O que você tem celebrado?

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Naquele dia nos encontramos com atraso. Ao perguntar-nos como chegávamos, apareceram palavras como acelerado e ansioso, ainda que tenham sido citadas a esperança e a confiança. Como estávamos atrasados, fomos direto ao trabalho. Começamos a leitura conjunta para revisar a versão final de um dos capítulos. Um queria uma palavra para expressar determinada situação e o outro outra. Não houve acordo, assim estávamos num impasse em que sentimentos de irritação emergiam. Olhamo-nos, até que um disse:

– Não fizemos a nossa oração das intenções hoje, não é?

– Verdade!

Paramos o trabalho, fizemos a oração em que pedimos clareza e iluminação para reconhecer a nossa humanidade compartilhada na compaixão; e pedimos a graça de compreender o que não entendemos e agradecer com a capacidade de escutar-nos mutuamente. Finalizamos a oração e decidimos encerrar as atividades naquele dia. Cada um foi para o seu lado para reencontrar-nos no dia seguinte. Fizemos uma Pausa para avaliar quais eram os Fatos por detrás dos Sentimentos e qual o significado do impasse em que nos encontrávamos. Quais eram as necessidades ocultas no impasse? Naquele momento não estava claro.

Um trabalho em equipe envolve pessoas com diferentes visões de mundo, por vezes antagônicas, com valores e necessidades individuais dos integrantes. No nosso caso, éramos duas pessoas produzindo um livro com ferramentas para melhorar as relações pessoais e de trabalho. Ainda assim, entramos numa zona de conflito em que discutimos, debatemos e disputamos sem conversar. Entendemos aqui a discussão e o debate como a pretensão de querer impor a própria opinião sobre o outro. Quando alguém consegue convencer o outro, ainda que de forma pacífica, a hierarquia na relação muda, porque um se sobrepõe ao outro e a conversa não é mais entre iguais. Queríamos conversar no sentido de versar sobre um assunto no mesmo canal, o livro. Porém, algo aconteceu em que a posição pessoal de cada um se manifestava de maneira a se sobrepor aos interesses maiores. Caso usássemos palavra A ou B naquele ponto do livro, o resultado não mudaria, entretanto cada um havia fincado o pé na sua escolha. Por isso, repetimos a pergunta: quais eram as necessidades pessoais que não estavam sendo atendidas naquele momento de impasse? Provavelmente não eram necessidades, talvez a vaidade individual de querer se validar frente ao outro. Nesse momento, entrávamos numa disputa, que no latim significa dis (separação) e putãre (pensar). Começávamos a separar o nosso pensamento debatendo competitivamente numa discussão em que somente haveriam perdedores. Ao constatar que não havíamos feito a oração que guiaria as nossas intenções e as nossas ações, recuperamos a possibilidade do diálogo. Ao fazer uma pausa consciente, tivemos o tempo necessário para distinguir o que era importante na situação. Provavelmente, cada um de nós fez um pequeno luto tragando a vaidade, o orgulho ou outro sentimento, para no dia seguinte nos encontrarmos com a disposição de conversar. As nossas necessidades, possivelmente, eram de reconhecimento ou de aceitação entre nós. Depois do luto, tivemos a oportunidade de celebrar.

Celebrar o quê? O impasse em si não foi razão para celebrar, entretanto, o ato de parar para ampliar a consciência nos deu esse motivo. Acreditamos que seja importante fazer o luto quando temos uma necessidade não atendida, porém, abraçamos a ideia de que a iniciativa de celebrar as pequenas conquistas diárias nos levam aos grandes resultados. Fizemos o luto pelo impasse, contudo, no momento em que escolhemos a conversa como estratégia para resolvê-lo, abrimo-nos para o mundo das possibilidades. Disso vem o real motivo para celebrar, que é a sabedoria de não cair na armadilha dos debates em busca de uma vitória e das discussões que competem, porque ambas levam a uma disputa que separa. Celebramos a capacidade de fazer uma pausa para observar sem julgar, registrar os sentimentos e identificar as necessidades que nos manteve no caminho da comunicação que afeta com afeto. Conversamos e saímos melhores como pessoas e entregamos um capítulo mais bem elaborado do livro. Bons motivos para celebrar.

Você tem celebrado? Quais motivos?

Moacir Rauber

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