É preciso cuidar da nossa Casa Comum

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Já há algum tempo acompanhamos a ferocidade com que a natureza é agredida em nosso país. Não é de hoje que ouvimos falar do efeito estufa, do aquecimento global, do derretimento dos polos, mas, sobretudo, da devastação das florestas, de catástrofes que envenenam rios, destroem biomas inteiros que comprometem não só a sobrevivência das biodiversidades, mas também a vida humana.

O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) indica um desmatamento de 1.359m², no último mês de agosto, o que corresponde a 300km² maior que a da capital Belém, no Pará, onde está a maioria das áreas devastadas.

Os números, porém, não se limitam à Amazônia. Também o Pantanal tem um cenário desolador, atingido pelo fogo que se alastrou de forma nunca vista nestas últimas décadas, numa área de 2,3 milhões de hectares do bioma (15% de toda a extensão do Pantanal).

Os efeitos da nossa relação com a Mãe Terra se fazem sentir sempre com maior intensidade. Depois de anos de desmatamento, da queimada da cana-de-açúcar em nossa região, convivemos hoje com uma realidade preocupante: uma estiagem que se repete com frequência, e que, neste ano, se prolonga há mais de 130 dias na nossa Região Norte do Estado de São Paulo, responsável também pela falta ou má distribuição de água potável, para cidades ou bairros inteiros.

Diante deste cenário, todos nós devemos nos sentir responsáveis pelo cuidado da Casa Comum, pois se nos omitimos, estamos contribuindo para a sua destruição. Daí a importância de que o Poder Público se empenhe por atuar nas causas, chamando a atenção e punindo os responsáveis por cada ato de agressão à natureza.

É triste ver que volta a cobrir nossas cidades a fuligem da queima da cana-de-açúcar. Já existe no município de Barretos a Lei nº 2.109, de 23 de junho de 1987 contra essa prática.  É importante, assim, ter consciência de que toda queimada, seja proposital ou não, é um ato criminoso, e o Poder Público não pode se omitir em descobrir os responsáveis e aplicar a punição necessária.

No seu pontificado, o Papa Francisco tem advertido sobre a responsabilidade que cabe a cada nação no cuidado da Casa Comum. A Encíclica “Louvado Seja” (2015), e a recente Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Querida Amazônia” chamam nossa atenção à necessidade de repensarmos nossa relação com a Mãe Terra.

Quanta estranheza causou o Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia na classe dirigente do nosso país, interpretada, inclusive, como uma tentativa de intervenção da Igreja na gestão das políticas nacionais de proteção da Amazônia. A resposta foi dada pela “Querida Amazônia”: como Igreja não podemos ficar indiferentes diante do avanço de uma política que ameaça o meio ambiente e os povos tradicionais, semeando destruição e violência, onde deveria reinar o respeito e a defesa da Casa Comum e daqueles que nela habitam.

Mais do que palavras, os fatos falam por si. É preciso que as classes dirigentes de nossa nação compreendam que o fator econômico não pode prevalecer sobre o bem estar das pessoas; o interesse financeiro não pode ditar as regras. Mas, ao contrário, estar a serviço das populações mais vulneráveis e daquelas áreas que se mantiveram preservadas até agora.

Despertemos enquanto ainda temos tempo. Salvar a nossa Casa Comum de uma destruição iminente ainda é possível!

Que os candidatos e candidatas ao governo municipal, neste ano, não deixem de colocar na sua agenda política propostas concretas tendo em vista preservar, cuidar e proteger a vida indefesa, o meio ambiente ameaçado, a vida que brota nas matas, nos rios, nos campos e montes. É por aí que podemos mudar a fisionomia do mundo e o coração das pessoas garantindo para as gerações futuras uma terra sem males.

Dom Milton Kenan Júnior é bispo de Barretos (SP)

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