Contradição
 
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A política, em sua essência, deveria ser o campo da coerência, onde princípios e propostas se alinham para construir um futuro melhor. No entanto, o cenário que se apresenta frequentemente é o oposto. A contradição nas defesas políticas não é uma anomalia, mas sim uma marca constante, um grande incômodo que mancha a confiança pública e distorce o debate democrático.
Essa incoerência se manifesta em diversas frentes, desde o discurso até a prática efetiva das políticas públicas. Vemos políticos que brandem a bandeira do Estado Mínimo, mas não hesitam em utilizar verbas públicas ou defender privilégios corporativos. Testemunhamos, com frequência, a defesa fervorosa de pautas morais, enquanto ações e políticas concretas penalizam justamente os grupos que dizem proteger.
Um exemplo clássico e doloroso dessa contradição é o fenômeno do “voto contra o próprio interesse”, onde parcelas da população menos favorecida apoiam políticas que comprovadamente resultam na precarização do trabalho e na redução de direitos sociais. A Reforma da Previdência, citada em análises recentes, é um caso notório: ao dificultar o acesso à aposentadoria, atinge principalmente os mais pobres e informais, justamente aqueles que dependem da proteção estatal.
As contradições no discurso político também se tornam campo fértil para a polarização. A coexistência de uma defesa da liberdade de expressão com a proliferação de discursos de ódio e campanhas de desinformação no ambiente digital cria um paradoxo destrutivo. O que é vendido como defesa de um direito fundamental transforma-se em arma para a perpetuação da intolerância, minando a própria base de uma sociedade democrática.
O dilema é evidente: a política, por ser um campo de negociação de interesses, carrega em si uma tensão inerente. No entanto, quando a contradição se torna regra, e não exceção, e quando as ações governamentais sistematicamente prejudicam aqueles que se propõem a defender, o pacto social é rompido.
A superação desse cenário exige mais do que apenas a indignação. Requer do cidadão uma leitura crítica constante, que vá além dos slogans e da retórica vazia, para confrontar o discurso com a realidade dos fatos. É fundamental que a sociedade exija transparência e coerência de seus líderes, pois a verdadeira defesa política não reside em malabarismos retóricos, mas sim na capacidade de transformar promessas em políticas justas e equânimes.
