Na mesma praça, no mesmo banco… no mesmo barco
Eduardo Klaue
Algumas vezes, paramos para refletir e pensar sobre a vida lá de fora. Nesta hora, nos aparece uma pontinha de vontade de ajudar outras pessoas. Principalmente quando vemos notícias em jornais ou na televisão, que mostram criancinhas ou velhos, passando frio, fome, descalços, desiludidos, desnutridos, desamparados, e mais do que tudo, desesperançosos de uma vida melhor. E nós, instruídos e civilizados que somos, sabemos que a única coisa que o homem jamais pode perder é a esperança. Quando isto se vai, é porque o resto já se foi faz muito tempo.
Pessoas desamparadas, desacreditadas e desiludidas, refletem em suas faces e seus atos um cansaço e descrédito com relação à própria vida. É como se não soubessem porque estão aqui, e muito menos se preocupassem em onde estarão daqui há algum tempo. Mesmo que muitos procurem ignorar, esta é a realidade nua e crua de nossa sociedade, bem perto de nós, mas muitas vezes bem longe de nossos pensamentos. O que vemos pelos noticiários, e não nos agrada, são conseqüências diretas do que deixamos de fazer no passado. Mas felizmente, ainda há tempo de reverter esta situação.
Quando vemos o frio chegar, e a televisão, rádio, internet e jornais procurando nos sensibilizar com programas e reportagens sobre a carência que nos cerca, ficamos inconformados com o mundo em que vivemos. Então exclamamos: – O ser humano é muito egoísta mesmo, alguém precisa mudar isto, as coisas não podem ficar assim. Nestas horas muitas pessoas, acreditando nada poder fazer, procuram mudar seus pensamentos e direcionar sua atenção para outras coisas mais alegres.
No fundo, não param para pensar que poderiam ajudar sem nem mesmo precisarem participar de qualquer entidade ou grupo assistencial. Como tantas anônimas já o fazem. Apenas com uma palavra de apoio, com um sorriso, um conselho, um aperto de mão. Quem sabe com uma ou outra idéia qualquer? Se ao menos as pessoas estivessem preparadas para compreender realmente o poder e a abrangência da oração… .
Nos surpreenderia descobrir talvez, que por detrás destas pessoas que muitas vezes tratamos como inferiores ou nocivas, já existiram sonhos, desejos e uma vontade tremenda de ser feliz. E eu pergunto: – O que nossa sociedade civilizada, culta e abastada tem feito para melhorar as coisas? Eu mesmo repondo, fizemos pouco ou quase nada efetivamente. Alguns dizem: – Não se preocupem que o furo é do lado deles. E muitos ingenuamente creditam como se não estivéssemos todos no mesmo barco.
Talvez se nos colocássemos no lugar de algumas pessoas que passam por uma avalanche de carências relativas à estima, à esperança, ao calor humano, à desconsideração, somadas às financeiras crônicas, passaríamos a ver o mundo de uma forma diferente.
Sei que isto não é fácil, mas se pudéssemos por alguns instantes desvelar o que seus pensamentos mais íntimos guardam com sete chaves, talvez encontrássemos cravadas em suas próprias carnes as palavras “eu preciso tanto de oportunidade… de incentivo… de valor… de horizontes… de consideração… de justiça, enfim, de esperança, e que as pessoas não me olhem com tanto desprezo”.
O problema é que muitas pessoas deixaram de acreditar que podem mudar o mundo, deixaram de falar o que pensam, deixaram de fazer o que é preciso, ficaram ocultas e ofuscadas pela “conformidade”. Pararam de acreditar nas pessoas, colocaram de lado os amigos, mudaram os hábitos, acharam mais fácil acreditar no que lhe dizem ser o melhor caminho. Não é preciso lutar, não é preciso criar, não é preciso questionar, não é preciso realizar.
Basta fazer de conta que nada está acontecendo, até o dia em que também for tirado do time, por falta de espaço, por falta de “grana”, por falta de interesse. Até se tornar um deles…Desacreditado, desesperado, sem amigos sem esperança, sem futuro.
Talvez se pensarmos que nunca seremos um deles, se torna mais fácil “né”? Por outro lado, fica uma dúvida no ar… Por que eles lá e nós aqui? Por quanto tempo? Seria um privilégio, um teste, uma provação? Não sei bem ao certo, mas é preciso encontrar o elo secreto desta corrente da vida. Talvez a hora exata ainda não chegou. Talvez já esteja dando os seus primeiros sinais e muitos ainda não possam ou não queiram perceber. Talvez alguns já perceberam e estejam trabalhando silenciosamente, sem glórias, reconhecimentos ou fama, construindo uma sociedade melhor e mais feliz para todos nós.
Busquemos alertar aos cegos – que do alto da escada acreditam dominarem o mundo – que a umidade e a ferrugem estão corroendo as bases do que os suporta e que todos estamos na mesma praça…no mesmo banco… no mesmo barco…!
Eduardo Klaue: Conselheiro Pessoal de Líderes Empresariais. Sócio nas empresas “Klaue Consulting” e “Klaue Corretora de Seguros”.
E-mail: eduardo.klaue@klaueconsulting.com.br