O clima adverso e a alternativa do confinamento de bovinos

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Dilceu Sperafico

Mesmo mantendo pastagens nativas ou cultivadas em 180 milhões de hectares ou apenas 21,8% do território nacional, em 2020 o Brasil detinha o maior rebanho bovino do planeta, com 217 milhões de cabeças, ou 14,3% do plantel mundial, ocupando a primeira posição do mercado internacional com exportações de 2,2 milhões de toneladas de carne ou 14,4% do total comercializado no período, o agronegócio brasileiro está inovando na atividade.

Para isso, está investindo na criação e/ou engorda de gado confinado, elevando a oferta de carne bovina, sem ampliar espaço utilizado no cultivo de pastagens, preservando florestas nativas e cultivadas e evitando perdas com estiagens no pasto. O empreendimento conta com o incentivo do aumento da demanda e do preço da proteína animal no mercado internacional, com cada vez maiores importações da China, retomadas recentemente.   

Conforme especialistas, produtores e dirigentes de entidades da pecuária, o confinamento de gado tende a crescer no País em 2022, com maior número de bois criados e/ou mantidos em pequenas áreas e alimentados em cochos.

Entre as explicações para a expansão do confinamento, estão a expectativa de elevação ainda maior no preço da arroba do boi no mercado internacional, com as exportações de carne crescendo muito, graças ao apetite dos principais importadores e pequena reação do consumo interno.

De acordo com dirigentes da Associação Nacional da Pecuária Intensiva, que reúne criadores de gado em confinamento, sete milhões de bovinos foram confinados em diversas regiões do País em 2021, recorde que superou em 800 mil cabeças os 6,2 milhões de animais mantidos em 2020. Para 2022 a previsão é de crescimento de 5,0% dessa técnica de engorda de bovinos.

De forma diferente do gado com engorda em grandes áreas de pasto tradicional, no confinamento os animais ganham peso alimentados somente com ração e feno no cocho, sem a necessidade de deslocamentos no campo.

Apesar do aumento do rebanho nos confinamentos, o setor de pecuária ainda enfrenta as incertezas e oscilações do mercado, devido à pequena oferta de animais para abate, como aconteceu no durante o primeiro semestre de 2021.

Além disso, a engorda do gado em confinamento tem custo maior, o que vem sendo minimizado com a adoção de tecnologia avançada. Ocorre que os preços da arroba de boi ou 15 quilos do animal vivo até vêm agradando pecuaristas tradicionais, mas as cotações de bezerros para reposição das cabeças comercializadas para o abate e os custos da alimentação dos animais confinados, têm atingido picos que desestimulam os investimentos, especialmente em fazendas de engorda com pouco recursos tecnológicos.

Esses avanços no manejo e trato dos animais têm permitido rentabilidade aos criadores de bovinos confinados, lhes garantido bons resultados, especialmente nos Estados do Mato Grosso, São Paulo e Goiás, onde os confinamentos se modernizaram e a atividade se transformou em sinônimo de lucro. É importante lembrar que o volume de animais tem aumentado ano a ano.

Outro fato que vem estimulando o confinamento é a insegurança do clima, como longas estiagens e/ou crises hídricas, que secam pastos nativos ou cultivados, dificultando a engorda do boi e reduzindo a oferta de gado para os frigoríficos, o que é fundamental para o abastecimento do mercado interno, mesmo com a redução da demanda devido aos reajustes nos preços da carne bovina.

O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

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