Adestramento colabora para que o cachorro tenha comportamento equilibrado

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Adestramento de cães vai além do simples comando: é uma demonstração de amor e cuidado. Ensinar ao animal a ser educado, calmo e disciplinado contribui para que controle seus instintos, evitando comportamentos como fugas, brigas e o hábito de pular nas pessoas.

HUMANIZAÇÃO – A humanização do cachorro, ou seja, tratá‑lo como uma criança, prejudica seu comportamento e instintos naturais. Quando não existem limites claros, o animal passa a ter dificuldades de convivência. O guarda municipal e adestrador Edvaldo Eberhardt alerta que “isso acaba trazendo prejuízos para o cachorro, no sentido dele se tornar um animal mais ansioso, medroso e descontrolado. Porém, ele precisa suprir suas necessidades de cachorro, que é diferente das necessidades humanas”.

Entre as principais orientações para uma relação mais equilibrada está a de garantir ao cão momentos de passeio e de convivência com o tutor. “Durante o passeio, ele pode expressar seus comportamentos naturais, que é farejar, marcar território, gastar energia e ser disciplinado neste passeio”, orienta o adestrador.

ADESTRAMENTO – Para iniciar o adestramento, é importante realizar uma avaliação do perfil e do comportamento do animal, independentemente da raça. “É necessário levar em conta um manejo adequado, iniciando pela alimentação, depois pela socialização e educação, bem como o treino de obediência. Assim visamos suprir as necessidades naturais”, esclarece Edvaldo.

Entre os principais benefícios do adestramento está a tranquilidade proporcionada ao responsável nas atividades e no dia a dia. “Ter o controle dos comportamentos através da clareza na comunicação e na compreensão do cachorro quando exigimos algo dele, traz harmonia e o ambiente fica tranquilo”.

COMANDOS – Os comandos básicos para o cão garantem uma relação clara e respeitosa. Sentar, deitar, ir até o tutor quando chamado e andar junto – com ou sem guia – são exemplos de instruções úteis para o dia a dia. “Além disso, tem o processo de educação para as necessidades fisiológicas, de fugas quando o cão estiver solto e também a disciplina quando o responsável exigir”, explica o adestrador. Ele destaca, ainda, que existem comandos para indicar quando o cachorro está livre para agir sem restrições, como correr, brincar e demarcar território.

CÃES DE TRABALHO – Os cães que fazem parte de equipes de guarda municipal ou acompanhamento policial têm uma base de treino idêntica à dos cães de casa, focada em obediência e controle. A diferença está nas etapas seguintes, quando aprendem funções específicas para o trabalho. Nesses casos, são treinados para localizar drogas e pessoas desaparecidas, além de realizar técnicas de defesa para a equipe.

CÃES‑GUIA – A veterinária Mayhume Narok compartilha sua experiência em colaborar para o adestramento de cães‑guia, junto à Escola de Cães‑Guia Helen Kelly, em Balneário Camboriú. Nesse espaço, são criados cães matrizes da raça labrador, escolhidos por possuírem padrão genético livre de doenças. Os filhotes recebem a primeira vacina após o desmame e, em seguida, são encaminhados para famílias socializadoras, função desempenhada por Mayhume.

Nessa etapa, os animais são estimulados por sons, barulhos e diferentes texturas, e ficam com a família socializadora por cerca de um ano e meio. Nesse período, são apresentados ao “mundo exterior” e aprendem a lidar com situações como subir escadas rolantes, entrar em elevadores e se adaptar ao cheiro de restaurantes, entre outras situações comuns para cães‑guia. Os estímulos são realizados de maneira gradual e evoluem conforme a idade do animal.

“Quando estes cães estão a trabalho, utilizam um colete no qual os faz compreender que a partir dali é o seu momento de trabalho. A partir daí seu comportamento torna‑se sério, mas ao tirá‑lo voltam a ter sua liberdade”, explica Mayhume.

A socialização finaliza por volta dos dois anos de idade, e então o cachorro retorna para a escola para receber o treino específico. A veterinária compartilha o exemplo de Happy, uma fêmea que participou do processo de instrução. “Após este período, ela aprendeu a atravessar a rua na faixa, a desviar de buracos e objetos aéreos. Ao entender que agora irá guiar uma pessoa, deve priorizar a saúde desta pessoa”, explica. Apesar de todas as instruções, Happy não demonstrou aptidão para desempenhar a função de cão‑guia.

APTIDÃO – Durante o período de socialização e adestramento, são realizadas avaliações específicas com os cães, para verificar aspectos como saúde, vacinação e aptidão física para garantir que sejam capazes de desempenhar todas as funções esperadas. A veterinária destaca que “a taxa de cães que realmente viram cães guias é baixa, pois em uma ninhada de dez filhotes, geralmente dois irão guiar um cego”.

Mayhume finaliza destacando a importância e a escassez desse tipo de animal no país. “O número de cães guias trabalhando com as pessoas cegas no Brasil inteiro, que é enorme, é em torno de 250 duplas formadas. Isso é muito baixo perto do tanto de pessoas cegas e que realmente precisam de um cão”.

Colégio inclui a convivência entre alunos e cachorro melhoram desempenho escolar

A cachorra Amora estimula a socialização entre os estudantes Créditos: Arquivo pessoal
A cachorra Amora estimula a socialização entre os estudantes Créditos: Arquivo pessoal

A presença de um cão no ambiente escolar pode oferecer inúmeros benefícios aos alunos, como estímulo à socialização, suporte emocional e incentivo ao cuidado e ao respeito. No Colégio Adventista de Toledo, a cachorra Amora desempenha esse importante papel, auxiliando no desenvolvimento e no bem‑estar dos estudantes.

Amora chegou ao colégio ainda filhote e causou alvoroço entre as crianças, tanto que seu nome foi escolhido por meio de uma votação. A relação com a cachorra vai além do ambiente escolar: por meio de um cronograma de datas, os alunos podem levá‑la para casa aos finais de semana, onde todas as vagas estão preenchidas até o mês de setembro. Para garantir obediência e disciplina, Amora passa por adestramento, o que torna o convívio mais tranquilo e seguro para todos. Dessa maneira, as crianças brincam com ela no início e no final das aulas, durante o recreio e também nos momentos em que a professora permite sua presença em sala.

Dentre as mudanças percebidas, a diretora do colégio, Telma Alexandre da Silva, afirma que “essas mudanças foram no cuidado do lixo, pois sabem que se ela ver, pode pegar. Ela não come qualquer alimento, apenas ração e frutas. O que chama muita atenção é em relação a crianças com transtorno do espectro autista ou hiperativas, bem como auxilia na compreensão de limites por parte dos alunos”. A diretora também destaca que são estimuladas a importância do cuidado com o outro e até mesmo a participação em trabalhos antibullying.

O impacto vai além do comportamento e reflete até no rendimento escolar. Telma compartilha que houve uma melhoria significativa nas produções textuais, com alunos chegando a escrever músicas para Amora. “Desde que a Amora está aqui, percebemos que quando havia uma criança ou um adolescente cabisbaixo, elas iam junto com o cachorrinho e começavam a brincar, assim o sorriso voltou. Hoje vejo que ela faz total diferença na escola”, conclui.

Da Redação

TOLEDO

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