Consequências invisíveis do desarmamento civil

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Tenho 56 anos, o oitavo filho de uma família de 10, e desde as primeiras memórias da infância, no pequeno sítio da família em Cafelândia, Paraná, a espingarda sempre fez parte dos instrumentos que meu pai manuseava. Inclusive em algumas oportunidades fiz uso dela atirando em pombas ou objetos como alvo.

Entrando na vida adulta, completando estudos longe daquela casa, trabalho, casamento, filhos, muito mais trabalho, nunca mais dei importância, de forma consciente, para a espingarda muito menos para a questão das armas.

Mais ou menos a partir de 2012, já com 48 anos, com o início da divulgação do livro Professor não é Educador, com muitas ações em vários níveis e organizações afrontando cidadãos, a propriedade privada e a família natural, com a internet e suas redes sociais, a consciência de quem eu era como cidadão, na comunidade e no país onde vivo, começou a clarear de uma forma como nunca tinha ocorrido.

E nessa tomada de consciência me dei conta que, sem saber quando teve início, ao pensar em armas, um medo, um sentimento de perigo, tomava conta, arma não devia fazer parte da minha vida; ao contrário, quanto mais longe, melhor.

Início de 2017 li o livro “Mentiram para mim sobre o Desarmamento”, do Flávio Quintela e Bene Barbosa, e foi como se um sol inteiro iluminasse minha mente para o que de fato tinha ocorrido, comigo e imagino, com milhões de brasileiros.

A parte visível das ações desarmamentistas – leis, campanhas, etc, — são fáceis de ver, de virar notícia na grande mídia, que em geral, apoia tais medidas; porém o que não se vê e não vira notícia é a destruição psicológica que ocorre após décadas de constante publicidade contra a posse de armas. O que é muito, mas muito mais grave pois ela destrói uma força interior, algum sentimento, algum valor que é absolutamente necessário para ser uma pessoa forte, para construir uma nação forte.

“Quando o erro não é combatido, termina sendo aceito; quando a verdade não é defendida, termina sendo oprimida” * Papa São Félix III.

Ao negar ao cidadão o direito de defender-se com uma arma, o Estado (através dos governantes) está dizendo automaticamente ao cidadão que ele é um fraco, um incapaz, de defender-se a si, sua família, sua propriedade. E se o sujeito é fraco, incapaz, é porque ele precisa que alguém cuide dele, que faça por ele aquilo que ele não é capaz, pois ele é um coitado. E quem é este “outro alguém”? O Estado, com seus aparatos de segurança.

A destruição chega a tal ponto que perdemos a consciência de algo que deveria ser sagrado: LIBERDADES. E se os cidadãos não estão dispostos a lutar por suas liberdades, resultado da proposital mutilação mental, o caminho para opressão estatal está aberto. Exemplos disso estamos vivenciando nesta crise do coronavírus. Perda da liberdade religiosa, inclusive com proibição de transmissão de missas e cultos pela internet. Perda da liberdade de ir e vir; liberdade de expressão; liberdade de trabalhar, de abrir empresas.

Políticas de segurança pública – que é função do Estado – não devem confundir-se com o sagrado direito à liberdade de defender-se. Porém ao desarmar o cidadão, o Estado está deixando claro aos criminosos: podem agir, o caminho está livre. E por que? Porque é impossível a força policial estatal estar em todos os lugares, em todos momentos, ao mesmo tempo, dando proteção às pessoas.

E diante desta verdade incontestável, por que ainda assim tantos agem para desarmar o cidadão? A resposta vem do livro do Flávio Quintela e Bene Barbosa: “todos os governos totalitários que já existiram na História da humanidade tiveram e tem um traço em comum: desarmar a população para poder então dominá-la(…) e o resultado foi sempre o mesmo: perda das liberdades e muitos mortos”**. Claríssimo está, que é falsa, mentirosa, TODA a publicidade, TODA a opinião, a favor do desarmamento civil, dizendo que é para proteger o cidadão, que é para reduzir a criminalidade, etc.

De outro lado, quando não vemos ações que impeçam o cidadão de possuir uma arma, claro pode ficar para ele: você é o primeiro e maior responsável por sua vida, por sua família, por sua propriedade. Você é responsável por seu sustento, por suas escolhas e consequências, por sua comunidade. Bem à semelhança de um pai que educa um filho com esses valores, não há porque imaginar que uma nação formada e mantida sob estes princípios, não será mais forte e desenvolvida.

Em vista dessas reflexões, chegamos a uma conclusão que não pode ser ignorada por quem deseja cidadãos livres e conscientes de suas responsabilidades, por quem deseja um país soberano e desenvolvido: qualquer liderança, política, intelectual, empresarial, religiosa, da burocracia estatal, etc, que defender o desarmamento civil, merece total repúdio, desprezo, pois está defendendo o fim de liberdades, e isto é extremamente grave e não pode ser tolerado.

“Ninguém deve confiar em alguém que lhe queira tirar os meios de defesa própria”**

* Revista Catolicismo, n. 833, maio de 2020.

** Mentiram para mim sobre o Desarmamento, Vide Editorial, 2015.

Edésio Reichert

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