“Uma forma de quebrar o ciclo de violência é com informação e educação”, diz advogada

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A violência de gênero vai além da agressão física; é uma expressão de desigualdade que permeia relações, culturas e instituições. A mudança não depende apenas das vítimas, mas também da transformação nas atitudes dos agressores. Participar de grupos de conscientização, onde possam discutir e entender o que configura a violência, é fundamental para que o ato como um tipo de violência seja reconhecido.

A desigualdade entre homens e mulheres vai além da divisão de tarefas domésticas ou do mercado de trabalho – ela se manifesta em agressões físicas, psicológicas e até homicídios. Neste contexto, a violência de gênero, muitas vezes silenciosa e invisível, revela o abismo social e cultural que ainda separa os sexos.

A editora do JORNAL DO OESTE Bruno Manfroi recebeu, na tarde de terça-feira (4), a coordenadora do curso de Direito da Universidade Paranaense (Unipar), campus Toledo, Claudia Beatriz Schneider Braun. Elas dialogaram sobre as diferenças e a violência de gênero.

Claudia Beatriz explica que a política de gênero não é somente de uma área. Ela complementa que a Lei Maria da Penha é ainda a mais comentada e existem as outras violências, como física, psicológica, patrimonial e processual. “Atualmente, existe um protocolo de gênero que está sendo aplicado no Poder Judiciário. Nós começamos a trabalhar com uma área que é voltada para uma violência mais direta, pois a questão do gênero é mais objetiva”.

Conforme a coordenadora do curso de Direito, o agressor precisa compreender por qual motivo ele age daquela maneira. “Se ele está errado; existe o motivo e, por isso, a necessidade de encaminhar para a mudança. Em muitos momentos, aquele homem – considerado abusivo ou agressor – não sabe que está sendo. Ele não tem a consciência de que está errado e isso é algo cultural”, pondera.

ENCAMINHAMENTOS – O Brasil possui previsão de políticas públicas e elas estão disponíveis para a sociedade. “São cursos de instruções, psicologia, formação ou acompanhamento. O agressor precisa compreender o motivo em que a sua conduta está errada. Muitas vezes, ele cumpre a penalidade, porém alguns ainda culpam a mulher pela sua condição. Por isso, a importância do agressor entender o motivo que está errado para então não fazer mais”, afirma Claudia Beatriz.

Ela complementa que caso o agressor não entenda o motivo da pena, o discurso será que a mulher é louca (por exemplo) e esse ciclo é mantido. “Uma forma de quebrar o ciclo é com informação. Ela sempre abre um canal para a mudança; ensinar ao homem o que é a conduta abusiva e a mulher compreender que ela vive em um ambiente de violência de gênero e precisa se defender. A mulher entender o contexto e a violência. As situações abusivas não surgem, elas se constroem. Nós vivemos em uma sociedade patriarcal e, infelizmente, não conseguimos lidar com tudo o tempo todo”.

Claudia Beatriz menciona que quando é tirado o posto de conflito não é uma necessidade de estar sempre se atacando, porque os princípios são expostos a todos. “A mulher consegue reconhecer quando a postura está correta. Tem um gesto de consciência e vai adotar medidas simples que passam despercebidas ‘aos grandes olhos’. Quando eu quero encontrar um equilíbrio e a chance de errar é menor. O gênero é uma pauta coletiva; o que é possível fazer para diminuir este tipo de problema para tornar uma sociedade mais igualitária?”.

ATENDIMENTO – O Estado oferece a informação na educação, na saúde, na mulher ou na segurança. “O SUS possui o atendimento psicológico para quem precisa. As delegacias atuam para fins de orientações e existem outros caminhos a serem tomados”, menciona a coordenadora do curso.

Claudia Beatriz enfatiza que a primeira força vem de quem, realmente, quer mudar. “Nós precisamos mudar a cultura. A vítima precisa do apoio psicológico; a primeira força vem da gente e, na sequência, da rede de apoio. Os espaços de convivência coletiva são importantes, porque os abusos mais graves ocorrem no isolamento. Em algumas situações, a mulher não conta para a mãe o que está vivendo. É importante um compartilhar feminino com outras pessoas, porque é uma maneira de se fortalecer e ter um trabalho preventivo”.

Ela acrescenta que as mulheres se fortalecem juntas. “Se você não vive algum tipo de violência; você não vai entende-la. A violência está em um grito, um murro, um silêncio. A violência ‘ao olho nu’ vem depois. A violência de gênero é combatida com informação e educação. Após, vem as políticas públicas”, finaliza a coordenadora do curso de Direito da Unipar.

Da Redação

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