A mulher que perde seu bebê também é mãe

*Flavia Camargo

Há poucos anos, instituiu-se 15 de outubro como o Dia da Conscientização da Perda Gestacional e Neonatal, tendo em vista a necessidade de humanizar os serviços de saúde prestados às mulheres que perdem seus filhos na gravidez ou após o parto, e de quebrar o tabu em torno do assunto.

Ainda hoje, dois motivos contribuem para que esse luto seja invisibilizado. O primeiro é o próprio fato de envolver a morte de bebês, que são seres associados à inocência e pureza; por isso, costuma gerar um incômodo em alguém que venha a pensar que algo ruim possa lhes acontecer, reduzindo conversas acerca do tema. A segunda razão é que o tempo curto de convívio entre as famílias e os filhos falecidos causa um engano de que a dor delas é menor em relação às pessoas que perderam os filhos mais tarde.

Pelas situações apontadas, é comum que as mulheres não tenham seus sentimentos devidamente compreendidos – e isso torna seu luto ainda mais complicado. Entretanto, à medida que o tema é cada vez mais discutido e a sociedade se torna sensibilizada a respeito da importância de se preparar para acolher quem teve sua maternidade prematuramente interrompida, a esperança é de, no futuro, proporcionar um tratamento mais empático e respeitoso com as mães enlutadas.

Neste sentido, é essencial que os protocolos médicos reservem locais separados para mães que perderam seus bebês e mães que estão amamentando, além de oferecer apoio psicológico. Mas os cuidados não terminam aí. Essas mulheres enlutadas e seus companheiros também precisam de parentes e amigos aptos a entenderem a condição delicada em que se encontram, pois nada é mais agravante para quem está sofrendo do que ouvir frases que banalizem sua dor. Isso somente adiciona uma camada de desamparo e solidão ao árduo caminho após a perda.

Reconhecer como mãe a mulher geradora de uma vida, independentemente de quanto ela durou, é um gesto de generosidade que lhe concede o direito de compartilhar com o mundo o seu amor.

*Flavia Camargo é advogada por formação e escritora. Já lançou seis livros, inclusive “Quatro Letras”, uma autobiografia que acolhe mulheres enlutadas e narra a dor de perder um filho prematuramente.

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