A auditoria do futuro

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Conectada às inovações proporcionadas pela tecnologia, a profissão do auditor independente vem enfrentando grandes desafios. Por um lado, os clientes pedem uma auditoria de maior valor agregado e, por outro, o regulador naturalmente demanda cada vez mais confiabilidade e alto grau de precisão das informações auditadas. Tudo isso ocorre em um mundo em que a velocidade das transformações digitais e a inovação esbarram em um segmento altamente regulado e complexo em diversas vertentes de negócios.

Nesse cenário de evolução tecnológica constante, os processos de análise de dados têm sido desenvolvidos e aprimorados na auditoria para substituir os procedimentos que eram executados em formato de amostragem com grande volume de documentos para serem verificados. Com o uso desse recurso, o processamento massivo de informações estruturadas é feito em segundos. Dessa forma, todas as exceções são identificadas nas operações, aumentando o nível de precisão e melhorando o foco da auditoria nos riscos específicos dos clientes. Com base nos resultados obtidos, as empresas de auditoria passam a ter uma visão mais clara das tendências em segmentos de diversos negócios.

Se, por um lado, as tecnologias de análises massivas de dados estruturados ajudam a processar e entender as tendências e expectativas para certos tipos de operações, por outro, o uso da inteligência artificial permite a análise de dados que não são estruturados. Quando há informações para serem analisadas que não podem ser previstas por um algoritmo de predição padrão, a inteligência artificial entra em cena. A auditoria tem utilizado esta tecnologia pera leitura e interpretação de contratos jurídicos, debêntures, atas de reuniões, normas de contabilidade, demonstrações financeiras e para tomadas de decisão na aplicação de normas e regulamentos. Os benefícios são muitos, mas requerem alto grau de investimento e manutenção dessas ferramentas que precisam ser monitoradas quanto à assertividade e à confiabilidade.

Como um consolidador das atividades de análise de dados e de inteligência artificial, o processo com o uso de automação robótica (Robotic Process Automation) e análise de dados (data & analytics) tem como propósito principal a escalabilidade. Tais recursos têm sido ferramentas-chave na automação de procedimentos de auditoria, podendo auxiliar em recálculos simples e em análises mais sofisticadas, como expectativas e projeções de faturamento de um negócio, cálculos de perda na realização de ativos, processo de confirmação eletrônica de saldos. O uso dessas tecnologias indica um caminho para se redesenhar a forma como a auditoria é vista atualmente, com a intervenção mínima do ser humano, garantindo ao auditor o foco principal no processo de conclusão e julgamentos relevantes.

Outro tipo de ferramenta que tem colaborado para o desenvolvimento da profissão do auditor tem sido os drones. Na auditoria, eles são utilizados em algumas frentes, considerando o propósito esperado e o objetivo a ser coberto. Os processos de inventário físico, inspeções e medições são os mais beneficiados pelo uso dessa tecnologia. Na agricultura, auxiliam na medição de pastagens e áreas de plantio, na contagem do rebanho e na inspeção geral da propriedade. Eles também são eficientes para vistorias de linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica, inspeções e medições de minas, plataformas de petróleo e usinas.

Em suma, visando atender os reguladores e criar valor ao trabalho prestado, as firmas de auditoria têm se redesenhado na busca por inovação para entregar projetos dentro dos padrões de confiabilidade requeridos pelas normas e ainda criar um diferencial para os clientes. Em tempos em que as mudanças tecnológicas e a inovação são quase uma obrigação, é nítido que essas empresas já não são mais as mesmas de alguns anos atrás. Elas têm focado em desenvolver ferramentas e soluções que agregam alta tecnologia, buscando consistência e qualidade na entrega dos produtos. Provavelmente, veremos mudanças ainda mais relevantes nessa atividade nos próximos anos. Os benefícios são muitos, mas requerem alto investimento e constante atualização tecnológica e de novas ideias.

Por Márcio Santos e Alessandro Sato

Márcio Santos e Alessandro Sato são sócios de auditoria e inovação da KPMG.