A palavra

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A comunicação, especialmente a jornalística, carrega um poder imenso: o de informar e auxiliar na formação de opiniões, nunca ser a opinião formada. No entanto, esse poder é uma via de mão dupla e a escolha cuidadosa das palavras é crucial para evitar a disseminação de ódio e negacionismo.
E pelo que estamos vendo, nem todos os colegas jornalistas tem cuidado com suas expressões e com a palavra utilizada para evitar propagação de ódio.
A palavra, quando mal empregada, pode se tornar uma arma perigosa. Em textos jornalísticos, a precisão terminológica é fundamental. O uso de termos vagos, carregados de emoção ou que sugerem falsas equivalências pode facilmente semear a discórdia e polarizar o debate. Por exemplo, rotular grupos inteiros com adjetivos pejorativos ou usar a ironia de forma irresponsável pode transformar uma crítica legítima em um ataque pessoal, incitando a violência e o preconceito.
Um comentarista, da sua opinião de forma aberta, ampla e as pessoas que irão ouvi-lo saberão para qual lado seu discurso vai e mesmo assim, normalmente, a responsabilidade da palavra propagada é a do próprio profissional que se declara “comentarista”.
Já o jornalista, esse tem a responsabilidade ética de serem imparciais e objetivos. A escolha de um vocabulário que sugere viés ou que favorece uma narrativa em detrimento de outra pode minar a credibilidade da notícia e, mais perigoso ainda, normalizar o discurso de ódio. O negacionismo, em particular, prospera em ambientes onde a linguagem é manipulada para distorcer fatos e criar realidades alternativas.
Em vez de usar palavras que dividem e polarizam, o jornalismo deve buscar um vocabulário que informe, esclareça e promova o entendimento mútuo. Isso não significa ser complacente ou evitar debates difíceis. Pelo contrário, significa abordá-los com a seriedade e a profundidade que merecem, usando palavras que reflitam a complexidade e a pluralidade da sociedade.
O rigor na verificação de fatos e a clareza na comunicação são as ferramentas mais eficazes para combater o negacionismo e falsas informações ou até mesmo a criação do ódio. Ao invés de simplesmente replicar o discurso de quem nega os fatos, a ciência ou a história, o jornalista deve contextualizar, desmascarar as falsas premissas e apresentar os fatos de forma inquestionável. Isso requer o uso de uma linguagem precisa, que não deixa espaço para interpretações errôneas ou manipulações.
O uso correto das palavras não é apenas uma questão de estilo ou gramática; é uma questão de ética e responsabilidade social.