De Toledo ao Futuro: O Legado Visionário de Luiz Donaduzzi e o Biopark

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Se você chegasse hoje a Toledo e se inteirasse do esplendoroso sucesso da Prati-Donaduzzi, dificilmente imaginaria a jornada humana por trás dela: os desafios, as escolhas difíceis e o esforço contínuo que levaram Luiz Donaduzzi a esse ápice. E, como o próprio Luiz faz questão de destacar, essa trajetória foi construída a quatro mãos, com o papel fundamental de sua esposa, Carmen Donaduzzi, bem como de seu grupo familiar.

A profundidade dessa história se revela em “Pressa de Futuro”, de Rogério Godinho, um livro biográfico que não apenas expõe emoções e verdades, mas narra uma trajetória marcada pelo empreendedorismo, pela visão de futuro e por uma sensibilidade rara para um mercado que, à época, ainda não se mostrava promissor — sobretudo pela incerteza regulatória. Muitos poderiam supor que a busca por riqueza foi o principal motor dessa jornada — um desejo legítimo, sem dúvida, mas que, como se verá, esteve longe de ser o único. A construção de um império farmacêutico com resultados extraordinários atrai naturalmente o interesse de grandes multinacionais. Se seu objetivo fosse apenas econômico, Luiz poderia ter vendido a Prati por centenas de milhões de dólares e “descansar”. Mas sua escolha foi outra.

Luiz Donaduzzi surge como um divisor de águas. Mais do que construir uma empresa de sucesso, ele preencheu a lacuna deixada por uma das maiores cooperativas do país — cuja história, ali, encerrara-se de forma melancólica. No Jardim Coopagro, bairro ligado à história dessa cooperativa, nasceu a Prati, que hoje emprega mais do que aquela cooperativa em seu auge. Luiz seguiu outro caminho: confiou a gestão da Prati a um corpo técnico e dedicou-se integralmente a um novo e audacioso projeto — o Biopark.

Sua motivação? Deixar um legado verdadeiro por meio da educação, da ciência e da inovação. Em vez de repousar sobre os louros da conquista, Luiz acelerou. Sua “pressa de futuro” o levou a investir milhões de sua própria renda pessoal para plantar as bases de um polo de conhecimento e transformação social.

Seu sonho — movido por uma generosidade rara — ecoa o de grandes missionários da humanidade, que, em vez de acumular para si, decidiram multiplicar para todos.  Seu gesto inspira a pensar com a mesma coragem civilizatória. É nesse espírito que, trinta anos à frente, me proponho a olhar em retrospectiva.

Um Parque, Um Livro, Um Homem – Lançado ainda em vida, o livro Pressa de Futuro tornou-se leitura essencial para quem deseja entender as raízes dessa trajetória. Mais que uma biografia, é o espelho de uma alma que não teve medo de fracassar — e, por isso, venceu. Em cada página, está também a presença de Carmen Donaduzzi, sua companheira e cofundadora de sonhos, cuja força foi decisiva em cada recomeço.

Ali estão os percalços, as quase desistências, os tropeços — mas, sobretudo, a chama do ideal: a convicção de que o saber liberta, e de que nenhuma cidade é verdadeiramente rica se não formar mentes livres.

Hoje, ao ver milhares de jovens formados, empresas criadas, pesquisas reconhecidas internacionalmente e vidas transformadas pela educação, é inevitável lembrar do tempo em que tudo parecia incerto. Quando se dizia que o projeto era “grande demais para Toledo” ou que não passaria de um negócio imobiliário.

A Semente Que Venceu o Tempo – Toledo, 2055 – Trinta anos depois, em retrospectiva histórica, o legado de Luiz Donaduzzi floresce como símbolo de coragem, visão e compromisso inegociável com a educação. Naquele tempo, poucos vislumbravam com clareza o que hoje é evidente: o Biopark não foi apenas uma aposta arrojada — foi uma entrega de vida. Luiz decidiu investir recursos próprios, tempo e energia na criação de um ecossistema de conhecimento. Muitos o aplaudiram publicamente. Mas, nos bastidores, outros tantos tentaram frear o projeto — não por discordarem da ideia, mas porque estavam longe de serem protagonistas.

A Mediocridade Grita, mas o Futuro Responde em Silêncio – Em retrospecto, é nítido: a maior resistência enfrentada por Luiz Donaduzzi não foi técnica, nem política ou financeira — foi fruto de interesses contrariados. Houve pressões vindas de setores e obstáculos silenciosos dentro da política local que, embora não o confrontassem abertamente, atuaram pela omissão ou foram ativamente omissos.

Tentaram reduzir seu gesto a um jogo de poder, atribuindo intenções ocultas à sua generosidade.  Como sempre ocorre com os grandes, sua visão era, para muitos, incompreensível — e, por isso, ameaçadora.

Mas o tempo, com sua ética silenciosa, distinguiu o que nasceu da vaidade do que brotou do amor à coletividade. Luiz Donaduzzi não esperou unanimidade: fez o que precisava ser feito. E como os que ousam construir pontes onde outros só enxergam muros, pagou o preço da incompreensão — e seguiu em frente.

Um Nome Que Virou Lugar – Hoje, Donaduzzi não é apenas um nome — é parte da identidade de Toledo. Um nome que os livros escolares citarão ao lado de grandes construtores do futuro e, não por mera coincidência, ao lado dos nomes escolhidos para as avenidas do Biopark: Avenida Marie Curie, Avenida Ernest Rutherford, Avenida Louis Pasteur e Avenida Albert Einstein. Gentes que, em vida, foram incompreendidas, mas que mudaram o destino de muitos por acreditarem no impossível.

Toledo, antes conhecida por sua força agrícola e industrial, transformou-se em referência mundial em ciência aplicada. O Biopark elevou a cidade a um polo de pesquisas, talentos, ideias e esperança.

Por Fim – Trinta anos se passaram. O tempo — senhor de todas as verdades — já fez sua parte: reconheceu no silêncio aquilo que a crítica barulhenta tentou abafar. Luiz Donaduzzi tornou-se imortal e sua história transcendeu o solo que o acolheu para iluminar consciências e tornar-se um oásis de difusão do saber. Deixou muito mais que memórias: estruturas, princípios, caminhos e a própria concretização do futuro. E uma certeza:

O futuro não se espera — constrói-se com pressa, com propósito e com coragem.

*Por Gilberto Allievi – advogado em Toledo

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