Gripe e dengue: automedicação pode ser perigosa e trazer complicações

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A gripe e a dengue merecem muita atenção nesse período. A gripe pelas baixas temperaturas e a dengue porque ainda registra caso neste período de menor circulação do mosquito. Contudo, as duas doenças têm alguns sintomas semelhantes e que podem gerar dúvidas no paciente. Por isso, a recomendação é sempre buscar atendimento médico antes de se medicar, principalmente em caso de suspeita de dengue.

O médico de Família e Comunidade Ivan Steffens comenta que essa é uma preocupação constante, porque a facilidade de acesso a certos medicamentos faz esquecer que eles são substâncias ativas que podem ter efeitos muito adversos se não forem usados corretamente. “E quando falamos de gripe e dengue, que têm sintomas parecidos, o risco é dobrado”.

Ele cita que a automedicação pode ser perigosa, por vários fatores, entre eles o mascaramento da doença e o atraso no diagnóstico. “Esse é o primeiro e mais perigoso efeito do uso inadequado. Quando você toma um analgésico ou antitérmico por conta própria pode ter um alívio enganoso quando a febre baixa, a dor diminui, e a pessoa tem a falsa impressão de que está melhorando. Em Toledo, a gente sabe que muitas vezes a dengue começa assim, discreta”.

O profissional pontua também o atraso crítico que é o alívio temporário que pode atrasar a busca por atendimento médico. “Na dengue, por exemplo, existe uma ‘fase crítica’ após a febre baixar (geralmente entre o 3º e 7º dia da doença), onde podem aparecer os sinais de alarme de gravidade, como sangramentos. Se a pessoa está se automedicando e só procura ajuda quando esses sinais já estão avançados, o tratamento se torna muito difícil e as chances de complicações aumentam drasticamente”.

Confusão de Diagnóstico é outro perigo que pode acontecer no caso de automedicação. “Quando o paciente finalmente chega ao consultório, o médico pode ter dificuldade em avaliar a real progressão da doença, pois os sintomas originais podem estar alterados ou ‘maquiados’ pelos medicamentos já tomados”, esclarece.

PERIGO – No Brasil, os remédios são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a partir de diferentes colorações de tarja – amarela, vermelha, preta e sem tarja. Elas servem para diferenciá-los em relação ao seu potencial risco para o paciente, bem como para manter um maior controle sobre sua circulação no território.

A utilização de medicamentos demasiadamente, mesmo que sem tarja – isentos de prescrição – podem acarretar o perigo da superdosagem e do uso indevido de substâncias que, em si, não são apropriadas para a doença. O médico cita alguns medicamentos que estão nessa lista.

“Para dores e febre, o paracetamol, embora seja o analgésico e antitérmico mais seguro para a dengue, a superdosagem é extremamente perigosa. Pode causar lesão hepática grave (insuficiência do fígado), que em casos extremos pode ser irreversível e levar à necessidade de transplante ou até mesmo à morte. É um risco sério, e a dose máxima diária deve ser rigorosamente respeitada (geralmente 4g para adultos, mas sempre consulte a bula e a orientação médica)”.

A dipirona, também receitada para dores e febre, o médico cita que em altas doses, pode provocar náuseas, vômitos, vertigem, arritmias cardíacas (alteração nos batimentos do coração), queda brusca da pressão arterial e comprometimento dos rins. “Em casos muito raros, pode levar a uma condição chamada agranulocitose (diminuição grave de células de defesa do sangue) ou choque anafilático”.

Contudo, o médico enfatiza que há medicamentos que são considerados vilões da dengue quando usados de forma inadequada, como os Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs) – Ibuprofeno, Diclofenaco, AAS (Aspirina). “Além dos efeitos gerais de superdosagem de AINEs (como irritação gástrica, úlceras e sangramentos no estômago, problemas renais e cardiovasculares), em pacientes com dengue eles são particularmente perigosos porque aumentam o risco de sangramentos graves, uma das complicações mais sérias da doença”.

O profissional lembra que o vírus da dengue já afeta as plaquetas (células da coagulação), e os AINEs potencializam esse risco hemorrágico. Em crianças, o AAS pode causar a rara, mas grave, Síndrome de Reye. “Por isso, aqui em Toledo, e em qualquer lugar com dengue, a gente bate na tecla: não use AINEs se houver suspeita de dengue”.

Outros medicamentos que podem trazer complicações para organismo se usados indiscriminadamente são os antigripais combinados e os antibióticos. Steffens explica que muitos dos antigripais contêm uma mistura de paracetamol, descongestionantes nasais, anti-histamínicos e até cafeína. “O problema é que a pessoa pode acabar tomando doses excessivas de um dos componentes sem saber ou sofrer com efeitos colaterais como sonolência excessiva, aumento da pressão arterial (especialmente em hipertensos), palpitações e insônia (devido aos descongestionantes e cafeína)”.

Já os antibióticos são para bactérias e gripe e dengue são infecções virais. “Usá-los indiscriminadamente não só não ajuda em nada como contribui para a resistência bacteriana, tornando mais difícil tratar futuras infecções bacterianas. Isso é um problema de saúde pública global, inclusive em Toledo”, acrescenta.

COMPLICAÇÕES – Se a automedicação mascara a doença e atrasa o tratamento correto, o médico de Família e Comunidade Ivan Steffens enfatiza que as complicações da gripe e da dengue podem ser sérias. Entre as complicações da gripe estão pneumonia (viral ou bacteriana secundária), bronquiolite (principalmente em crianças), otite (infecção de ouvido), sinusite, e em grupos de risco (idosos, crianças, gestantes, pessoas com doenças crônicas), pode levar a internações e, em casos graves, ao óbito.

Em relação a dengue, as complicações da automedicação podem levar a doença a evoluir para a dengue grave (anteriormente conhecida como dengue hemorrágica) e, em casos extremos, para a síndrome do choque da dengue. “As complicações incluem: sangramentos graves, acúmulo de líquidos no pulmão ou abdômen, disfunção de órgãos, choque e alterações neurológicas.

“Quero trazer essa mensagem com clareza e muito concisa para a nossa população de Toledo: a automedicação, mesmo com remédios de ‘livre acesso’ é um jogo perigoso, especialmente quando temos doenças como a gripe e a dengue circulando. O alívio momentâneo pode custar muito caro. A orientação médica é insubstituível para um diagnóstico correto, um tratamento seguro e a prevenção de complicações que, como vimos, podem ser devastadoras”, conclui.

Da Redação

TOLEDO

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