As desigualdades do desigual

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Falar sobre as desigualdades num dos países mais desiguais do mundo não é tarefa fácil, muito menos para ser debatida em tão pouco espaço, entretanto, não há como não se revoltar diante de mais absurdos cometidos contra uma sociedade entorpecida frente aos desmandos cada vez mais comuns de uma classe que se sustenta por utilizar de um sistema que via de regra privilegia sempre aos mesmos. Não se trata aqui de fazer análises aprofundadas sobre ideologias ou defender mudanças radicais. São fatos que precisam, pouco a pouco, serem transformados se um dia sonhamos verdadeiramente com um país mais equilibrado.

Mas o desequilíbrio chega a tal ponto que é quase inimaginável sonhar com um imposto de 12% sobre a venda de livros num país onde duas das maiores editoras entraram recentemente em processo de recuperação judicial justamente por não suportarem a pesada carga tributária. O alerta veio em artigo assinado pelo escritor Raphael Montes, um dos nomes de uma nova geração de escritores brasileiros que cada dia menos sobrevive do seu próprio trabalho. Na prática, de acordo com a proposta de Reforma Tributária enviada pelo Governo Federal ao Congresso Nacional, o governo receberá mais dinheiro que o próprio autor da obra.

A proposta, claro, ainda será votada pelos congressistas, porém, este ponto dificilmente será alterado porque não interessa a quase ninguém, salvo aqueles que ainda acreditam na força de uma educação melhor para a verdadeira transformação da sociedade e do próprio país, algo que não motiva a esmagadora maioria. Livros são armas poderosas quando bem usados e, a proposta de reforma enviada pelo Governo Federal, a torna ainda mais inacessível a quem efetivamente precisaria dela para alterar o patamar onde hoje se encontra. Mais triste é saber que são as classes econômicas menos favorecidas onde estão os maiores consumidores de livros no Brasil. Nas classes C e D estão os leitores médios no país e também fora dos grandes centros. Estão em cidades como Toledo, onde investir em cultura não apenas é uma aventura, mas uma tarefa cara e pesada. Agora ainda mais.

#defendaolivro

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