Entre o fazer e o sentir
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Diz-se que dezembro não é apenas um mês, mas um estado de espírito. Ao entrarmos na semana que antecede o Natal, as redações, as ruas e os lares são tomados por uma dualidade quase palpável. De um lado, o frenesi pragmático: as listas de tarefas, as compras de última hora, o fechamento dos balanços e o planejamento da ceia. Do outro, um silêncio reflexivo que insiste em emergir em meio ao ruído.
Esta é a semana do “misto”. Sentimos o cansaço acumulado de doze meses de desafios, mas também a adrenalina da renovação. Há uma pressa em encerrar ciclos, como se o dia 25 de dezembro fosse a linha de chegada de uma maratona que testou nossa resiliência, paciência e humanidade.
Muitas vezes, a logística do Natal — o “fazer” — acaba por eclipsar o “ser”. Corremos contra o relógio para que tudo esteja perfeito à mesa, mas a verdadeira perfeição da época reside justamente nas imperfeições que o afeto abraça. O Natal nos convida a uma pausa que a vida moderna tenta proibir. É o momento de olhar para o lado e reconhecer, no rosto do outro, as mesmas lutas e as mesmas esperanças que carregamos.
Olhar para o ano que se finda é um exercício de coragem. Revisitamos perdas, celebramos conquistas que pareciam distantes e, acima de tudo, constatamos que sobrevivemos. A emoção que transborda nesta época não é apenas pelo simbolismo da data, mas pelo reconhecimento da nossa própria trajetória. Cada luz acesa em uma varanda é, no fundo, um sinal de que a esperança ainda ocupa espaço em nossos corações, apesar de todas as estatísticas em contrário.
Nesta semana, o convite do Jornal do Oeste é para que o leitor não se perca apenas nos afazeres. Que haja espaço para a contemplação. O que realmente levamos deste ano? Quais abraços ficaram pendentes e quais palavras de gratidão ainda podem ser ditas antes que o calendário vire?
Que a correria dos próximos dias não nos roube a capacidade de nos emocionarmos com o essencial. Que o Natal seja menos sobre o que está sob a árvore e mais sobre quem está ao redor dela — ou presente na memória viva de quem amamos.
Um bom período de reflexão a todos.