vive o matreiro advogado Billy Flynn e ainda aguarda a definição dessa estreia, no Teatro Santander – possivelmente no final deste ano ou início de 2022.

Durante a pandemia, o cantor não participou de lives como vários fizeram pelo mundo todo. “Não tenho nada contra, mas sou um artista de palco, que sofre quando tem de se adaptar para câmeras”, explica. “É outro universo, não tem o calor da plateia, o que dificulta a nossa reação.”

Por outro lado, Paulo Szot aproveitou o momento de isolamento para divulgar o CD duplo Jardim Noturno, lançado pelo Selo Sesc. Trata-se da reunião de canções – algumas inéditas – e peças para piano de Claudio Santoro, compositor brasileiro cujo centenário de nascimento foi festejado em 2019. “Era um sonho que eu tinha, de deixar gravado algo tão importante de um artista que é uma referência”, conta Szot, cuja interpretação tem o acompanhamento do pianista Nahim Marun.

A preocupação em preservar peças históricas, aliás, motiva um ambicioso projeto em que Szot já trabalha, ao lado de Marun e da pesquisadora Camila Fresca. Chama-se Cancioneiro Brasileiro e pretende apresentar, em oito CDs com voz e piano, o repertório das principais escolas nacionais de composição, desde o século 19, no tempo do Império, até os dias atuais.

“Sempre que viajo, sou perguntado em outros países sobre composições brasileiras e, com o tempo, notei que muita coisa ainda estava dispersa”, revela Szot, cujo projeto ambiciona tornar disponível as partituras das canções. Além da importância histórica, o trabalho vai propagar também apresentações em português, o que vai desmontar a tese de que nossa língua não é adequada para o canto lírico.

O desenvolvimento de Cancioneiro Brasileiro está adiantado, do ponto de vista de pesquisa, e pretende relacionar as criações com seu tempo. Assim, trabalho musical de Chiquinha Gonzaga, Alberto Nepomuceno e Francisco Braga, todos compreendidos no período entre 1840 e 1860, dialoga com a escrita e a poesia de Machado de Assis, Gonçalves Dias e Olavo Bilac. “Neste sentido, mostramos como as canções se relacionam com religião, línguas indígenas e até paixões caboclas.”

A ideia é de que o projeto seja lançado logo em 2022, quando será comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna,que aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo. “Trata-se de um projeto de estudo e, por isso, vamos torná-lo disponível para bibliotecas de todo o mundo”, observa Szot.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.