Mas ele é cego…

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Sempre trabalho com a ideia de que é importante olhar mais uma vez para todas as situações com a pretensão de ver nelas oportunidades. Todos os eventos em que nos envolvemos, no meu ponto de vista, oferecem as mais variadas oportunidades. Podem ser eventos fortuitos ou não, com graves ou suaves consequências, entendo que se pode dirigir para eles um novo olhar. Não digo que sejam situações fáceis ou que seja simples fazê-lo.

Outro dia, enquanto apresentava essa ideia, um rapaz me interrompeu e disse:

– Acho que não concordo muito com isso… Eu tenho um amigo cego, daí me pergunto: como ele vai olhar mais uma vez? Ele não vê nada…

Fiquei um pouco surpreendido com a pergunta. Não foi pela sua dificuldade, mas por não haver entendido o sentido metafórico de olhar mais uma vez. Respirei, calei os meus julgamentos e respondi:

– Muito bem, eu tenho que concordar contigo, disse.

Prossegui comentando que o sentido de olhar não se limita a capacidade dos olhos de traduzir em imagens aquilo que está à nossa frente. Olhar mais uma vez é muito mais do que isso. Quando você leva o carro para a mecânica e pede para que “deem uma olhada” não é para que o fiquem admirando. Quando alguém faz um check up médico e diz que deu “uma olhada na saúde” também não tem o sentido de ver, mas sim de analisar, examinar, investigar e observar a situação para, a partir dela, fazer um diagnóstico que lhe permita tomar as ações adequadas. É esse o conceito que está por trás da expressão Olhe mais uma vez! Em cada situação novas oportunidades. Avançando para o ambiente organizacional, existem muitos cegos, surdos e paraplégicos em diferentes níveis hierárquicos e de gravidade. São tantos os líderes cegos que, ao não olharem mais uma vez para o ambiente e para as pessoas, não veem a necessidade de estimular a autonomia em busca da excelência por meio do alinhamento da missão organizacional e do propósito individual. No ambiente organizacional, são tantos os líderes surdos que não escutam as pessoas e os sons do ambiente e deixam de incentivar programas de desenvolvimento individual e prejudicam o crescimento organizacional. São tantos os líderes que estão paraplégicos de tanto correr, porque com a aceleração não permitem que a organização caminhe na direção escolhida. Para que não sejamos cegos, surdos e mudos é fundamental se manter na mente do aprendiz e assim ampliar a visão sobre o ambiente, escutar os sons do meio e mover-se na direção pretendida. Para isso, muitas vezes é fundamental fechar os olhos para ver; é essencial silenciar para escutar; e é indispensável parar para se manter no caminho.

Enfim, no ambiente organizacional ou relacional, muitas vezes, não se sabe quem são os cegos, os surdos e os paraplégicos entre nós. Isso depende de cada um e da amplitude das suas ideias. Com relação ao amigo que não havia entendido a metáfora, somente posso lhe agradecer, porque o seu questionamento me fez olhar mais uma vez. Essa ideia está descrita no final do livro “Olhe mais uma vez ez”(p. 147): “É importante viver sabendo que podemos falar sem proferir palavras; que podemos ouvir sem escutar os sons; que podemos ver sem as imagens; que podemos caminhar sem mover as pernas; enfim, que podemos aprender a aprender mantendo a mente aberta e em sintonia com o mundo percebendo as oportunidades que nos rodeiam.”

Como anda a sua visão?

Como está a sua audição?

E a sua mobilidade?

Às vezes, é preciso ressuscitar nossas capacidades…

FELIZ PÁSCOA!!!

Moacir Rauber

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