Por que ignoramos a segurança no trânsito?
Estimated reading time: 3 minutos
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é um pacto social pela sobrevivência. Suas leis e regras, desde a mais simples (o uso do cinto) até a mais complexa (a preferência em rotatórias), foram concebidas com um único propósito: preservar vidas e garantir a fluidez e a segurança de todos os usuários das vias – motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. No entanto, a realidade diária nas ruas brasileiras é de um caos previsível, onde o desrespeito às normas não é a exceção, mas sim a regra.
A grande questão é: por que as pessoas não conseguem respeitar leis que foram elaboradas pensando na segurança delas próprias, e nada além disso?
Uma das razões mais profundas, infelizmente, reside em nossa cultura de privilégio e individualismo. No trânsito, o veículo é, muitas vezes, visto como uma extensão do espaço privado, uma “bolha” onde o indivíduo se sente no direito de exercer sua vontade, ignorando o espaço coletivo. O famoso conceito de levar vantagem em tudo se manifesta de forma perigosa: “é só uma paradinha rápida”, “não vai dar nada”, “se eu for, não me multam”. Essa mentalidade de que a regra existe para os outros, mas não para si, cria um ambiente de insegurança generalizada.
O respeito às leis é entendido como um ato de tolice ou lentidão, e não como uma virtude cívica essencial para a coexistência.
O desrespeito é alimentado pela percepção (e, muitas vezes, pela realidade) de impunidade. Quando a fiscalização é intermitente, lenta ou seletiva, a punição perde seu poder dissuasório. A ausência de uma consequência imediata e severa valida a infração como um risco que “vale a pena” correr.
Além disso, a crítica fácil à “indústria da multa” desvia o foco da irresponsabilidade individual para uma suposta perseguição do poder público. A multa, que deveria ser um lembrete da falha em proteger a si e ao próximo, é vista apenas como uma taxa arbitrária a ser contestada.
É preciso que as pessoas internalizem que o desrespeito a um sinal vermelho não é apenas uma infração administrativa, mas um ato de violência em potencial contra a vida de um pedestre ou de outros motoristas.
O cerne do problema é a falta de empatia. A lei de trânsito é a materialização da máxima “não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você”. Ao furar um sinal, estacionar em fila dupla ou dirigir alcoolizado, o indivíduo demonstra que sua conveniência momentânea vale mais do que a vida, a saúde e o tempo do outro.
Enquanto não houver uma mudança cultural profunda que eleve o respeito às leis de trânsito ao status de um valor inegociável, continuaremos a contabilizar perdas evitáveis. Afinal, as leis são a armadura da sociedade, e desrespeitá-las é atirar contra a própria segurança. A única razão para cumpri-las é a mais elementar: garantir que todos voltem para casa em segurança.