Elétrico x Combustível

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A ascensão dos carros elétricos (VEs) é um fenômeno global inegável, e o Brasil, embora em ritmo distinto, começa a sentir os ventos dessa transformação. As novidades no setor são animadoras, com vendas crescentes e o anúncio de investimentos significativos. No entanto, o cenário da mobilidade elétrica em solo brasileiro ainda se choca com uma realidade econômica profundamente ligada ao petróleo, gerando um debate complexo sobre o ritmo e os desafios da transição energética.
Os números recentes demonstram um crescimento notável na venda de veículos eletrificados no Brasil. No primeiro semestre de 2025, por exemplo, mais de 30 mil carros elétricos já foram vendidos.
O governo brasileiro, por sua vez, tem demonstrado interesse em acelerar essa transição. O programa Mover, que prevê cerca de R$ 19 bilhões em incentivos fiscais para o setor automotivo até 2028, busca estimular a produção local de veículos sustentáveis e seus componentes, posicionando o Brasil no caminho da descarbonização. Além disso, há o objetivo de tornar o país um hub para a produção de baterias de lítio, aproveitando recursos naturais e buscando competitividade em uma das frentes mais estratégicas da mobilidade elétrica. Gostando ou não, essa é a regra que rege o país neste momento tendo também, do outro lado, as montadoras de carros movidos por combustível, fechando suas sedes no país. É uma balança econômica bem difícil de igualar no atual momento econômico.
Apesar do entusiasmo, é impossível ignorar que a economia brasileira ainda gira em grande parte em torno do petróleo. O país é um importante produtor e exportador de óleo e derivados, com a indústria extrativa desempenhando um papel fundamental na balança comercial. Dados recentes mostram o petróleo bruto como um dos principais produtos de exportação, o que evidencia a forte dependência econômica desse recurso fóssil.
Essa realidade cria um paradoxo. Enquanto o mundo caminha para a descarbonização e a redução da demanda por petróleo, organizações como a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) ainda projetam um aumento da demanda global, especialmente de países em desenvolvimento, defendendo a necessidade de investimentos contínuos no setor. Para o Brasil, com suas reservas de pré-sal e a robustez da sua indústria petrolífera, essa transição exige um equilíbrio delicado.
Ainda há desafios significativos para a ampla adoção de carros elétricos no Brasil. O custo elevado de aquisição, a infraestrutura de recarga ainda em desenvolvimento e a necessidade de aprimorar a autonomia e vida útil das baterias são pontos cruciais. A ausência de uma política federal mais abrangente e específica para a eletrificação dos veículos leves também é apontada como um entrave.
No entanto, a matriz energética brasileira, composta por mais de 90% de fontes renováveis, oferece uma vantagem competitiva para a eletrificação. Se a demanda por eletricidade para carregar os veículos for suprida por fontes limpas, o impacto ambiental será ainda mais positivo. A expectativa é que os carros elétricos representem uma parcela crescente da demanda energética do país nas próximas décadas.