A poluição domiciliar, o aquecimento global e a alternativa do biogás

Dilceu Sperafico*

Até mesmo ativistas e ambientalistas radicais devem estar surpresos com importante alerta do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a respeito de emissões de carbono na atmosfera em todos os setores da existência e atividades do ser humano, divulgado no mês de abril último. 

Para se ter ideia da dimensão do problema e as responsabilidades de todos os cidadãos com as questões ambientais, o alerta destaca que 10% das moradias humanas, de todos os continentes, liberam até 45% do carbono, apontado como um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global.

A informação preocupou muito especialistas e governantes e após a divulgação do relatório, ao menos 18 países já estão adotando providências efetivas para a descarbonização dos gases emitidos pelas atividades habitacionais. Conforme o relatório, elaborado por mais de 270 especialistas, em 65 países, pelo menos, é possível reduzir emissões de gases em todos os setores da economia e da sobrevivência humana.

O documento também ressalta a desigualdade do problema, identificando os 10% dos domicílios residenciais responsáveis por até 45% dos gases de efeito estufa domésticos ou do carbono liberados no planeta. O volume dessa contaminação, obviamente está vinculado à renda dos proprietários ou moradores das residências poluentes.

Segundo os especialistas, metade das moradias que menos emitem gases no planeta são de pessoas que gastam até três dólares per capita por dia. Já os 10% que mais emitem gases gastam mais de 23 dólares per capita diários, destacando a influência de equipamentos e práticas das moradias com melhor qualidade de vida ou bem-estar dos moradores.

O documento do IPCC foi a 3ª e última edição do 6º Relatório de Avaliação da instituição. A 1ª, foi publicada em agosto de 2021 e apontou que parte das ações diretas do homem em relação ao planeta têm consequências irreversíveis. Já a 2ª publicação, de março de 2022, foi voltada para os impactos da crise do clima, possíveis caminhos de adaptação e vulnerabilidades globais.

O estudo científico chama atenção para o fato da humanidade já ter consumido 80% do carbono que poderia para barrar o aumento da temperatura, mas também apresenta soluções e destaca que todos os setores da economia são capazes de reduzir emissões que causam o aquecimento global até 2030, desde que adotem medidas preventivas apontadas pelos especialistas.

O documento ressalta que emissões líquidas cumulativas históricas de CO2, entre 1850 e 2019, equivalem a 80% do carbono total disponível para se ter 50% de chance de limitar o aquecimento do planeta em 1,5ºC. Menos mal, segundo o estudo, é que diversos países do mundo já vêm implementando medidas efetivas para a descarbonização nos últimos 10 anos.

Para limitar o aquecimento global será necessário adotar grandes transições no setor de energia, com redução drástica do consumo de combustíveis fósseis, maior eficiência energética e implementação de alternativas para a geração de energia limpa, como Toledo e o Oeste do Paraná estão fazendo para o aproveitamento do biogás na geração de bioenegia e biofertilizantes.

A solução, portanto, está na adoção de política, infraestrutura e tecnologias certas para garantir mudanças nos setores produtivos e comportamento das pessoas, o que pode resultar na redução de até 70% nas emissões de gases de efeito estufa até 2050.

*O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

E-mail: dilceu.joao@uol.com.br

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