Saudades e memórias

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O Dia de Finados transcende a simples condição de feriado ou costume religioso. É um momento solene e profundo à memória, um momento em que a saudade se veste de respeito e a reflexão sobre a finitude humana se impõe em nossa rotina.

Nesta data, para os que assim acreditam ser importante e necessário, as visitas aos cemitérios se tornam pontos de reencontro, de abraços silenciosos e de flores que simbolizam a permanência do afeto. Não estão celebrando a morte, mas honrando a vida que existiu e o legado que permanece. É a ocasião em que se interrompe a pressa do dia a dia para revisitar as lembranças daqueles que partiram — pais, filhos, amigos, mestres. Suas histórias, seus sorrisos e seus ensinamentos se tornam, mais uma vez, presença viva em nossos corações.

A dor da ausência é inegável, mas o Dia de Finados oferece uma perspectiva mais ampla: a de que o amor é a única coisa que a morte não pode levar. A saudade, essa palavra tão particular à nossa língua, é o preço que se paga por ter amado de verdade. E, ao aceitarmos essa saudade, transformamos a tristeza em um misto de gratidão e paz.

É também um dia para refletirmos sobre o nosso próprio caminho. A certeza da finitude deve nos inspirar a valorizar o presente, a sermos mais atentos aos “pequenos gestos cotidianos” para com aqueles que ainda estão ao nosso lado. Que tipo de memória queremos deixar? O que realmente é fundamental em nossa jornada?

Finados, em sua essência, é um ato de fé — seja ela religiosa ou na continuidade do laço afetivo. É a crença de que nada nem ninguém que amamos se perde completamente. E que, enquanto as lembranças durarem, a essência daqueles que se foram continuará a nos guiar, iluminando a nossa vida com a luz do amor que se fez eterno.

Portanto, que a data seja um dia de paz e de profunda gratidão pelas vidas que nos tocaram. Que a memória nos conforte e o amor nos fortaleça para seguirmos adiante. E que a oração de Santo Agostinho conforte o coração de todos.

“A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me dêem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo

no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir

daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo

o que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Porque eu estaria fora

de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho. Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi.”

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