O que tem cansado você?

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Era uma oficina de Comunicação Não-Violenta e Inteligência Positiva a partir da Espiritualidade. Como tarefa, cada participante fez a leitura prévia de um texto e realizou um exercício preparatório para o primeiro encontro. A leitura do texto deixaria todos com um entendimento comum sobre Comunicação Não-Violenta e Inteligência Positiva. As divergências seriam bem-vindas, porém todos estariam num mesmo ponto de partida. O exercício proposto ajudaria a que cada participante identificasse os principais sabotadores, nossos inimigos internos. O encontro começou animado e cada participante compartilhava os resultados dos exercícios com a identificação dos sabotadores. Para todos fazia sentido, porém, havia uma senhora que estava quieta e com cara de poucos amigos. Por fim, de forma abrupta ela falou:

– Não, não concordo com os meus resultados. Isso não está certo. Eu não tenho os sabotadores que me aparecem.

Todos esperavam a continuação da participação dela:

– Os resultados dizem que sou controladora e inquieta. Esse resultado não mostra quem eu sou…

Ela continuou dando detalhes dos resultados e das variáveis envolvidas. Deu exemplos de como gostava de organizar as coisas, além das muitas vezes que não terminava os cursos nos quais se inscrevia porque acreditava que não tinham muito a oferecer. Havia agressividade na sua forma de se expressar. Ninguém disse nada, porque explicitamente se manifestavam os seus sabotadores: o controlador e o inquieto. O controlador, aliado ao Crítico, apontava as distorções do resultado do teste de avaliação que havia feito. Não estava no seu controle, por isso o controlador interno reclamava. Ela ainda demonstrava alto grau de ansiedade ao entender que o resultado não se ajustava a sua auto percepção. Além disso, o inquieto revelava de maneira ameaçadora que se o curso não se estruturasse como imaginado, ela o abandonaria. Era o inquieto que já buscava outra atividade e, sob a batuta do crítico, mostrava-se impaciente, com medo de usar seu tempo em algo que não valesse a pena. Em seguida, silêncio absoluto. Ela pensava e parecia que percebia que a sua discordância com os resultados somente ratificava os sabotadores que ela acreditava não ter: o controlador e o inquieto. Era uma pausa que permitia a reflexão. A reflexão a levou ao discernimento. O discernimento facilitou que ela observasse e registrasse os sentimentos que estavam vivos nela. Nesse momento, de forma natural e espontânea ela nos deu um exemplo factual do processo que junta as abordagens da Inteligência Positiva e da Comunicação Não-Violenta. Por um lado, houve a identificação dos sabotadores. Por outro lado, a prática da Comunicação Não-Violenta ao observar sem julgar com a coragem de registrar os próprios sentimentos. Ela seguia processando o ocorrido a partir de uma citação bíblica que dizia: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mt, 7, 1). O silêncio a ajudava.

Por fim, veio a constatação:

– Caramba, eu sou controladora e inquieta. Os meus sabotadores são reais.

Ela finalmente relaxou e riu. Em seguida, expressou as suas necessidades de ordem e de sentido, além das necessidades de aprendizagem e de realização. Os sabotadores se manifestavam com falsas justificativas que a levariam a não atender as necessidades ao não concordar com os resultados, além de sugerir que abandonasse a oficina. Por isso, com a identificação dos sabotadores pela Inteligência Positiva e com o passo a passo da Comunicação Não-Violenta ela pode pausar, observar sem julgar, registrar os sentimentos, identificar as necessidades e adotar as estratégias para atendê-las. Confessou que ela estava cansada de não estar satisfeita com aquilo que fazia, por isso saltava de uma experiência à outra. Revelou que não aguentava mais se fazer responsável por si e pelos demais. Depois disso, ela foi uma participante ativa, dedicada e comprometida com a oficina. Ao final da oficina ela estava cansada e feliz como nunca antes na vida. Era o cansaço do bem.

O que tem cansado você?

Moacir Rauber

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