Setembro amarelo: temos feito o suficiente?

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Inicia-se mais uma campanha do “Setembro Amarelo”, tendo no dia 10 o maior foco, por ser o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. As ações neste mês estão voltadas para o debate e visibilidade da prevenção ao suicídio, e também para nos lembrar que devemos dedicar a nossa atenção diariamente para as pessoas que se encontram com o seu estado psíquico afetado. Destarte o seu propósito, o mundo atravessa outra adversidade: a pandemia de Covid-19, que também tem contribuído para a perda de vidas, aumento do desemprego, penúria e fome. Além disso, o distanciamento social afeta a saúde mental da população e deixa as pessoas mais fragilizadas. Nesse contexto, falar sobre a prevenção de suicídio, se realizada de forma positiva, pode evitar que o número de mortes desta causa aumente.

Nas ações, realizadas mundialmente, fala-se muito de suicidologia, estatísticas, teorias, valor da vida, etc. Entretanto, fica uma pergunta no ar sobre a eficácia das mesmas para a redução do número de pessoas que se auto exterminam, pois, observa-se a repetição da temporalidade de que a cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo; que o maior índice de suicídio ocorre na faixa de 15 a 29 anos e acima de 60 anos; e que os homens se matam mais que as mulheres.

Mantenho na Paróquia Nossa Senhora de Loreto, localizada no bairro carioca da Ilha do Governador, um grupo terapêutico aberto para as pessoas com ideação suicida, que se automutilem e/ou já praticaram um ou mais atos contra a vida aberto aos familiares. Até o momento, possuímos 196 pessoas em atendimento e/ou manutenção que já estiveram sob os cuidados da equipe de psicologia coordenada por mim. Entre as pessoas atendidas no grupo terapêutico, nenhuma delas conseguiu me dizer o que se comemora no dia 10 de setembro. Uma delas que nasceu neste dia específico me respondeu ser o dia de seu aniversário. Diante dessa constatação. Fico me perguntando se as campanhas de prevenção estão voltadas, também, para as pessoas que vivenciam diariamente situações limite e que a vida esteja por um fio.

Segundo a Fiocruz, no pós-pandemia de Covid-19 o número de pessoas com a saúde mental afetada irá aumentar. A pesquisa realizada no final de 2020, mostra que sintomas de ansiedade e depressão afetaram 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia de Covid-19, no Brasil. Podemos prever então que o número de mortes por suicídio também irá crescer. A dificuldade é mensurar a proporção. Portanto, falar sobre esse fenômeno se mostra fundamental e, também, uma revisão das campanhas para sensibilizar as pessoas que necessitam procurar ajuda e continuar a dizer sim para a vida.

A vida é o caminho: Seja Humano!

Psicólogo Sebastião Ferreira (CRP 05/38982)

@sebastiao.psicologia